Damian
Eu já suspeitava. Havia dias em que o cheiro dela desaparecia das rotas comuns, como se o próprio castelo a engolisse e devolvesse horas depois, com um vento diferente grudado na pele.
Eu dizia a mim mesmo que era impressão, que os olhos do dia às vezes inventam sombras. Mas hoje não houve invenção, veio a confirmação, seca, direta. Ela saiu em segredo para encontrar sobreviventes da antiga matilha.
A confirmação me corroeu por dentro como ferrugem. Não pelo caminho que ela trilhou, não pela coragem de ir, coragem ela tem, mas pelo silêncio. Para mim, o dia não perdoa traições. E, mais do que a ação, foi esse silêncio que me feriu.
Mandei que abrissem a sala do trono. Não chamei ninguém. Eu precisava de pedra para segurar a voz e de espaço para não quebrar nada. Caminhei do degrau à porta, tentando guardar a raiva no lugar certo do peito.
O chão, frio, me lembrava de respirar. Eu respirava e repetia: “fala como rei”. Mas era difícil. Havia um homem dentro de mim batendo mais