06

TARYN

Caius abriu a boca, e tentei ouvir o que ele dizia, mas suas palavras soaram distantes, quase irreais. Meu coração disparou ao perceber que ele falava de mim, e finalmente consegui distinguir algumas palavras.

— Você está sendo acusada de… — começou ele, a voz firme mas carregada de incredulidade. — De matar Ronan e ter um caso com ele.

— O quê? — consegui dizer, mesmo atordoada.

A confusão me esmagou como pedras. Tudo parecia um pesadelo tão vívido que eu não sabia se estava acordada ou perdida em algum tipo de realidade distorcida. A dor latejante na minha cabeça tornava impossível pensar com clareza.

— Não… não fui eu! — tentei gritar, a voz tremendo, rouca e desesperada. — Foi Kalinda! Ela fez tudo. Eu não tive nada a ver com isso.

Os olhos deles se estreitaram, e senti o peso do julgamento, suspeita, cada acusação não dita. Meu coração se partia em mil pedaços, e pela primeira vez desde que podia me lembrar, senti-me verdadeiramente sozinha.

— Pai? — olhei para o rosto do homem que sempre cuidou de mim, porque nada disso parecia real. Não podia ser. Ele acreditaria em mim.

— Desculpe, não...não posso fazer isso. —sussurrou, se desculpando não comigo, mas com os outros homens.

O olhei se afastar, até que a voz de Caius me chamou de volta. Seus olhos verdes, brilhavam com fúria e decepção.

— Eu não entendo o que está acontecendo.

— Kalinda nos contou tudo,ela disse que te ouviu falando com meu primo no jantar e descobriu sobre a fuga de vocês. Então ela foi até lá para impedi-la, mas era tarde. Você tinha matado Ronan e tentou atacá-la também.

Maneio a cabeça horrorizada.

Minha voz soou fraca, frágil, como se nem tivesse saído de mim. O silêncio ao redor pareceu vibrar, denso, cheio de algo terrível prestes a explodir. Caius me observava com atenção mortal, o maxilar travado, as mãos cerradas ao lado do corpo.

— Taryn… — ele respirou fundo, como quem tenta segurar a própria raiva. — Kalinda voltou transtornada. Ela estava ferida. Havia sangue nela. E parecia… parecia destruída. Ela mal conseguia falar seu nome sem chorar.

Um arrepio gelado percorreu minha espinha.

— Ela se machucou quando tentou me libertar — sussurrei, sentindo o desespero escorrer pelos meus ossos — Ela não fugiu porque eu a impedi.

As palavras travaram quando realizei o que ia admitir. Kalinda. Minha irmã. A pessoa por quem eu teria dado a vida, e que agora me culpava com a mentira mais cruel.

Caius deu um passo à frente, e pela primeira vez, vi sua expressão vacilar. Não era só raiva. Era medo.

— Então explique — disse ele, a voz baixa, quase pedindo. — Diga o que aconteceu, Taryn. Porque a única história que temos agora… é a dela.

Eu engoli seco, a garganta queimando. Minha mente girava, tentando juntar palavras.

— Kalinda estava fugindo com Ronan — consegui dizer, cada sílaba pesada como pedra. — Ela queria deixá-lo, Caius. Deixar você.

Ele piscou, mas não recuou. Apenas endureceu.

— Continue.

As lágrimas ardiam nos meus olhos. Eu não queria machucá-lo. Nunca quis. Mas a verdade era afiada demais para ser carregada com cuidado.

— Ela… ela disse que nunca te amou. Que não suportava a vida que tinha com você. Que iria embora de qualquer jeito.

Caius fechou os olhos, apenas por um instante, mas foi o suficiente para perceber o vacilar ao redor dele.

— E você estava lá por quê? — ele perguntou, a voz um fio tenso.

Eu respirei fundo, lutando contra o tremor.

— Porque eu descobri. E fui atrás dela para impedir.

Ele me encarava como se pudesse me ver por dentro. E talvez pudesse.

— E Ronan? — sua voz ficou mais áspera. — Por que ele estava morto quando chegamos?

O flash da cena explodiu na minha cabeça.

O som da pancada.

O corpo caindo.

O sangue.

Kalinda com o bastão nas mãos.

Minhas mãos prenderam-se ao ar, vazias, tremendo.

— Porque… — eu tentei falar, mas o chão parecia girar. — Porque ele ia me matar. E ela… ela o atingiu.

As palavras saíram em sussurros desesperados.

— Ela me salvou. Mas depois… depois se desesperou.

— Como você ousa?! — Edmond Windmere deu um passo à frente, o rosto vermelho de indignação, as mãos trêmulas de fúria e… vergonha. — Acusar sua irmã dessa forma vil? Fabricar tamanha mentira? Eu devia saber que isso aconteceria. Devia ter ouvido minha esposa quando ela disse para nunca trazer você para casa!

Meu coração parou.

Caius virou o rosto para ele, surpreso com a explosão, mas Edmond não estava olhando para mais ninguém além de mim.

Eu senti uma fisgada tão profunda que pensei que minhas pernas fossem ceder.

— Pai… — murmurei, ainda tentando respirar. — Eu estou dizendo a verdade.

Ele riu. Um som seco. Cruel e amargo.

— Você não tem o direito de me chamar assim.

As palavras atravessaram meu peito como uma flecha em chamas, enchendo meus olhos de mais lágrimas. Minha irmã armou contra mim, e meu pai não me amava o suficiente para acreditar nas minhas palavras.Eu estava sozinha, sem ninguém para chamar de família. 

Fechei os olhos, recordando o rosto da minha mãe. A única que me amou verdadeiramente. Ela disse que eu ficaria bem, que teria tudo aquilo que ela nunca teve e encontraria um bom marido, que ser uma Windmere me salvaria.

Era tudo mentira. 

Eu nunca pertenci a essa família.

— Pai, por favor. — implorei, estendendo o braço através das grades.

Edmond deu um passo para trás, o rosto contorcido em um careta desgostosa. A testa estava franzida,os lábios apertados.

— Você é uma renegada a partir de hoje, Taryn. Não vou permitir que carregue o nome Windmere para a lama. Será julgada e pagará pelos seus crimes. 

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