Selene
A lua estava alta, subia devagar, como se quisesse ver de perto o que eu ia fazer. Eu também. Passei os dedos pela lateral do vestido azul-escuro até sentir o peso familiar da adaga contra a coxa.
Não por medo. Por memória. Às vezes eu ainda acordava com cheiro de sangue no altar. Às vezes eu ainda ouvia o “isca” sussurrado na pele. Hoje, a palavra queimava de outro jeito: no olhar.
O salão do banquete abria-se como um peito orgulhoso. Tochas acesas, bandeiras ao alto, mesas corridas de madeira pesada. Cheiros de mel, carne, vinho e mais.
As pessoas falavam alto para não ouvirem o que realmente pensavam. No fundo, o trono do dia e a cadeira da noite eram irmãos, como seus donos, iguais no corpo, opostos no modo como encostavam no mundo.
Damian me esperava no topo da escada de pedra. A luz dos vitrais caía sobre ele, deixando o contorno do ombro quase ouro. Quando estendi a mão, ele ofereceu o braço sem pose, só firmeza. O cheiro dele veio com um sopro de sol. Senti Ash sorri