Luna acordou com o toque suave dos lençóis de algodão egípcio contra sua pele nua. A luz da manhã invadia o quarto luxuoso através das cortinas parcialmente abertas. O silêncio era confortável, quente, íntimo.
Por um instante, ela pensou que tinha sonhado. Que tudo não passava de um delírio da sua mente exausta. Mas o perfume dele ainda estava em seu corpo. E o calor de sua presença ainda queimava sob sua pele. Ela se virou devagar. Leonel estava ali, recostado na poltrona de frente para a janela, com uma xícara de café na mão e os olhos nela. Sem dizer nada. Apenas observando. — Você está me encarando — murmurou ela, puxando o lençol para cobrir os seios. — É impossível não olhar — respondeu ele, a voz grave como a noite anterior. — Você é mais do que eu imaginei. Luna sorriu, meio tímida, meio provocante. — Você imagina muita coisa, não é? Ele se levantou, caminhando até ela. Estava apenas com a calça de pijama, o peito nu revelando a força contida de um corpo treinado e desejável. — Mas com você... nada do que imaginei chegou perto. Ele sentou-se à beira da cama, tocando o rosto dela com delicadeza, os dedos deslizando até a linha do maxilar. — Está arrependida? Ela mordeu o lábio, pensativa. — Não. Mas estou assustada. — Comigo? — Com o que isso pode significar. Ele abaixou o rosto, roçando os lábios nos dela em um beijo leve, provocante, que mais atiçava do que saciava. — Não precisa ter medo. Ela riu, sem humor. — Você é um homem rico, poderoso. Eu sou só... uma garçonete tentando pagar as contas e cuidar da irmã. — Você é mais do que isso. Eu vejo isso. Ela ergueu os olhos, séria. — Você não me conhece. — Quero conhecer. — E quando conhecer, vai cansar. Ele sorriu, desafiador. — Testa essa teoria comigo. O carro de Leonel a deixou na frente da pensão poucas horas depois. Ele insistiu para que ela ficasse o dia inteiro, mas Luna precisava voltar à realidade — por mais tentadora que aquela fuga fosse. — Vai me evitar agora? — perguntou ele, com um meio sorriso. — Talvez. — Não vou deixar você escapar fácil, Luna. Ela saiu do carro com o coração acelerado, sentindo-se parte de um mundo que nunca foi seu... mas que começava a desejá-la. Naquela tarde, Luna lavava a roupa de Lívia na lavanderia comunitária da pensão quando recebeu uma mensagem. Leonel: Hoje, às oito. Jantar comigo. Nada de desculpas. Ela digitou rápido: Luna: Você sempre consegue o que quer? A resposta veio em segundos. Leonel: Só quando quero muito. Ela fechou os olhos, sentindo o corpo responder antes da mente. O jantar foi em um restaurante francês reservado só para eles. Velas, música baixa, e o olhar dele preso no dela a noite inteira. — Seus olhos mudam de cor quando você está com raiva — disse ele, sorrindo. — E você gosta de provocar isso em mim? — Gosto de tudo em você. Mas quando você briga... fica ainda mais linda. Ela riu, balançando a cabeça. — Você j**a sujo. — Eu jogo pra ganhar. Mais tarde, quando chegaram à cobertura novamente, ela tentou recuar. — Não podemos fazer disso um hábito. — Eu sei — respondeu ele. — Mas me diga que você não quer. Ela hesitou. Ele avançou, encostando-a contra a porta, os lábios descendo até sua clavícula. — Diga que não quer isso, Luna... e eu paro agora. Ela tentou resistir. Tentou encontrar forças. Mas quando ele puxou sua cintura, roçando os corpos, ela perdeu o controle. — Você é perigoso — sussurrou ela. — E você é viciante. O beijo veio como uma explosão. Urgente, desesperado, real. Eles se tocaram como se o mundo fosse acabar em segundos. Roupas foram jogadas no chão como obstáculos inúteis. Aquela noite foi ainda mais intensa. Mais do que desejo. Mais do que prazer. Era conexão. Era fogo. Era o início de algo que nenhum dos dois conseguia mais controlar. E quando os corpos cansados repousaram sob os lençóis, Leonel segurou a mão dela. — Agora é você que está presa a mim, Luna. E ela sabia. Sabia que era verdade. Mas não sabia o quanto isso ainda iria custar.Luna acordou antes do sol nascer. Não por vontade, mas por instinto. Um aperto no peito. Um pressentimento estranho.Leonel ainda dormia, o braço repousando sobre sua cintura, o corpo nu coberto apenas pelo lençol de linho. Ela o observou por longos segundos. Era lindo. Forte. Seguro. E totalmente fora do seu mundo.Ela deslizou da cama sem acordá-lo, recolhendo silenciosamente as roupas espalhadas pelo chão. Precisava respirar. Pensar.Estava se envolvendo. Estava se perdendo.Na pensão, Lívia a esperava com cara de poucos amigos.