Eu não acredito em destino. Nem em acaso.
Acredito que certas pessoas cruzam nosso caminho porque precisam. E não - não estou culpando a vítima.
Só entendo, com mais clareza agora, que fases se formam à medida que o caráter se molda e nossas armaduras, forjadas na dor, se tornam escudos invisíveis.
Desde menina, cresci ouvindo as histórias corajosas dos meus pais - como fugiram apenas com duas malas, coragem e o dinheiro da demissão do meu pai.
Com aquilo, ele comprou madeira, cimento e esperança.
Mesmo morando longe de tudo, ele nunca parou: limpava um quintal aqui, consertava uma cerca ali.
E mesmo com tão pouco, jamais faltou comida.
Nossa horta era viva, como minha mãe costumava dizer - e ela a regava com a mesma delicadeza com que cuidava das flores.
Faz anos que não vejo as orquídeas dela.
Roxas, rosas, amarelas.
Geraldo as arrancou e jogou for a depois de matá-la, como se pudesse apagar qualquer vestígio dela da terra.
Mas ainda sinto o perfume.
Ainda vejo as cores com os olhos