O caminho de volta para São Paulo era silencioso, mas a minha mente gritava. Cada quilômetro percorrido parecia carregar o peso de um passado que eu não queria enfrentar, e de um presente que não planejei. Cuidar dos três irmãos jamais esteve nos meus planos, mas em nenhum momento cogitei delegar essa responsabilidade. Eles estavam nas minhas terras. Sob a minha proteção. Se eu tivesse ido antes até lá... talvez tivesse impedido tudo. O sofrimento. A dor. A brutalidade.
Principalmente a dela.
Esther.
Seus olhos escuros como um lago profundo, com o brilho opaco de quem já chorou demais. A pele alva contrastando com as feridas cravadas nos tornozelos, que eu temia deixassem cicatrizes permanentes. Seu corpo pequeno, frágil como porcelana rachada, despertava em mim algo primal - um instinto feroz de protegê-la, mesmo que isso significasse atravessar meus próprios fantasmas.
Talvez fosse culpa. Talvez fosse arrependimento. Ou só uma forma maldita de me punir por não ter conseguido salvar P