O silêncio aqui dentro tem peso. É uma coisa grossa, pesada, que enche o ar e faz a respiração ficar curta, difícil. Meus olhos não param. Eles correm, desesperados, pela linha onde a parede bege encontra o chão cinza. É uma linha perfeita. Reta, limpa, inquestionável. Prefiro mil vezes focar nela do que olhar para os rostos ao meu redor – a mulher com os olhos inchados e vermelhos, o homem balançando o joelho num ritmo louco, a garota jovem mordendo as unhas até sangrar, sem nem perceber. A linha não sofre. A linha não sente dor. Ela simplesmente está ali, firme, enquanto tudo desmorona.Minha irmã Lara está atrás da porta dupla, com aquele símbolo de raio azul estilizado. “Eletroencefalograma de Longa Duração”, diz a placa. Um nome bonito, técnico, para um procedimento que vai mapear as tempestades elétricas que acontecem dentro do seu cérebro. “Crises de ausência”, é o que o médico diz. Momentos em que ela simplesmente… apaga. Some. E volta alguns segundos depois, confusa, perdida,
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