Lute como uma garota do UFC.

Capítulo 2.

Lute como uma garota do UFC.

03 de outubro, 2017.

Repentinamente, a lanchonete havia sido preenchida por clientes, e a minha tarde de tédio indo embora na mesma velocidade. Yo me movia por entre as mesas com agilidade, enquanto distribuía sorrisos falsos e simpatia forçada para algumas pessoas mal-humoradas que sequer fitavam o meu rosto para retribuir o meu cumprimento antes, verdadeiramente, alegre.

— Vocês viram o vídeo que mandei no grupo? — Questionou um adolescente animado. Ele mostrava o celular para os seus outros dois amigos que estavam sentado na sua frente. — Será mesmo que o cara estava comendo literalmente a mulher viva? — Murmurou, assustado, atraindo ainda mais a minha atenção para o trio.

Vi de esguelha a garota revirar os olhos, com uma expressão explicitamente tediosa, e lançar um olhar de desprezo na direção do mesmo adolescente que ainda tinha o aparelho caro em mãos.

— Você deveria parar de ver essas porcarias de séries e filmes sobre zumbis. — Revirou os olhos. — Principalmente, em acreditar nesses vídeos falsos, Kellan. — Ela continuou e levou o copo de suco aos lábios. — Caso tenha esquecido, isso tudo é apenas uma tentativa de deixar a população horrorizada e transtornada como os noticiários vem nos alertando. — Lembrou, convicta.

Houve um curto momento de silêncio entre o trio, porém logo o outro adolescente interrompeu:

— Então, por que esses vídeos estão sendo supostamente filmados em outros países e continentes também, Bella? — Sussurrou, com seriedade, deixando-me mais concentrada com o rumo da conversa alheia. — Não estou afirmando ou concordando com nada, mas penso que é um assunto que devemos prestar mais atenção. — Ajeitou-se no seu assento, colocando os cotovelos sobre a mesa, e apoiou o queixo sobre uma palma. — Está rolando uns supostos vídeos de pessoas comendo outras à luz do dia vindo da América do Sul, assim como da Europa também.

Mais uma vez, ficaram em silêncio. Terminei de passar o pano úmido sobre a mesma e juntei o lixo deixado na bandeja, encaminhando-me em direção ao balcão logo em seguida. Era impossível não me sentir bastante pensativa sobre os vídeos, uma vez que pareciam ser bem reais mesmo que sempre fossem gravados por amadores. E se um apocalipse zumbi explodisse a qualquer momento de verdade? Porcaria! Eu tinha que parar de ler histórias sobre o assunto assim como interromper o meu consumo em séries e filmes, pois estava me deixando mais ansiosa e com a mente fixada no assunto tempo demais.

Porém, yo amava tanto The Walking Dead.

Meu olhar estava fixo no chão branco e brilhoso, contudo ainda perdida e concentrada nos meus próprios pensamentos bem fantasiosos nas últimas semanas, o que era péssimo porquê yo ficava absolutamente distraída.

Levei um susto quando o meu corpo bateu em uma barreira dura e a bandeja em minhas mãos caiu em seguida. O som irritante do metal tocando no chão, fez-me fechar os olhos e praguejar mentalmente por ser tão distraída. Forcei um sorriso e abri-os pronta para pedir desculpas, no entanto voltei a ficar séria quando Pietro entrou no campo de visão. Ele tinha um sorriso debochado no rosto, e arquei as sobrancelhas em resposta.

Definitivamente, mi abuela teria que me defender caso yo fosse presa por socá-lo.

— Não olha por onde anda, garota?! Está cega por acaso?! — Pietro rosnou, em tom alto e irritado, atraindo atenção da lanchonete na nossa direção. — Lhe fiz uma pergunta! — Insistiu, quando fiquei calada.

Ainda encarando-o com seriedade, comecei a contar mentalmente para não ceder a vontade de amassar o rostinho de bebê do filho mais velho do prefeito. Pietro era o típico babaca do time, capitão e pegador. Seria, apesar de tão patético, bem satisfatório se parasse nesse ponto, contudo o desgraçado era o típico popular que fazia bulliyng com os mais ‘’fracos’’ por não ter ninguém que colocasse limites nas suas atitudes nojentas. Nem mesmo o seu pai fazia alguma coisa, pois queria apenas manter a aparência de familiar perfeita.

Uno...

Dos...

