Damon
As semanas em que Selene dormiu só no quarto do meu irmão ensinaram a minha cama a fazer barulho. O colchão rangia quando eu virava, o lençol, sem o cheiro dela, parecia áspero, a janela insistia em bater de leve, mesmo sem vento.
Eu não tinha percebido que a casa inteira se acostumou ao passo de Selene, ao aroma dela pela manhã, ao jeito como ela fechava a porta sem fazer barulho.
Quando ela ficou apenas com o Rei do Dia, como devia ser, como decidimos juntos, eu entendi que a noite, por mais que me pertença, tinha aprendido a dividir lugar com o riso dela.
Não vou dizer que foi fácil. Minha parte ruim quis arrombar a porta certa noite e arrancá-la do sono do sol. Minha parte boa ficou sentada na borda da cama, mãos nos joelhos, respirando até doer, repetindo o acordo como um rosário: “primeiro o herdeiro do dia, depois, o da noite, e, em todos os instantes, Selene pertence a si mesma”. Shadow, meu lobo, rosnava baixo, mas não para fora, rosnava em mim, lembrando de limite.
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