— Onde você estava, Luna?— Eu… precisei sair.— De novo com aquele homem? — perguntou a adolescente, cruzando os braços. — Você mal o conhece!— E você desde quando se tornou minha mãe? — retrucou Luna, cansada demais para discutir.— Eu só não quero te ver se machucando.Luna parou. Olhou para a irmã.— Eu também não quero. Mas, Lívia… pela primeira vez em muito tempo, eu me sinto viva.Na manhã seguinte, Luna voltou ao trabalho no restaurante. Estava dis
Luna sentia o peso dos olhares como se fossem pedras sobre sua pele. Estavam todos ali: empresários, herdeiros, socialites. O champanhe era caro, o riso forçado, e as palavras carregadas de veneno disfarçado em cortesia.Leonel não soltava sua cintura nem por um segundo. Talvez para protegê-la. Talvez para exibi-la. Ela não sabia o que a incomodava mais.— Relaxa — sussurrou ele, roçando os lábios em sua orelha. — Eles não te conhecem. E morrem de medo do que não podem controlar.— Eu não tenho medo deles — mentiu ela.— E isso te torna mais poderosa do que imagina.Isabel se aproximava, como uma sombra perfumada. Luna a viu sorrir antes mesmo de abrir os lábios.— Leonel... que surpresa ver você aqui com... — ela fingiu pensar — uma companhia tão... alternativa.Luna respondeu antes que ele pudesse:— “Alternativa” é a palavra que vocês ricos usam quando querem dizer “inferior”, mas têm medo de parecerem cruéis?Isabel piscou, surpresa. Leonel esboçou um sorriso satisfeito.— Eu só e
Os dias seguintes ao evento foram intensos. Leonel parecia cada vez mais envolvido. Mensagens carinhosas, convites para jantar, pequenos gestos que faziam o coração de Luna bater diferente.Mas nem tudo eram flores.Naquela tarde, Luna encontrou sua irmã, Lívia, sentada na escada da pensão, os olhos marejados.— O que houve? — Luna se ajoelhou à frente dela.— A assistente social veio de novo. Ela disse que se você continuar ausente, vão considerar me tirar daqui.O mundo de Luna tremeu.— O quê? Por que você não me contou isso antes?— Porque eu vi como você está feliz. Não queria ser um peso.Luna sentiu o chão sumir sob seus pés. Por um instante, tudo o que estava construindo com Leonel pareceu tão... distante.— Você nunca vai ser um peso. Nunca. Eu faço tudo por você, Lívia.A garota a abraçou apertado, mas o medo estava ali. Presente. Real.Naquela noite, Luna não respondeu à mensagem de Leonel.Ele ligou. Uma vez. Duas. Três.Na quarta, ela atendeu.— Aconteceu alguma coisa? —
Acordar com mensagens, ligações e notificações vibrando como enxame de abelhas no celular era, para Luna, o prenúncio de desastre. Ela ainda estava deitada, os cabelos espalhados no travesseiro, quando a primeira ligação de Marina — sua colega da cafeteria — acendeu o alarme em sua mente.— Luna... amiga... você já viu?— O quê?— Saiu uma matéria... num blog de fofoca... Meu Deus, eles cavaram seu passado todinho!O coração de Luna parou por um segundo.— Que matéria?— Jogaram seu nome, sua história com o tal empresário casado, fotos suas antigas... Tudo! E ainda te chamam de “a nova amante do herdeiro Leonel Bragança”.A respiração de Luna se tornou irregular. Ela pulou da cama, os dedos tremendo ao abrir o link que Marina lhe enviou.O título era uma punhalada:“Ela voltou! A ex-amante do escândalo agora fisga o herdeiro bilionário. Coincidência... ou repetição de padrão?”As fotos vinham em sequência. Primeiro, Luna com o homem casado. Depois, imagens recentes dela com Leonel no
