A caneta desliza sobre o papel com um ruído surdo, final. Um risco de tinta azul, meu nome, sob a linha que diz “Parte Contratante B”. Não é uma assinatura, é uma cicatriz. O som do metal do corpo da caneta batendo na mesa ecoa na sala silenciosa, um ponto final no mundo que eu conhecia.
Dante pega o documento. Seus olhos percorrem a minha assinatura, como um perito avaliando a autenticidade de uma nota falsa. Ele não sorri. Não acena. Apenas pega sua própria caneta — uma peça de prata gravada — e assina, com um traço firme e impiedoso, ao lado do seu nome. “Parte Contratante A”.
O silêncio que se segue é mais espesso que antes. O ar está carregado de cheiro de tinta, de couro caro e da enormidade do que acabamos de fazer.
— Heloísa — ele diz no interfone, a voz de volta ao tom habitual, seco, de comando. — Peça ao Dr. Tavares que suba. E traga as testemunhas padrão.
Dr. Tavares. Meu antigo chefe. A ironia é um gosto amargo na minha boca. O homem que me dispensou por “cortes orçamentá