Mundo de ficçãoIniciar sessãoMike nunca foi o tipo mais formal. Nem o mais discreto. Mas quando se tratava de proteger quem ele considerava família… ele se tornava um estrategista astuto e surpreendentemente eficiente.
Foi assim que, numa manhã qualquer, ele entrou no saguão do antigo hotel onde tudo aconteceu cinco anos antes, com um sorriso malicioso e um charme que fazia as recepcionistas se endireitarem na hora.
— Bom dia, querida. Preciso muito da sua ajuda. É que houve um probleminha técnico com as câmeras de segurança daqui... coisa antiga, mas que precisamos revisar com cuidado. Coisa de governo, sabe como é — disse ele, piscando com aquele jeito sacana de sempre.
A mulher, um pouco desconfiada no início, cedeu após poucos minutos. Mike tinha aquele talento de parecer inofensivo até colocar as mãos no que queria.
— Aqui estão os arquivos da semana do ocorrido. Nunca ninguém pediu eles antes — ela comentou, entregando um pen drive de acesso direto ao sistema antigo.
Mike estreitou os olhos.
— Nunca?
— Nunca. A única gravação que nos solicitaram foi levada por uma tal de… Kimberly, se não me engano.
Seu estômago virou.
— Obrigado. — disse, e dessa vez, sem ironia alguma.
Ele saiu dali com os arquivos originais no bolso e um nó apertado no peito. Tinha algo muito errado desde o início. E agora ele estava mais perto de provar.
Enquanto isso, o centro de operações estava silencioso. Era madrugada, e os monitores embaçados pelas luzes fracas davam à sala um ar fantasmagórico.
Sophia estava ali.
Não por obrigação. Mas porque o sono simplesmente não vinha.
Havia revisto a gravação manipulada pela milésima vez, procurando respostas onde só havia dúvidas. Entre um café frio e outro, o corpo dela cedeu. Dormiu sobre a mesa, o rosto encostado nos braços cruzados, os cabelos bagunçados caindo pela face.
Foi assim que Adam a encontrou.
E, por um momento, esqueceu tudo.
A mulher que um dia foi seu mundo… agora parecia uma criança exausta, encolhida sobre o frio metálico da mesa. As olheiras fundas, o cansaço estampado, o corpo tenso até mesmo dormindo.
Ele se aproximou em silêncio.
Ajoelhou-se ao lado dela.
E com uma delicadeza que ninguém jamais acreditaria que o "Wolf" possuía… passou o braço por trás dos ombros dela e a levantou com cuidado.
Ela se mexeu, mas não acordou.
— Shhh… — ele murmurou, como se pudesse protegê-la até nos sonhos.
A levou até sua sala, onde o sofá de couro escuro era o lugar mais confortável do prédio. Cobriu-a com a manta que usava nas longas noites de táticas e relatórios. Depois, afastou-se devagar, sentando-se na poltrona próxima, pegando os documentos da nova missão.
Mas ele não conseguiu ler.
Porque Sophia começou a murmurar.
Primeiro, foi o franzir da testa. Depois, os braços puxando a manta com força. Um tremor súbito percorreu seu corpo. Estava suando, mesmo com o ar gelado da sala. Então, vieram as palavras.
— N-não... não me toca... por favor...
Adam largou os papéis.
O sangue sumiu de seu rosto.
Ela se contorcia.
Sussurrava entre soluços.
Estava presa no pesadelo.
— Sophia... — ele sussurrou, se aproximando, sem encostar, mas ajoelhado ao lado do sofá.
— Eu... eu não... por favor, para... — ela chorava, mesmo dormindo.
As mãos dele se fecharam em punhos. Ele queria gritar. Quebrar algo. Quebrar tudo. Porque naquele momento, ele soube com toda certeza:
Ela não mentiu.
Aquilo que ela dizia — que não lembrava, que se culpava, que tremia ao ser tocada — não era fingimento. Era trauma. Era dor cravada na alma.
E ele a abandonou.
Ficou ali por longos minutos, observando-a. Quis pegá-la no colo e protegê-la do mundo inteiro. Quis voltar no tempo. Quis... ouvir.
Mas tudo que podia fazer agora era esperar que o dia trouxesse alguma paz.
E que o passado finalmente começasse a revelar a verdade.
No dia seguinte, Sophia acordou lentamente. Estava coberta, o sofá era macio, e havia uma xícara de chá morno sobre a mesinha ao lado com um bilhete rabiscado:
“Você merece dormir bem. Não precisa se desculpar por estar cansada. — A.”
Ela segurou o bilhete com as mãos trêmulas.
E pela primeira vez em muito tempo… chorou não de dor, mas de alívio.
Na mesma manhã, Mike chegou à base com os arquivos originais e um sorriso de quem estava prestes a explodir o mundo.
— Adam… precisamos conversar. Agora.
Adam olhou para o amigo. Havia algo diferente na expressão dele. Uma mistura de triunfo e raiva.
— Encontrei as gravações. As reais. E, mano… Você vai querer ver isso.







