Os dias seguintes foram um jogo silencioso entre desejo e prudência. Luna tentou ignorar as mensagens educadas, mas insistentes, que Leonel mandava. Flores começaram a chegar no restaurante. Bilhetes discretos, mas carregados de tensão.
"Não aceito um 'não' antes de um café comigo. – L." "Estou te esperando. Só você pode me tirar do tédio." Ela odiava admitir, mas lia cada palavra mais de uma vez. Naquela sexta-feira, a noite estava abafada. O restaurante lotado, clientes exigentes, garçons correndo de um lado para o outro. Luna tentava se concentrar no trabalho, mas tudo parecia fora de ritmo. Até que ele apareceu. Em carne, osso e terno impecável. Leonel entrou no salão como se fosse dono do mundo — e talvez fosse. Todos o notaram. Todos sussurraram. Luna congelou. A bandeja quase escorregou de suas mãos. Ele caminhou até ela com aquele olhar que a despia por dentro. — Luna. — O que você está fazendo aqui? — sussurrou ela, entre dentes. — Tentando provar que eu não brinco. — Eu estou trabalhando! — Então me sirva. Um whisky. E dez minutos da sua atenção. Ela bufou, mas foi até o bar. Os colegas a encaravam como se ela fosse a estrela de um filme proibido. Quando voltou com o copo, Leonel ainda estava ali, calmamente encostado na parede. — Aqui está. E agora, vá embora. Ele não pegou o copo. Pegou a mão dela. — Me encontra hoje. À meia-noite. Vou te buscar. — Não posso. — Pode. E vai querer. Antes que ela pudesse responder, ele se afastou. Deixando o copo intocado. E o perfume dele grudado na pele dela. Meia-noite. Luna estava em frente ao espelho rachado do banheiro da pensão, encarando a si mesma como se tentasse descobrir quem era aquela mulher que tremia só de pensar em um toque. Ela se arrumou como quem desafia o destino: vestido preto colado, curto, justo nas curvas que ela mal lembrava que tinha. Batom vermelho. Cabelo solto. Quando o carro parou na porta, ela já esperava. O motorista abriu a porta e, desta vez, ela não hesitou. A cobertura de Leonel parecia tirada de uma revista: moderna, sofisticada, com vista panorâmica da cidade. Mas o que mais chamava atenção era ele. Sem terno. Camisa branca com os primeiros botões abertos. Olhar predador. — Você veio — disse ele, com um meio sorriso. — Vim saber o que você quer de verdade. Ele se aproximou devagar. — Quero você. Sem jogos. Sem pressa. — Isso parece um jogo pra mim. Ele tocou seu queixo, fazendo-a olhar nos olhos dele. — Eu não sou o tipo de homem que pede duas vezes. Mas com você... estou disposto a esperar. — E se eu disser que não quero? — Vai mentir pra mim... ou pra si mesma? O silêncio se esticou. Ela sentia o coração bater no pescoço. Então ele se inclinou, e seus lábios roçaram os dela. Lentamente. Como uma pergunta. Como um risco. Luna poderia recuar. Deveria. Mas não fez. Ela se entregou ao beijo como se fosse o único ar que precisava. Ele a segurou pela cintura, puxando-a para si, sem pressa, mas com firmeza. Os corpos se encaixaram. Os lábios, quentes, famintos. As mãos dele subiram pelas costas nuas, tocando-a como se decorasse cada centímetro. Ela gemeu baixinho, sentindo o sangue ferver. — Você é inacreditável — murmurou ele contra sua pele, beijando sua mandíbula, seu pescoço, sua clavícula. Ela arfava, tentando manter o controle, mas o desejo tomava conta como fogo. Leonel a pegou pela mão e a levou até o quarto. — Não vou te forçar a nada, Luna. Mas se ficar... vai ser tudo ou nada. Ela olhou para ele. Para o homem que era o oposto do seu mundo. Para o abismo de promessas e perigos que ele representava. Então, ela deu um passo à frente. — Então me mostre o que é esse “tudo”. Ele a pegou no colo, com força e precisão. O vestido deslizou pelos ombros. Os corpos colidiram como tempestade. Naquela noite, o mundo inteiro deixou de existir. Só restavam eles. E o desejo insaciável que começava ali… sem aviso, sem freios.Luna acordou com o toque suave dos lençóis de algodão egípcio contra sua pele nua. A luz da manhã invadia o quarto luxuoso através das cortinas parcialmente abertas. O silêncio era confortável, quente, íntimo.Por um instante, ela pensou que tinha sonhado. Que tudo não passava de um delírio da sua mente exausta. Mas o perfume dele ainda estava em seu corpo. E o calor de sua presença ainda queimava sob sua pele.Ela se virou devagar. Leonel estava ali, recostado na poltrona de frente para a janela, com uma xícara de café na mão e os olhos nela. Sem dizer nada. Apenas observando.— Você está me encarando — murmurou ela, puxando o lençol para cobrir os seios.— É impossível não olhar — respondeu ele, a voz grave como a noite anterior. — Você é mais do que eu imaginei.Luna sorriu, meio tímida, meio provocante.— Você imagina muita coisa, não é?Ele se levantou, caminhando até ela. Estava apenas com a calça de pijama, o peito nu revelando a força contida de um corpo treinado e desejável.
