O medo tem um gosto metálico. É o que senti na boca enquanto o carro preto, com Marcos ao volante, deslizava pelas ruas molhadas, levando-me para longe do estacionamento subterrâneo da Lobo Holding. O cheiro do perfume de Viktor Salles — amadeirado, caro, invasivo — parecia ter impregnado o ar dentro do meu próprio pulmão. Esfreguei as mãos nos braços, tentando apagar a sensação daquela proximidade forçada, daquela ameaça velada em forma de sorriso.
Mal cruzei a porta do apartamento, meu celular pessoal tocou. Dr. Elias.
— Clara, preciso falar com você — a voz dele, normalmente tão serena, carregava um fio de tensão. — A clínica onde Lara faz a fisioterapia sofreu um… incidente hoje à tarde. Um curto-circuito no quadro de energia da ala de terapias. Ninguém se feriu, a Lara não estava lá, mas os equipamentos de neuroestimulação foram atingidos. A ala está inoperante.
O chão pareceu ceder levemente sob meus pés. Apoio--me na parede da cozinha, a tinta gelada um contraste brutal com o c