Capítulo Seis

Scarlet Hayes

Seis meses depois....

Seis meses, seis meses se passaram, e eu pude conhecer cada vez mais o Dimitri, eu estava completamente apaixonada por ele, envolvida na farsa de ser sua Luna, me deixando acreditar que eu poderia ser a Luna dele, a duas semanas atrás ele quase me tomou como sua Luna, mas algo o fez recuar, talvez fosse o cuidado, a proteção que ele tinha comigo, mas agora éramos casados, mesmo que para ele fosse apenas uma farsa, eu já o amava com todas minhas forças, a loba que ainda não havia totalmente despertado em mim, o desejava com uma força que nem mesmo eu conseguia entender.

À noite, a escuridão parecia respirar comigo. Entre o vazio dos sonhos e o ranger distante da mansão, eu flutuava, sentindo cada batida do meu coração como um trovão abafado. Não era um sono comum. Eu pressentia isso antes mesmo de abrir os olhos.

O primeiro som que ouvi foi o canto da Lua, um tambor surdo ecoando dentro dos meus ouvidos. Então a névoa clareou, e eu estava em uma clareira, iluminada por uma lua que sangrava sobre troncos retorcidos. Lobos rodeavam um altar de pedra; sobre ele, minha mãe, a Luna que nunca conheci acordada—ajoelhava‑se, o sangue prateado escorrendo pelos braços.

—Filha!— A voz dela entrou em mim como luz morna. —Não aceite a Marca. A Marca é trilha. Proteja‑se dele.

Antes que eu pudesse perguntar quem era ele, um vulto encapuzado se adiantou, entregando um medalhão em espiral, ao inimigo sombrio. Eu não vi o rosto; vi apenas uma cicatriz curva no indicador esquerdo daquela mão.

A clareira virou cinzas. A última coisa que senti foi o cheiro ácido de medo e acordei.

Sentei‑me na cama, arfando. O relógio antigo marcava 03:30. O suor gelado colava o cabelo à minha nuca. As janelas fechadas não impediram o odor de terra molhada de invadir o quarto.

Uma dor aguda queimava entre minhas mãos, como se garras internas buscassem libertar‑se. Minha loba desperta sussurrou algo dentro de mim.

Quando pisquei, o quarto sumiu. Eu ainda estava deitada, mas via como através do véu de um sonho a Séfora deslizando pelo jardim, o capuz balançando. Pisquei de novo, e vi Dimitri marchando pelo corredor: dez passos e a maçaneta do meu quarto rangeria.

Vejo o agora, o antes e o que ainda não aconteceu.

Meu estômago revirou; sangue quente escorreu do meu nariz. Doía, mas o poder era real.

Exatamente como previsto, a porta se abriu. Dimitri entrou, os olhos incendiados de preocupação.

—Scarlett?—A voz dele era macia e eu sentia um desejo inexplicável, apenas por sentir sua presença.

Eu mantive a coluna ereta, mesmo temendo a minha vida.

—Não se preocupe, Dimitri.

Ele congelou e logo perguntou:

— O que você viu?

—Vi minha mãe morrer outra vez.—Minha voz falhou, mas continuei. —Vi a cicatriz no dedo de quem a entregou. E vi ele. O ar pareceu encolher.

Se você me marcar, ele virá. A Marca é um farol, mas isso eu não estava disposta a dizer a ele.

Dimitri cerrava os punhos, dividido entre instinto e medo. Eu podia quase saborear a fúria e a dor nele.

Eu o amo. Mas se aceitar esse vínculo, condeno a mim… e a ele.

A lua, do lado de fora, subiu mais alto, banhando-nos de num raio gélido. Dimitri, um lobo solitário uivou,e jurei que o som saíra tanto da floresta quanto do meu peito.

Não sei quanto tempo temos até que o traidor mostre o rosto escondido por aquela cicatriz. Nem sei se meu novo dom vai me salvar ou consumir. Mas uma certeza inflama minhas veias:

Não serei isca. Nem presa. Se a Lua me escolheu, então usarei cada sonho como lâmina. E quem derramou o sangue da Luna, vai sangrar sob a minha lua crescente.

Ele levou os polegares à minha face, limpando o sangue que manchava meu lábio; toque tão suave que fiquei sem ar por outro motivo.

— Fica comigo esta noite. —As palavras escaparam antes que eu pudesse vesti‑las de pudor. — Preciso sentir que o mundo não vai ruir quando eu fechar os olhos.

Ele não discutiu. Apenas inclinou a cabeça num acordo silencioso e, com a manga da camisa, enxugou o resto do sangue. Eu tremia, não de medo, mas de uma urgência mais antiga que a própria loba dentro de mim.

Dimitri apagou a única vela, deixando o quarto na penumbra azulada do luar. Quando subiu na cama, o colchão afundou levemente, e a presença dele tornou-se o meu eixo. Encaixei‑me no peito largo, o ouvido contra o compasso grave do coração dele.

—Está segura, Scarlett. Respira. —A voz dele era um ronronar grave que atravessava meus ossos.

Minhas mãos encontraram o tecido da camisa dele, deslizando até sentir a pele quente por baixo. Cada fôlego que ele soltava roçava meu cabelo, como se confirmasse: estou aqui, estou aqui.

Eu o encarei na semi escuridão. Os olhos dele tinham a cor de um crepúsculo em chamas — promessas e perigos misturados. O silêncio, carregado de faíscas.

— Beija‑me, Dimitri — sussurrei, era mais um pedido do que uma ordem

Ele não hesitou. Os lábios dele vieram como tempestade morna, e tudo dentro de mim se incendiou. O beijo foi profundo, avassalador; minhas unhas afundaram‑se levemente nos ombros dele. Senti a loba despertar, querendo marcar, reivindicar, queimar dentro de mim.

Mas a lembrança cortante da visão, a Marca como farol, o monstro seguindo a trilha.

— Espera!— Murmurei entre os lábios dele, as respirações misturadas. — Ainda não posso.

Dimitri afastou-se apenas o espaço de um suspiro, mantendo a testa colada à minha.

— Eu sei. —O timbre baixo carregava compreensão e frustração em doses iguais. — Não vou forçar-lá a nada, nem você deve se sentir na obrigação de que devemos, você sabe...

Acariciei a cicatriz que ele tinha na clavícula, sentindo a ideia do futuro pesar‑me nos ossos.

— Só fica. Deixa‑me sentir que estou viva. —Minha voz quebrou, quase silenciosa diante da tempestade interna.

Ele puxou o lençol sobre nós, envolveu‑me num abraço inteiro, pernas entrelaçadas às minhas. O coração dele, ritmado e constante, embalou meu pavor até transformá‑lo em algo suportável.

— Não vou sair do teu lado, não esta noite, não enquanto tua respiração precisar da minha. —Prometeu ele, e cada palavra soou como selo antigo.

Fechei os olhos, a cabeça aninhada sob seu queixo. A loba em mim ronronou, saciada por um instante apenas com a proximidade. Talvez a paz fosse um intervalo curto, mas era real ali, entre o bater do meu coração e o dele.

Se eu sonhasse, queria sonhar com este momento repetido ao infinito, sem marcas, sem prédios em ruínas, sem sangue na lua. Apenas nós dois respirando no mesmo compasso, o amor costurando as fendas do medo até o amanhecer chegar.

continua...

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