Luna acordou antes do sol nascer. Não por vontade, mas por instinto. Um aperto no peito. Um pressentimento estranho.Leonel ainda dormia, o braço repousando sobre sua cintura, o corpo nu coberto apenas pelo lençol de linho. Ela o observou por longos segundos. Era lindo. Forte. Seguro. E totalmente fora do seu mundo.Ela deslizou da cama sem acordá-lo, recolhendo silenciosamente as roupas espalhadas pelo chão. Precisava respirar. Pensar.Estava se envolvendo. Estava se perdendo.Na pensão, Lívia a esperava com cara de poucos amigos.— Onde você estava, Luna?— Eu… precisei sair.— De novo com aquele homem? — perguntou a adolescente, cruzando os braços. — Você mal o conhece!— E você desde quando se tornou minha mãe? — retrucou Luna, cansada demais para discutir.— Eu só não quero te ver se machucando.Luna parou. Olhou para a irmã.— Eu também não quero. Mas, Lívia… pela primeira vez em muito tempo, eu me sinto viva.Na manhã seguinte, Luna voltou ao trabalho no restaurante. Estava dis
Luna sentia o peso dos olhares como se fossem pedras sobre sua pele. Estavam todos ali: empresários, herdeiros, socialites. O champanhe era caro, o riso forçado, e as palavras carregadas de veneno disfarçado em cortesia.Leonel não soltava sua cintura nem por um segundo. Talvez para protegê-la. Talvez para exibi-la. Ela não sabia o que a incomodava mais.— Relaxa — sussurrou ele, roçando os lábios em sua orelha. — Eles não te conhecem. E morrem de medo do que não podem controlar.— Eu não tenho medo deles — mentiu ela.— E isso te torna mais poderosa do que imagina.Isabel se aproximava, como uma sombra perfumada. Luna a viu sorrir antes mesmo de abrir os lábios.— Leonel... que surpresa ver você aqui com... — ela fingiu pensar — uma companhia tão... alternativa.Luna respondeu antes que ele pudesse:— “Alternativa” é a palavra que vocês ricos usam quando querem dizer “inferior”, mas têm medo de parecerem cruéis?Isabel piscou, surpresa. Leonel esboçou um sorriso satisfeito.— Eu só e
Os dias seguintes ao evento foram intensos. Leonel parecia cada vez mais envolvido. Mensagens carinhosas, convites para jantar, pequenos gestos que faziam o coração de Luna bater diferente.Mas nem tudo eram flores.Naquela tarde, Luna encontrou sua irmã, Lívia, sentada na escada da pensão, os olhos marejados.— O que houve? — Luna se ajoelhou à frente dela.— A assistente social veio de novo. Ela disse que se você continuar ausente, vão considerar me tirar daqui.O mundo de Luna tremeu.— O quê? Por que você não me contou isso antes?— Porque eu vi como você está feliz. Não queria ser um peso.Luna sentiu o chão sumir sob seus pés. Por um instante, tudo o que estava construindo com Leonel pareceu tão... distante.— Você nunca vai ser um peso. Nunca. Eu faço tudo por você, Lívia.A garota a abraçou apertado, mas o medo estava ali. Presente. Real.Naquela noite, Luna não respondeu à mensagem de Leonel.Ele ligou. Uma vez. Duas. Três.Na quarta, ela atendeu.— Aconteceu alguma coisa? —
Acordar com mensagens, ligações e notificações vibrando como enxame de abelhas no celular era, para Luna, o prenúncio de desastre. Ela ainda estava deitada, os cabelos espalhados no travesseiro, quando a primeira ligação de Marina — sua colega da cafeteria — acendeu o alarme em sua mente.— Luna... amiga... você já viu?— O quê?— Saiu uma matéria... num blog de fofoca... Meu Deus, eles cavaram seu passado todinho!O coração de Luna parou por um segundo.— Que matéria?— Jogaram seu nome, sua história com o tal empresário casado, fotos suas antigas... Tudo! E ainda te chamam de “a nova amante do herdeiro Leonel Bragança”.A respiração de Luna se tornou irregular. Ela pulou da cama, os dedos tremendo ao abrir o link que Marina lhe enviou.O título era uma punhalada:“Ela voltou! A ex-amante do escândalo agora fisga o herdeiro bilionário. Coincidência... ou repetição de padrão?”As fotos vinham em sequência. Primeiro, Luna com o homem casado. Depois, imagens recentes dela com Leonel no
