A madrugada chegou sem trazer consolo.
Narelle não se moveu da beira da cama. O quarto escuro parecia mais pesado do que nunca, como se cada sombra carregasse o rastro de tudo o que perdera — e de tudo o que ainda poderia perder.
Luxor dormia encolhido, o rosto sereno, sem suspeitar que o mundo à sua volta ruía de forma silenciosa. Cada respiração suave dele soava como uma acusação. Como se dissesse que ela deveria ter previsto, que deveria ter impedido.
Mas ninguém conseguia impedir Kael por completo.
Nem mesmo ela.
A mente dela voltava, sempre, ao momento em que o vídeo terminara. O último quadro congelado — o olhar de Kael, tão frio que parecia capaz de apagar qualquer memória boa que tivessem compartilhado. Ali não havia amor, só uma promessa muda de que aquilo era só o começo.
Ela passou a mão pela testa, tentando afastar o tremor que começava na base do crânio. Sempre soubera que Kael era perigoso. Que por trás da civilidade polida havia um predador paciente, capaz de esperar an