Tres...

Cuatro...

Cinco...

Sabia que ele havia trombado comigo de proposito, pois bastava fitar a sua expressão maldosa e o sorriso cínico estampado no seu rosto ‘’perfeito’’. O seu pai, além de ser o prefeito, era o maior e mais famoso pastor da cidade. O mesmo era quem pregava que uma família jamais deveria ser desfeita e orar era a maior salvação de qualquer problema. Saray, mãe de Elena, era uma seguidora assídua de suas palavras. Respirei fundo e continuei contando mentalmente. Yo tentava controlar a minha vontade explodir e gritar xingamentos espanhóis em voz alta para aquele garoto patético. Contudo, teria que me controlar para manter o meu emprego medíocre.

— Lorena! — A voz grave e irritante do meu chefe rompeu furiosamente o curto silêncio. — O que está acontecendo aqui?! — Continuou no mesmo tom ao parar ao nosso lado. — Eu fiz uma pergunta, menina! — Quase rosnou.

Ou não!

Virei a minha cabeça na direção daquele muquirana e soltei uma risada baixa e irritada. Além de pagar muito mal, o Sr. O’Connor era um homem desprezível, machista e nojento. Yo via como ele encarava as clientes descaradamente e também me sentia alvo dos seus olhares inúmeras vezes. Já havia me cansado de ouvir as suas conversas, onde ele deixava explicito a sua ‘’opinião’’ e sempre afirmava que as mulheres deveriam apenas servir e ser submissas aos homens.

— O que está acontecendo aqui, Sr. O’Connor, é que o você é um velho babaca, muquirana, machista e porco! — Explodi sem medo de perder a porcaria do meu emprego, enquanto encarava-o de cabeça erguida. Jamais voltaria a ficar calada mediante à ele. — Pegue essa porcaria de emprego mal remunerado de garçonete e enfie no seu rabo! — Exclamei, tirando o avental e jogando no peito dele. — Yo me demito! — Murmurei em um misto de felicidade e satisfação.

Ele piscou, algumas vezes, e abriu a boca para dizer qualquer coisa, porém nada saiu. Sr. O’Connor parecia chocado e surpreso demais pela minha explosão, o que me deixou imensamente aliviada e, de certa, forma de alma lavada. Ou ainda nem tanto. Abri um imenso sorriso, antes de me virar na direção de Pietro e o encarar com o mesmo desprezo que ele me olhou segundos antes.

— E enquanto a você, mi ángel, vai se lascar! — Continuei, calma, e vi um copo de suco de uva sobre a mesa ao meu lado de relance. — E isso é por ser um arrogante miserável, Pietro. — Sussurrei, alegre, antes de pegar o copo e despejar todo liquido roxo no seu rosto assustado. — E isso por ser um desgraçado de um bullie. — Abri um sorriso sem mostrar os dentes e fechei a minha mão direita em punho cerrado, socando-o no olho em seguida sem pensar duas vezes. — Nunca mais se aproxime do Henry. — Avisei, entredentes.

Henry Gilbert era um garoto calado demais, o mais inteligente da escola e vivia escondido atrás dos seus inúmeros livros. Tínhamos duas aulas juntos e as nossas trocas de palavras eram raríssimas. No entanto, mesmo assim, os bullies o taxavam de nerdzinho e viviam o perseguindo pela escola como um bando de pragas, apenas por uma diversão doentia do grupo. Yo já havia sido vítima de alguns deles quando explodiu na boca da população sobre a minha orientação sexual. Tudo parou quando quebrei um cabo de vassoura na cabeça em um dos melhores amigos de Pietro.

E yo nunca me arrependi do episódio.

Se uma agulha caísse no chão poderia ser ouvida. Ninguém, exatamente ninguém, abria a boca para falar qualquer palavra. Todos estavam com expressões perplexas e com os olhos grudados em nós três. Sem sombra de dúvidas, em segundos, toda a cidade saberia que a garota suja e lésbica tinha socado o filho perfeitinho do prefeito e pastor.

Amém!

— Até nunca mais, seus dois otários! — Me despedi e caminhei em direção a porta da frente, contudo parei. — Foi um imenso desprazer trabalhar para você, Sr. O’Connor. — Ergui o dedo do meio na direção do homem parado no mesmo lugar, antes de sair daquele lugar.

