Capítulo Cinco!

Dimitri Blackthorn

A noite estava densa, pesada. O ar carregado de umidade e o barulho das árvores traziam lembranças antigas, que jamais podiam ser esquecidas. A floresta ao redor da mansão sussurrava como se reconhecesse o que estava prestes a acontecer, como se uma verdade secreta fosse revelada.

Caminhei pelo jardim, os passos lentos, o peito ainda em brasas após as últimas horas. Scarlet estava dormindo ou melhor, em transição. Sua alma havia despertado, e com ela, um eco de tudo o que perdemos. Mas para cada resposta que obtive… surgiram mais perguntas.

Sentei-me no banco de pedra sob a árvore ancestral, aquela que crescia ali desde antes da primeira geração da nossa linhagem. O tronco dela tinha marcas. Cicatrizes de garras. De memórias.

Foi então que senti. Um cheiro leve, de pinho e fumaça. Familiar. Distante no tempo, mas impossível de ignorar.

Ela estava aqui.Me levantei no exato instante em que Séfora cruzou o portão. O capuz ocultava parte do rosto, mas os olhos âmbar brilhavam sob a luz da meia-lua.

— Está atrasada — comentei, a voz baixa, mas firme.

— Estou viva. Isso deveria bastar — respondeu, com um sorriso no rosto.

Nos encaramos em silêncio por longos segundos. Anos haviam se passado desde a nossa última conversa, apesar de receber sua visita pedindo para resgatar a Scarlet. Mas antes disso, foram anos desde a noite em que o sangue da nossa alcatéia foi derramado, em que o nosso inimigo destruiu toda família dela e levou a minha Luna com ele.

— Como ela está? — perguntou, retirando o capuz e revelando as sardas que pontilhavam o rosto pálido.

— Confusa. Assustada. E começando a se lembrar — respondi. — Foi você, não foi? Você a deixou assim.

Séfora suspirou e andou até a fonte, tocando levemente a borda com os dedos finos.

— Anos atrás, antes de conhecer a Scarletr, eu estava em missão no Norte. Recebi uma mensagem cifrada. Um boato sobre uma garota que havia chegado a um orfanato… sem histórico, sem passado. Apenas um nome: Scarlett.

— Você reconheceu o cheiro dela?

— Desde o primeiro segundo. Não era só o cheiro da nossa espécie, Dimitri. Era o cheiro da Lua. A marca da escolhida. Eu soube… soube que era ela.

Minha garganta apertou. O vento soprou, e junto com ele, o rugido da floresta.

— Por que não me contou?

Ela hesitou, os olhos fixos na água que espelhava o céu.

— Porque não podia. Havia olhos demais sobre mim. Porque se ela morresse, a linhagem terminaria. E porque ela… não se lembrava. A mente dela estava protegida. A própria Lua a selou.

— E você ficou no orfanato?

— Como amiga. Mas nunca deixei de ser guarda-costas. Mesmo que ela nunca tenha sabido.

Fechei os olhos por um instante, absorvendo cada palavra. A verdade era que tinha gosto de fel. Eu a procurei por anos. Atravessei continentes, desafiei anciões, segui cada rastro possível… enquanto ela crescia sozinha, cercada por inimigos que nem sabia que existiam.

— Ela estava em perigo? — perguntei, olhando nos olhos dela.

Séfora assentiu, a expressão dura.

— Várias vezes. Um dos conselheiros da alcatéia rival quase a encontrou há três anos. Mas consegui desviá-lo. Só que agora… agora que ela está despertando, não posso mais protegê-la sozinha.

— Ela é minha. Sempre foi — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, mas carregada de uma certeza que queimava por dentro.

— E você está preparado para o que isso significa? — ela sussurrou. — Se a Scarlet lembrar de tudo… se a Luna dela despertar por completo… O inimigo que tirou a vida da mãe da Scarlett, vai também vir para tirar a vida dela, você vai conseguir continuar com a sua Luna, mesmo sabendo que ela é fruto da sua primeira Luna e o nosso maior inimigo?

Ela me encarou, e por um momento, vi respeito nos olhos dela. E também medo.

— Há algo mais — disse, hesitando. — Algo que não posso provar ainda, mas preciso que esteja preparado.

— Fale.

— A morte da sua Luna. Eu sempre achei que tivesse sido um sacrifício necessário. Mas agora… não sei. Há indícios de traição. Alguém daqui, de dentro, um dos nossos ajudou os inimigos.

Minha pele se arrepiou. As palavras perfuraram meu estômago como garras invisíveis.

— Você está dizendo que alguém da nossa alcatéia entregou a minha Luna?

— Estou dizendo que… talvez a própria morte dela tenha sido arquitetada. E se a filha da sua primeira Luna voltou agora, se a Lua permitiu o renascimento… é porque o ciclo não foi quebrado. Alguém precisa pagar o preço.

Ficamos em silêncio, a gravidade do que ela dizia pairando entre nós.

— O que Scarlet lembra… são flashes. Fragmentos. Mas em breve, ela vai lembrar do rosto do traidor. E quando isso acontecer…

— Eu vou estar ao lado dela. — Completei. — Não importa o que custe. Não importa quem seja.

Séfora respirou fundo e assentiu. A lealdade dela era antiga, mas os olhos diziam que até ela temia o que estava por vir.

— Vou ficar por perto — disse ela, recolocando o capuz. — Ela vai precisar de mim. Mas é com você que o elo se completa.

— Obrigado por protegê-la esse tempo todo.

Ela sorriu, mas havia dor ali. Dor de quem sempre soube que um dia teria que entregar o que amava para a guerra.

— Eu a amo como uma irmã, Dimitri. Mas você… você foi feito para sangrar por ela, ou ela irá sangrar por você, há algo que precisa ser feito sem que um de vocês tenha que morrer, e precisamos descobrir o que fazer.

E com isso, Séfora virou-se e desapareceu entre as sombras da floresta, tão silenciosa quanto havia chegado.

Fiquei ali, olhando a Lua que agora subia mais alto. As peças do passado estavam voltando ao tabuleiro. A verdade era um fio que começava a se desenrolar. E Scarlett filha da minha Luna e do meu maior inimigo estava no centro de tudo.

Mas agora, eu não deixaria mais ninguém tomá-la de mim, pois todo poder e lembranças foram dadas a ela e em breve sua loba iria ressurgir e eu teria que marcá-la.

continua...

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