Ecos de Verdade
A madrugada envolve a clínica num silêncio quase sagrado, interrompido apenas pelo bip ritmado dos monitores cardíacos e pelo rumor distante do gerador de emergência.
No consultório particular de Caleb, a penumbra é quebrada pela luz azulada de um tablet sobre a mesa.
Na tela vibra o passado:
Sofi, sorridente, embala Lucas recém-nascido e canta “Clair de Lune” num francês hesitante, aprendido só para impressionar o marido.
A gravação termina com a gargalhada dele fora de quadro, então a imagem congela.
Caleb desliza o polegar no vidro como se pudesse tocar a pele de Sofi.
A culpa pulsa nos ombros. Ignorou o pedido dela por uma avaliação neurológica e confiou cegamente em Francine.
Agora, cada papel espalhado sobre a mesa, exames alterados, prescrições rasuradas, e-mails arquivados, revela um roteiro em que ele foi cúmplice involuntário.
Apertando a ponte do nariz, respira fundo e força-se a continuar revisando cada detalhe.
Um leve bater à porta