De alma lavada e coração em paz, me deparei com Elena, que me esperava com um sorriso enorme e satisfeito no rosto, do lado de fora da lanchonete.

— Essa é a minha garota! — Ela comemorou, animada, e entregou-me minha mochila. — Agora vamos embora para contar a maravilhosa notícia a vovó Dulce e a tia Laura. — Piscou um olho.

Soltei uma risadinha e assenti com um aceno leve.

— Elas nem irão amar a novidade. — Debochei, revirando os olhos, e segui-a em direção ao seu carro antigo no estacionamento da lanchonete.

A sensação de liberdade era algo incrível!

[...]

04 de outubro, 2017.

Waterfall Falls era uma pequena e pacata cidadezinha perdida em algum lugar, esquecido pelas pessoas e por Dios, localizada no estado de Washington. Provavelmente nem estaria no mapa. A sua população nunca passou de 10 mil habitantes, o que fazia todo mundo se conhecer. Por um lado, era ótimo, já que os índices de criminalidade eram praticamente extintos. Contudo poderia ser um grande problema, pois a pequena população sempre teve a tendência de ser fofoqueira demais.

O meu nome esteve na boca desses desocupados de plantão quando me assumi lésbica, há 2 anos.

No entanto, mesmo havendo alguns pontos negativos, yo amava Waterfall Falls. Nasci e vivi até os meus oito anos em Cuenca, Castela-Mancha - Espanha, uma cidadezinha que se adaptou a sua localização acima dos rios. Então, mesmo que as geologias de ambas fossem totalmente opostas, acabei me apaixonando e adaptando muito bem ao clima frio, chuvoso e inconstante da localidade estadunidense.

Acompanhando o lento crescimento populacional local, não havia muitos lugares para se ir ou com novidades de cidades maiores. Havia apenas duas lanchonetes, sendo uma onde trabalhei até o dia anterior, uma única escola de ensino médio, algumas lojas de roupas, um médio supermercado e a confeitaria de minha abuela Dulce Maria.

Para o meu descontentamento pessoal, o cinema mais próximo ficava há mais de uma hora de carro.

Todavia, seguindo o oposto das criações humanas, Waterfall Falls havia sido fundada no fundo de um grande vale. Altas e poderosas montanhas, assim como grandes e infinitas florestas úmidas, tomavam conta de todo território, deixando a estrada principal bem assustadora e perigosa para ser enfrentada à noite, mesmo de carro.

Um ótimo cenário para filmes de terror de baixa renda.

— Eu deveria te deixar de castigo pelo um mês, Lorena. — A voz de minha avó surgiu baixa e séria, interrompendo os meus devaneios com nada em especial. — Principalmente, por deixar o olho daquela garota roxo e inchado como o do filho do prefeito. — Finalizou no mesmo tom.

Um sorriso ameaçou a romper pelos meus lábios. Por fim, tirei a minha atenção das árvores, que eram apenas um borrão escuro e desconectado do lado de fora do carro, e foquei-a na expressão divertida e debochada de Dulce Maria.

Abuela, se não te conhecesse como a palma da minha mão, diria que está de fato chateada e brava por yo ter metido a porrada em Karen. — Zombei, arqueando as sobrancelhas, e sorri com zombaria. — Como fiz com o bullie do Pietro

Ela soltou uma risadinha confirmando a minha suspeita. Vovó fora uma grande e poderosa mulher da lei, mas estava se divertindo com a outra confusão em que me enfiei em menos de 24 horas. Mesmo que ela ainda se mantivesse calada e concentrada na estrada um pouco movimentada naquela hora da manhã, pude enxergar o sorrisinho de canto nela.

 — Ela merecia mais uns tapas para ver se aprende alguma coisa da vida. — Continuei, raivosa, recordando da cena que presenciei mais cedo no colégio. — Aquela garota é a segunda maior agressora da escola. A diretora, por ser a sua madrinha, fica se fazendo de cega mediante as ações destetáveis e imperdoáveis de Karen. — Soltei, indignada, e voltei a encarar a paisagem monótona do lado de fora. — Os poderosos de Waterfall Falls só sabem colocar panos quentes sobre esses problemas.

Às vezes, irritantemente e para o meu imenso desgosto pessoal, minha vida gostava de se inspirar naqueles filmes e seriados clichês adolescentes. Além de yo ainda ser apaixonada por aquele problema ambulante com sorriso torto e olhos escuros, costumava me enfiar em algumas brigas alheias. No entanto, eu deveria confessar que poderia gostar mais do que o certo em específicas ocasiões.

