02

TARYN

Chegamos ao salão principal, amplo e iluminado pelos candelabros de cristal que lançavam reflexos suaves sobre o piso de madeira polida. A mesa de jantar estava posta para poucos convidados: membros do conselho e representantes das outras duas famílias fundadoras, os Lockhart e Fenwick, todos amigos próximos da família. O murmúrio de conversas contidas preenchia o espaço, mas parecia distante comparado ao turbilhão em meu peito.

Kalinda me conduziu diretamente até nosso pai, e eu senti Caius nos seguindo silenciosamente atrás, sempre presente, sempre atento. Meu pai conversava com um homem que eu só poderia descrever como um comerciante do mar. Suas vestes não eram simples, mas refletiam a praticidade de quem lidava com negócios. Tecido resistente, porém bem cuidado. O rosto estava marcado pelo sol, escurecido na testa e no nariz, criando uma estranha dominância de duas cores, ainda assim, ele não parecia tão velho. Seus cabelos longos até os ombros e a barba volumosa contrastavam com Caius, que sempre preferia o rosto limpo.

Pisquei, tentando afastar a comparação. Mas não foi fácil.

O homem me fitou, descendo o olhar lentamente pelo meu corpo. Seus olhos estreitaram ao alcançar meu busto, o vestido, levemente mais decotado nesta noite, era um conselho de Kalinda, que me dissera que “os alfas gostam de observar antes de provar”. Um calor incômodo subiu às minhas bochechas, e baixei os olhos, sentindo-me completamente exposta sob sua avaliação silenciosa.

Tentei lembrar a mim mesma que aquele homem era apenas meu noivo, que não havia espaço para pensamentos proibidos. Mas Caius estava ali, presente e silencioso, e a lembrança do que eu realmente desejava queimava ainda mais dentro do meu peito.

Meu pai interrompeu meus pensamentos com um gesto, apresentando-me formalmente.

— Taryn, deixe-me apresentar — disse meu pai, gesticulando para o homem à minha frente. — Este é seu noivo, Demetrius Cornel.

O comerciante sorriu levemente, estendendo a mão, e eu a apertei com delicadeza, mantendo a postura esperada de uma jovem da alta sociedade. Mas a sensação de estranheza e desconforto não desapareceu; ele exalava autoridade e interesse, mas não havia nada no coração dele que chamasse o meu.

Enquanto isso, Caius permanecia ao fundo, observando cada movimento meu, silencioso, protetor, mas distante e isso doía mais do que qualquer confronto direto poderia doer.

Logo, todos começaram a se dispersar, e ficamos a sós. Demetrius começou a falar sem parar, divagando sobre suas posses, suas aquisições e feitos comerciais. Eu apenas acenei e sorri, concordando com cada palavra, enquanto tentava não demonstrar tédio.

— Nunca saiu da ilha, não é? — perguntou de repente, fixando-me com curiosidade.

— Não… — admiti, mantendo a voz baixa e firme — Mas fico imaginando o que existe além do mar.

Uma mentira; jamais desejei sair antes do casamento da minha, a ilha era meu lar. Mas era melhor não ir contra ele, e dizer o que ele queria ouvir.

Enquanto ele falava, minha atenção se perdeu por um instante, e inevitavelmente meu olhar se voltou para Caius. Estava ao fundo, conversando som seu primo Ronan. Era quase como se eu fosse puxada por uma corda invisível, uma sensação perturbadora que fazia meu coração disparar e minhas bochechas esquentarem.

Uma das empregadas aproximou-se com uma bandeja, oferecendo uma taça de vinho. Peguei delicadamente, mas antes que pudesse beber, Demetrius franziu a testa.

— Não deveria beber. — O tom era firme, quase autoritário — Isso pode atrapalhar na concepção de filhos.

Quase engasguei, surpresa com a menção direta. Ele inclinou-se levemente, olhando-me com cautela.

— Sua saúde está boa, não é? Seu pai jurou que sim. Mesmo que seja jovem, não quero uma esposa doente e fraca.

Pisquei, sem acreditar que ele já falava de filhos antes mesmo do casamento. Com um sorriso contido, pedi licença.

— Preciso me limpar. — Afastei-me discretamente, tentando recuperar a compostura.

Demetrius ergueu uma sobrancelha, observando o vestido agora manchado pelo vinho que derramara.

— Sempre tão desastrada? — perguntou, com um toque de ironia na voz.

Suspirei suavemente, apenas sorrindo e fazendo uma reverência contida.

— Peço licença, senhor.

E, enquanto me afastava, não pude deixar de lançar outro olhar furtivo para Caius, desejando que ele pudesse me resgatar. Caminhei até o banheiro improvisado na cozinha, tentando, com cuidado, remover a mancha. Esfregava delicadamente, mas quanto mais tentava, pior parecia ficar. Um suspiro frustrado escapou dos meus lábios. Não adiantaria, o vestido já estava arruinado.

Decidi então subir de volta ao meu quarto, desejando apenas me recompor e me afastar daquele noivo irritante. Ao passar pelo corredor, porém, sons discretos me fizeram parar. Vozes. Uma delas parecia exatamente a de Kalinda.

Curiosa e preocupada, aproximei-me da porta do antigo quarto da minha irmã, levantando a mão para bater, mas então ouvi outra voz, masculina. Instintivamente congelei. Caius? pensei, o corpo tenso. Não, não podia ser. Eu não suportaria flagrar minha irmã com ele em um momento íntimo; seria como ver meu próprio coração quebrar em mil pedaços.

Recuei, tentando ignorar o que acabara de ouvir. Mas então, a voz masculina se fez clara:

— Podemos fugir esta noite.

Meu corpo inteiro estremeceu. A voz não era de Caius. Eu conhecia bem aquele timbre arrogante e sedutor… era Ronan, o primo de Caius.

Meu coração disparou. Hesitei, mas a curiosidade e a necessidade de confirmar minha pior suspeita foram mais fortes. Encostei o ouvido à porta, imóvel, tentando ouvir sem ser notada.

O que ouvi me deixou sem fôlego. Kalinda estava tendo um caso com Ronan, o próprio primo de meu cunhado, que, para piorar, também era casado e cuja esposa acabara de perder o bebê. A traição, a audácia, a frieza deles me deixaram paralisada.

Como podiam? Como ela, minha irmã perfeita, podia cometer tal traição? E como ele, que deveria ser leal a Caius, ousava conspirar assim, pisando na confiança de todos?

Senti uma mistura de raiva, incredulidade e um peso sufocante no peito. Minha irmã estava traindo seu marido, nosso alfa, meu melhor amigo e eu, não podia permitir.

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