Na manhã da quarta-feira, Clara acordou com a luz invadindo o ateliê devagar, tocando a tela principal como se fosse cúmplice do que ela tinha feito ali.
Era o dia da montagem na galeria.
O apartamento estava cheio de caixas, molduras envoltas em plástico bolha, etiquetas feitas à mão com títulos como “Entre o silêncio e o sim”, “Quando ele me viu pela primeira vez”, e um mais simples: “Coração com delay”.
Clara andava de um lado pro outro, cabelo preso em um coque apressado, camiseta velha com manchas de tinta azul petróleo e os pés descalços. Uma aura de caos artístico pairava no ar — e ela se sentia inteira dentro disso.
Noah apareceu na cozinha com o rosto ainda amassado de sono, camisa cinza e uma caneca de café nas mãos.
— Tem tinta até na maçaneta da porta — disse ele, fingindo um tom sério.
— É arte expandida — respondeu ela, abrindo um sorriso torto.
— E você dormiu?
— Não. Mas pintei a moldura de uma das telas com um pincel de maquiagem. E escrevi um bilhete com batom.
Ele s