Aos 20 anos, Lorena Ávilla ainda permanecia de pé. Em um mundo tomado pelo caos e destruição após apocalipse zumbi, eram os poucos que ainda permaneciam de pé, ao mesmo tempo em que lutavam pela própria existência miserável e frágil contra os mortos que voltaram a caminhar sobre a terra. Já não havia mais misericórdia, compaixão ou bondade em quem ainda respirava, apenas a sede em sobreviver. Eliminar para existir, essa era a lei dos mais fortes. "Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite. - Clarice Lispector."
Ler maisPrólogo.
Desespero.
Era o único sentimento que me dominava, naquele momento, enquanto yo lutava com os meus últimos resquícios de força e lucidez para sobreviver e alcançar a superfície. Contudo, todas as tentativas estavam sendo débeis e inúteis, ao mesmo tempo em que sentia o meu corpo pesar e afundar ainda mais para a profundeza das águas gélidas, turvas e violentas do rio Murky Waters.
Medo.
Tentei mover os braços e pernas em direção a luz embaçada sobre a minha cabeça, que ficava cada vez mais distante, contudo falhei miseravelmente de novo. A minha mente estava ficando esquisita de uma forma inexplicável e desconhecida por mim, assim como sentia a minha garganta queimando demasiadamente. O pouco ar começou a acabar na medida em que o meu corpo morria com mais velocidade e sem controle nenhum por mim.
Inconsciência.
Yo queria lutar, me agarrar com desespero ao meu último suspiro de existência e continuar viva. Entretanto, sabia que era o meu fim. Já não existia mais nenhuma força no meu corpo ferido, exausto e tomado por uma terrível hipotermia. Inúmeras vezes, lutei e nadei contra as correntezas violentas do rio, durante ao tempo em que o meu corpo era lançado para todos os lados como se fosse de uma boneca velha de trapos. Minha mente ia apagando com rapidez assim como as minhas investidas de alcançar o topo. Por fim, apenas sentia a inconsciência chegando, como a ceifadora da minha curta vida, com um sorriso temeroso e impetuoso.
Então, era assim a morte por afogamento?
No! Esse não seria o meu fim!
A morte me fitava com os seus olhos vazios, sem mais nenhum resquício de humanidade e totalmente irracionais. O seu caminhar era vacilante e lento, contudo as suas pernas podres continuavam trazendo a carcaça ambulante, sem um dos braços e parte do estômago pendendo para fora do seu abdômen, na minha direção. A sua boca, com enormes dentes amarelos, abriu-se em um grunhido animalesco e o cheiro fétido alcançou-me como um aviso mórbido de que aquela praga, que um dia fora uma pessoa como yo, poderia me condenar a ter um final como o seu e me tornar uma morta viva.
Como yo poderia me tornar uma deles se a minha alma havia sido assassinada e morta meses antes?
Um sorriso sem vida nasceu nos meus lábios, enquanto bradava a minha katana no ar, antes de cravar a lâmina afiada e polida na cabeça da zombie sem hesitar, eliminando-a logo em seguida.
O apocalipse zumbi abateu todo o planeta como uma praga destruidora que era, deixando apenas os mais fortes de pé enquanto os mais fracos eram extintos e retornavam a ‘’vida’’ como seres irracionais, perigosos e mortais. Agora, quem perecia de qualquer forma, poderia ser transformar em um morto vivo.
Apenas a lei dos mais fortes existia, e yo era uma renascida das sombras.