O escândalo na internet ainda borbulhava como água fervente. Mas Luna tentava manter a cabeça erguida. Por ela. Por Leonel. Por Lívia.Ela estava determinada a resistir, mesmo com o coração machucado. Só que o destino... tinha planos ainda mais cruéis.Naquela manhã, enquanto tentava organizar seu dia, recebeu uma ligação do colégio da irmã. O tom da diretora era frio, burocrático.— Senhora Luna Duarte?— Sim, sou eu.— Precisamos que compareça à escola com urgência. É sobre a aluna Lívia Duarte. A assistente social está aqui conosco.Luna sentiu o mundo girar.— Aconteceu alguma coisa com a minha irmã?— Por favor, venha o quanto antes.Meia hora depois, Luna chegava ofegante à sala da direção. Lívia estava sentada em um canto, com os olhos inchados. Ao lado dela, uma mulher de terno cinza e expressão inexpressiva segurava uma pasta.— Luna Duarte? — disse a mulher.— Sim. O que está acontecendo aqui?— Meu nome é Cecília Ramos, sou da Vara da Infância e Juventude. Recebemos uma den
Os dias seguintes foram um vendaval de emoções.Luna mal dormia. A imagem de Lívia sendo levada pela assistente social a perseguia como um pesadelo recorrente. Mas, ao mesmo tempo, o que ela e Leonel estavam construindo parecia crescer, ainda que em meio à lama da exposição.Ela agora vivia com ele. Um universo de luxo, segurança... e amor. Sim, ela já não negava o que sentia. Por mais que tudo estivesse em ruínas lá fora, no olhar de Leonel havia algo firme, sólido, que fazia seu mundo parecer menos quebrado.Naquela noite, ele a levou para a cobertura de vidro no topo do prédio — um espaço reservado, com vista para a cidade iluminada, rodeado por cortinas leves e luzes suaves. A mesa estava posta com cuidado, o jantar elegante, mas discreto.— Você está tentando me fazer esquecer o inferno que minha vida virou? — ela perguntou, com um sorriso triste.— Não. Estou tentando te lembrar que você ainda pode viver o céu.Ela abaixou o olhar, tocando a taça de vinho com os dedos finos.— L
Luna estava pronta.A dor se transformara em arma. A vergonha, em escudo. E o amor que começava a florescer entre ela e Leonel... era a faísca que incendiava sua alma.Naquela manhã, ela apareceu ao vivo no programa de maior audiência do país.Vestia-se com elegância: um blazer branco marcando sua cintura, cabelos presos num coque firme, maquiagem suave, mas impactante. Havia poder no olhar dela. Postura de quem não se curva. De quem cansou de ser jogada no chão.Leonel assistia da cobertura, com os punhos fechados e o coração acelerado. Ela não queria que ele fosse com ela. Disse que precisava enfrentar sozinha. Ele respeitou.No estúdio, a apresentadora iniciou a entrevista com cautela:— Luna Duarte, você virou o centro de uma polêmica nacional. Foi chamada de interesseira, oportunista, destruidora de lares... e agora está envolvida em um processo de guarda da sua irmã. O que tem a dizer?Luna respirou fundo. Não piscava.— Eu fui julgada sem ser ouvida. Fui apedrejada por escolher
Luna apertava a bandeja contra o peito, tentando ignorar o som irritante dos saltos e risos fingidos que ecoavam no salão luxuoso do Hotel Elite. As mãos suadas denunciavam sua ansiedade, mas ela mantinha o sorriso treinado nos lábios.A festa de lançamento de uma linha de relógios exclusivos atraía a elite da cidade. Ela não pertencia àquele lugar. Sabia disso desde o momento em que colocou os pés no salão e encarou os lustres de cristal que pareciam zombar de sua simplicidade.— Dois espumantes, por favor — pediu uma mulher loira, com joias que brilhavam mais do que a própria iluminação.Luna assentiu, entregando as taças com cuidado. Fingiu não ouvir o comentário maldoso logo em seguida.— Essas garçonetes deviam ter um curso de etiqueta antes de servir a gente.Virou-se e seguiu até o balcão, mordendo a língua. Só precisava do dinheiro. Um turno, só isso. Depois voltaria para o quartinho minúsculo que alugava em Vila Oeste e cuidaria de sua irmã mais nova.Foi quando o viu.Alto.