Resultado do meu ato heroico foram três dias de suspensão da escola, de novo. Porém, sem um pingo de remorso da minha escolha de mais cedo.

Hoje ao chegar para a segunda aula, após acordar extremamente atrasada, passei perto do banheiro feminino no corredor sul e encontrei a garota mais popular humilhando a que quase todos apelidavam de nerd. Como paciência era algo que não foi me dado no meu nascimento, acabei me intrometendo e Karen Adam saiu com um olho roxo após ser atingida pelo meu precioso gancho de direita.

Às vezes, era necessário lutar como uma garota do UFC.

— Minha neta, não te julgo. — Ela murmurou, fazendo-me encará-la com curiosidade. — Porque na minha juventude, eu não nunca fui nenhuma santinha e já bati tanto em garotos como em garotas que mereceram. — Riu, baixinho. — Para o desespero de mi madre, meu padre sempre me incentivou a defender a mim e aos necessitados. — Fitou-me, ficando nostálgica pelo passado. — Sempre serei grata à ele por me apoiar.

Abri um pequeno sorriso, sem tirar os olhos de uma das mulheres da minha vida.

— Vocês sempre foram mais avançados no próprio tempo. — Comentei e franzi o cenho, referindo-me a minha família.

Ela riu e concordou com um aceno positivo de cabeça.

— Antes da sua madre conhecer e se casar com o traste do seu pai, yo falei não se apegar a ninguém e sentar em vários antes de se prender a um único. — Dulce Maria declarou sem pudor nenhum. — Bom, meus amados pais me disseram a mesma coisa e aproveitei bastante de me apaixonar por seu abuelo. — Contou, com a sua voz saindo mais baixa e saudosa ao mencionar o meu falecido avó.

Todas as vezes em que o meu abuelo era mencionado por ela, seus olhos ficavam desfocados e a sua expressão tornava-se saudosa. Tenho poucas lembranças dele, pois meu avô veio a falecer quando eu apenas tinha 6 anos. Contudo, me recordava de ficar encantada com o amor entre os dois, o jeito apaixonado que ambos se olhavam mesmo com 30 anos de casados.

O amor dos meus avôs era como nos contos das princesas que minha mãe contava antes que eu fosse dormir.

— Vó... — Sussurrei, preocupada, ao ver algumas lágrimas soltas caírem por suas bochechas. — Abuela...

— Está tudo bem, Lorena. — Apressou a dizer e limpou-as com a mão livre. — Só é meio impossível não ficar saudosa ao falar do cretino e imprestável do seu avô. — Contou, amorosa. — No entanto, yo me lembrei que nunca lhe fiz essa recomendação. — Pensou alto, antes de voltar o seu olhar sagaz na minha direção.

Me encolhi no banco do passageiro e fiz uma careta de desespero. Yo amava minha abuela como se fosse uma segunda mãe, no entanto ela poderia ser as vezes, para não dizer quase sempre, exageradamente liberal para o meu não próprio bem. Era impossível não ficar rubra de vergonha quando o seu sorriso se tornava malicioso e os seus olhos brilhantes miravam no meu rosto logo em seguida.

— Querida, em alguns meses você irá se formar no colegial e ir para a faculdade. — Comentou, dividindo o seu olhar entre a estrada e o meu rosto horrorizado. — Então, quero te pedir para aproveitar bastante a sua juventude e sentar em vários dedos e línguas diferentes, antes de se prender a uma única vagina. — Pediu ao assumir uma expressão séria. — Ouça o conselho sábio de sua abuela, Lorena. — Sorriu.

Pisquei com lentidão, enquanto o meu rosto esquentava como o sol e ficava vermelho de constrangimento.

Ela disse mesmo aquilo?!

— Vovó, a senhora é louca! — Exclamei ao arregalar os olhos e segurar uma risada nervosa e esganiçada. — Por Dios, não era para a senhora ser careta e conservadora? — Inquiri.

Ela riu.

— Querida, o meu cabelo é rosa, tenho um piercing na língua e meu braço direito fechado de tatuagens. — Fitou-me com deboche. — Teria como yo ser careta e conservadora? — Questionou, retórica, estacionando o carro na em frente a nossa casa.

A resposta era um belo e grande não.

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