Noah acordou antes do despertador naquela manhã — e, pela primeira vez em meses, não tinha cirurgia agendada. Tinha, no lugar, dois dias de folga e um convite meio desajeitado da Clara da noite anterior:
— Vem pro ateliê. Me ajuda com os quadros. Ou só fica por perto. Pinta uma moldura, mexe nos papéis... ou só me olha. Vale?
Ele disse que sim, meio sem saber o que ia fazer entre telas, pincéis e caos criativo. Mas ali estava ele: jeans velho, camiseta manchada de tinta emprestada, uma caneca de café forte na mão e uma curiosidade tímida nos olhos.
Clara já estava trabalhando quando ele entrou no ateliê. Usava um macacão azul-marinho cheio de respingos e uma fita no cabelo, como se tivesse saído de um clipe dos anos 90.
— Bom dia, artista residente — ela disse, sem parar de pintar.
— Bom dia, caos organizado — ele respondeu, encostando no batente da porta. — Onde posso ser útil?
— Começa separando os papéis de colagem. Aqueles com textura. E não, não vale rasgar os bons.
Ele levantou