Mãe do Chris.
No outro dia.
Desliguei o chuveiro e deixei a água quente cessar como um suspiro. Enrolei uma toalha felpuda ao corpo, senti o vapor ainda pairando no espelho e, por um instante, o mundo reduzido ao cheiro de sabonete e ao calor da toalha contra a pele. Caminhei até o closet com passos retos e programados — cada gesto era ensaiado como se preparasse um personagem para subir ao palco. Escolhi um conjunto de lingerie de renda roxa; a cor me pareceu apropriada: aos poucos, mais viva do que eu me sentia por dentro. Vesti em seguida um vestido preto de tecido encorpado que obedecia às minhas curvas sem esforço, um couro frio que disfarçava as feridas antigas.
Soltei o coque que fizera para não molhar e deixei os fios caírem, arrumei-os com as pontas dos dedos. Diante da penteadeira, soprei uma camada de pó, passei um gloss de cereja — um gesto de vaidade e de defesa — e confirmei no espelho a fisionomia cuidadosamente montada: olhos atentos, lábios firmes, a máscara pronta. S