O escândalo na internet ainda borbulhava como água fervente. Mas Luna tentava manter a cabeça erguida. Por ela. Por Leonel. Por Lívia.Ela estava determinada a resistir, mesmo com o coração machucado. Só que o destino... tinha planos ainda mais cruéis.Naquela manhã, enquanto tentava organizar seu dia, recebeu uma ligação do colégio da irmã. O tom da diretora era frio, burocrático.— Senhora Luna Duarte?— Sim, sou eu.— Precisamos que compareça à escola com urgência. É sobre a aluna Lívia Duarte. A assistente social está aqui conosco.Luna sentiu o mundo girar.— Aconteceu alguma coisa com a minha irmã?— Por favor, venha o quanto antes.Meia hora depois, Luna chegava ofegante à sala da direção. Lívia estava sentada em um canto, com os olhos inchados. Ao lado dela, uma mulher de terno cinza e expressão inexpressiva segurava uma pasta.— Luna Duarte? — disse a mulher.— Sim. O que está acontecendo aqui?— Meu nome é Cecília Ramos, sou da Vara da Infância e Juventude. Recebemos uma den
Os dias seguintes foram um vendaval de emoções.Luna mal dormia. A imagem de Lívia sendo levada pela assistente social a perseguia como um pesadelo recorrente. Mas, ao mesmo tempo, o que ela e Leonel estavam construindo parecia crescer, ainda que em meio à lama da exposição.Ela agora vivia com ele. Um universo de luxo, segurança... e amor. Sim, ela já não negava o que sentia. Por mais que tudo estivesse em ruínas lá fora, no olhar de Leonel havia algo firme, sólido, que fazia seu mundo parecer menos quebrado.Naquela noite, ele a levou para a cobertura de vidro no topo do prédio — um espaço reservado, com vista para a cidade iluminada, rodeado por cortinas leves e luzes suaves. A mesa estava posta com cuidado, o jantar elegante, mas discreto.— Você está tentando me fazer esquecer o inferno que minha vida virou? — ela perguntou, com um sorriso triste.— Não. Estou tentando te lembrar que você ainda pode viver o céu.Ela abaixou o olhar, tocando a taça de vinho com os dedos finos.— L
Luna estava pronta.A dor se transformara em arma. A vergonha, em escudo. E o amor que começava a florescer entre ela e Leonel... era a faísca que incendiava sua alma.Naquela manhã, ela apareceu ao vivo no programa de maior audiência do país.Vestia-se com elegância: um blazer branco marcando sua cintura, cabelos presos num coque firme, maquiagem suave, mas impactante. Havia poder no olhar dela. Postura de quem não se curva. De quem cansou de ser jogada no chão.Leonel assistia da cobertura, com os punhos fechados e o coração acelerado. Ela não queria que ele fosse com ela. Disse que precisava enfrentar sozinha. Ele respeitou.No estúdio, a apresentadora iniciou a entrevista com cautela:— Luna Duarte, você virou o centro de uma polêmica nacional. Foi chamada de interesseira, oportunista, destruidora de lares... e agora está envolvida em um processo de guarda da sua irmã. O que tem a dizer?Luna respirou fundo. Não piscava.— Eu fui julgada sem ser ouvida. Fui apedrejada por escolher