A luz entrava preguiçosa pela janela da cozinha.
Clara estava descalça, a camiseta folgada caindo num dos ombros, e o café coando em silêncio.
Na mesa, ao lado do caderno de bilhetes, um envelope com o nome dela em fonte elegante:
Editora Orion
“Prezada Clara Rivera,
após a repercussão da exposição INTERVALO, gostaríamos de conversar sobre a possibilidade de transformá-la em um livro.
Não apenas um catálogo, mas uma obra sensível, visual e textual, como só você saberia compor.”
Ela leu mais uma vez.
Ainda não sabia o que responder — mas no fundo, sabia sim.
Ela queria.
Não por vaidade.
Mas porque existiam coisas que os quadros não conseguiam mais segurar sozinhos.
Noah entrou na cozinha ainda vestindo a camiseta escura de dormir, cabelos desalinhados e olhar amassado.
— Bom dia, editora best-seller.
— Ainda nem aceitei.
— Aceita.
Porque o mundo precisa ler o que você sente.
Ela se aproximou e colou um bilhete no peito dele, com a fita que usava para marcar molduras.
“Você é o prefácio