Na última manhã em Beacon, Clara acordou com o som de pássaros e o cheiro de pão na chapa vindo da cozinha.
Sentou na beira da cama e ficou olhando o quarto por alguns minutos.
As paredes claras.
A prateleira com os livros de Sol e André.
O cavalete improvisado no canto.
A janela com vista para o parque.
Ali, ela havia reaprendido a respirar.
Ali, não lembrando de quem foi, ela descobriu quem ainda podia ser.
Enquanto Sol preparava o café, Clara apareceu com um papel dobrado nas mãos.
— Escrevi uma coisa — disse. — Posso deixar aqui?
Sol limpou as mãos no pano de prato e assentiu, olhando para ela com aquela mistura de orgulho e ternura que só as irmãs mais velhas sabem carregar.
Clara colocou o papel sobre a mesa.
Era um bilhete simples, com letras arredondadas.
“Beacon me ensinou a ouvir sem pressa.
Aqui, cada manhã foi um passo.
Cada cor, um retorno.
Não me lembro de tudo.
Mas me lembro de ter sido inteira.
Obrigada por me deixar ser silêncio e recomeço.
– Clara”
Sol não disse nada