Epílogo.Sentimentos conectados.21 de outubro, 2020.Quando yo afirmava que a vida era uma vadia desalmada, jamais fora da boca para fora. La puta mierda! Depois de dois anos que tive o meu coração partido e magoado pelo meu primeiro amor, veio o apocalipse zumbi um tempo logo em seguida e perdi partes importantes da minha vida durante a minha trajetória como peregrina solitária. No entanto, como um raio de sol em meio a escuridão, o meu caminho se cruzou com o de Melissa quando eu menos desejava ou sequer pensava em criar laços mais uma vez.Por mais que eu tivesse tentado lutar contra e reprimir cada sentimento, foi fácil me apaixonar por Melissa Campbell. Amá-la louca e perdidamente ainda mais. Infelizmente, tive que tê-la praticamente morta em meus braços para perceber a quão tola
Capítulo 24.Destinos entrelaçados.I Por Melissa Campbell IQuantas vezes uma única pessoa conseguiria resistir e sobreviver aos próprios demônios sem cogitar a hipótese de desistir em algum momento?Eu nunca saberia dizer.— Você pode cair e chorar inúmeras vezes, porém irá se erguer em todas, minha pequena. A vida pode ser cruel demais com quem tem o coração tão bom como o seu... — Ela pausou, pensativa. — Só que nunca nada poderá mudar a sua essência, quem você é de verdade, Melly. — Completou, por fim, com um sorriso largo que transbordava toda a certeza de cada palavra dita por si mesma.Infelizmente, essa foi a última coisa que a minha mãe havia me dito antes de ser assassinada juntamente da sua espos
Capítulo 23.Laços do passado.Era como se o próprio criador de tudo e todos, como sempre ouvi inúmeras pessoas afirmarem com tanta veemência em quase toda a minha existência, tivesse a enviada à terra especialmente para fazer parte do que restou da minha vida como a mais bela e encantadora dos anjos do senhor, após o apocalipse zumbi. Ela era o raio de luz, a fé e a salvação da minha profunda solidão, quem me resgatou minha própria desgraça quando yo menos esperava ou sequer desejava.Melissa era mi angél.Os longos e lisos fios acastanhados do seu cabelo estavam esparramados sobre a fronha branquíssima do travesseiro, enquanto o seu corpo repousava como se estivesse tomada por um terno sono sobre a maca hospitalar na enfermaria da comunidade. A sua expressão era relaxad
Capítulo 22.Em seus braços mais uma vez.06 de outubro, 2020.Era como se yo estivesse à deriva e perdida enquanto flutuava por águas jamais vistas por mim anteriormente. Presa em um sono semiconsciente, uma vez que tinha leve percepções de certos e pequenos detalhes ao meu redor. Contudo, não conseguia despertar completamente e tirar a minha mente da letargia que me prendia aquele estado perturbador e apavorante.Era torturante simplesmente desejar poder abrir os meus olhos, mas não conseguir mover um misero dedo.Yo sentia o calor dos cobertores que me aqueciam, a maciez do lençol sob as pontas dos meus dedos e um toque morno sobre minha bochecha esquerda. Tudo estava confuso e nublado dentro da minha cabeça lenta, assim como as minhas lembranças eram apenas borrões escuros e d
Capítulo 21.O que é realmente amar outro alguém?05 de outubro, 2020.Após, perder as pessoas que yo mais amava e renascer das sombras, decidi seguir com a minha vida como uma peregrina solitária. Era simples e prático o meu plano número um: nunca mais criar nenhum tipo laço. Seria apenas a solidão, o extinto de sobrevivência e eu andando sem rumo ou qualquer perspectiva de algo grandioso no futuro, afinal o apocalipse zumbi havia de fato acontecido e era a dura realidade daqueles que ainda permaneciam de pé. Literalmente, vivos.Por assim, existi por mais de dois anos.Caminhei pelas sombras, ocultando-me dos olhos dos vivos, fiz da floresta a minha morada e passei por lugares que nem mais me recordava os seus nomes. De certa forma, eu tinha me acostumado em ser só e nunca ter um
Capítulo 20.Histórias não contadas.04 de outubro, 2020.I Na noite anterior I— Obrigada. — Melly soltou, repentina, com a voz não passando de um sussurro delicado e calmo, rompendo o tranquilo silêncio entre nós duas.Ainda encarando o teto na semi escuridão, enruguei as sobrancelhas em confusão.— Pelo que? — Questionei, em seguida, com a minha voz saindo mais rouca que o normal.— Por ter me dado a chance de realizar um sonho tão bobo, mas que tinha um peso enorme para mim. — Esclareceu e, em um toque mais íntimo, entrelaçou as pontas dos seus dedos aos meus. — Boa noite, Lorena. — Desejou, por fim.De um jeito até bom, a noite estava sendo mais quente que as anteriores, o que nos permitiu vestir roupas mais leves e menos sujas das nos
Último capítulo