Capítulo 3
— E-eu... eu assino.

As palavras saíram com dificuldade. Eu só queria continuar viva. Tive que ceder.

Depois que aceitei, o rosto de Thales suavizou.

Ele me trouxe um copo de água morna, me deu o remédio — e ainda, como se fosse um gesto de cuidado, ofereceu um doce logo depois.

Ignorei completamente essa falsa compaixão.

Assim que tomei o remédio e recuperei um pouco do fôlego, corri até o chão coberto de cacos.

A tristeza me engoliu de vez.

Com as mãos trêmulas, juntei cada pedaço rasgado da foto. Peguei um saquinho pequeno na mala e guardei tudo ali com cuidado.

Minha mãe tinha morrido quando eu ainda era pequena.

Foi uma recaída da mesma doença do coração que eu tinha, congênita.

Naquela época, meu pai ainda estava começando do zero, sem dinheiro pra garantir o tratamento adequado. Se sentia culpado por não ter conseguido salvar ela.

Depois que descobri que também herdei o problema, ele passou a trabalhar sem descanso, dia e noite, só pra garantir que eu tivesse uma chance melhor.

Era a forma dele de compensar. E de tentar se redimir.

Mas o destino foi cruel.

Depois de anos de esforço, o corpo dele não aguentou, e ele também se foi. Antes de partir, confiou a mim à única pessoa da empresa em quem ele acreditava.

Fez disso um acordo: me proteger, em troca de poder e participação na empresa.

Essa pessoa era Thales.

E foi assim que ele me protegeu.

Mesmo vendo a minha dor, ele ainda achou espaço pra debochar:

— Tudo isso por causa de uma foto? Jura?

Guardei as coisas com calma. Quando me virei pra ele, já não havia mais nenhuma expressão no meu rosto.

— Minha mãe não gostava de tirar foto. Meu pai vivia ocupado. Essa é a única imagem que tenho dos três juntos.

Thales pareceu surpreso por um momento. Mordeu o lábio, desconcertado:

— Você nunca me contou isso...

Lancei um olhar frio, sem vontade de discutir.

Mas ele não suportava me ver daquele jeito. Me puxou do chão e me arrastou até o quarto, me jogando em cima da cama.

Quando percebeu que eu mantinha os olhos baixos, sem encarar ele, Thales pareceu finalmente notar que tinha passado dos limites.

Estendeu a mão até o meu rosto, talvez querendo me consolar.

Mas assim que se aproximou, afastei a mão dele com um tapa seco.

O rosto dele fechou na hora. Não tentou mais me convencer.

Achou que eu ainda estava fazendo birra. Sem dizer nada, empurrou mais uma vez o contrato de transferência de bens na minha direção, junto com a caneta preta.

— Assine. Eu levo você pra restaurar a foto.

Dessa vez, não discuti. Peguei a caneta e escrevi meu nome no contrato, em silêncio.

Aquele jogo sujo — bater com uma mão e oferecer consolo com a outra — me dava náusea.

Se ele tivesse conversado direito, eu teria assinado do mesmo jeito.

Até porque o dinheiro já estava todo fora do país. O que ele tinha nas mãos era só um pedaço de papel vazio.

Eu só não esperava que Thales fosse recorrer a métodos tão baixos.

Será que ele não sabia que um contrato assinado sob ameaça podia ser anulado?

Só entendi o plano quando ele mencionou o casamento.

Os olhos cheios de cálculo fingiam afeto enquanto ele soltava a próxima frase, com um tom ensaiado:

— Amanhã é o nosso casamento. Que tal irmos registrar tudo hoje mesmo? Assim você vira oficialmente minha esposa.

Levantei os olhos e encarei ele, sem rodeios:

— É porque, depois de casado, tudo isso vira "conflito conjugal", não é?

— Você ainda está brava? — Thales franziu a testa, incomodado com minha resposta.

Ele odiava quando eu não concordava com ele.

— Só fiquei nervoso porque você não estava do meu lado. E, convenhamos, depois que casarmos, o seu dinheiro é o meu dinheiro. Qual é o problema de assinar um papel? Se você pensasse um pouco em mim, não teria vendido as ações escondida.

— Marido e mulher são uma unidade! — Ele gritou. — E você escondeu o dinheiro de mim pelas minhas costas. Eu só te dei uma punição, mais nada!

Quis retrucar, mas ele passou a mão nos meus cabelos com força, tentando forçar um carinho. Depois segurou meu rosto entre as mãos e me encarou, fingindo seriedade:

— Eu não ia deixar você morrer de verdade. Então, a culpa é sua.

Ao ouvir isso, deixei o corpo cair de volta na cama, exausta. Nem forças pra discutir eu tinha mais.

Como é que eu nunca tinha percebido o quanto ele podia ser tão desprezível?

Lembrei do começo, quando nos conhecemos.

Ele era tão atencioso. Me acompanhava nas consultas, ficava comigo nos exames, saía na chuva pra comprar meus remédios.

Mesmo com o trabalho lotado, bastava um telefonema meu e ele aparecia.

E com meu pai confiando tanto nele, era natural que eu tivesse simpatia.

Mas agora, depois de saber daquilo com a Vitória, tudo ficou claro.

A maneira como ele foi ficando cada vez mais cruel...

Tudo começou no momento em que percebi: cada vez que eu cedia, ele avançava mais.

O silêncio pareceu incomodar Thales.

Impaciente, ele resmungou:

— Já que você não quer registrar agora, então fica aqui até o dia do casamento. Depois, a gente resolve.

Não entendi o que ele queria dizer com aquilo até ouvir a fechadura girar do lado de fora.

Na mesma hora, pulei da cama e corri até a porta.

Girei a maçaneta com força. Estava trancada.

O pânico apertou no peito. Bati com força na madeira, gritando:

— Thales! É isso? Você tá com medo que eu denuncie você, por isso me trancou aqui? Eu não vou te denunciar! Só me deixa sair!

Se eu demorasse mais, meu voo seria cancelado.

Eu não queria perder mais um segundo com ele. Não queria fingir mais nada.

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