Capítulo 43

Naquela manhã, Clara acordou antes do sol.

Abriu a janela do quarto devagar, como quem pede licença ao mundo.

O céu ainda estava cinza, mas a brisa era morna.

O dia prometia alguma coisa — ela só não sabia o quê.

Vestiu um casaco leve, pegou a caneca de chá que Sol sempre deixava sobre a mesa da cozinha e sentou no degrau da varanda, de frente pro jardim adormecido.

Respirou fundo.

E pensou:

“Acho que está na hora.”

Mais tarde, enquanto Sol picava legumes para o almoço, Clara se aproximou devagar, o cabelo ainda preso com uma presilha torta e os olhos brilhando de algo novo.

— Posso te contar uma coisa?

Sol parou o movimento da faca, limpou as mãos num pano de prato e olhou para ela com atenção de irmã.

— Sempre.

Clara se sentou na bancada.

Brincava com uma colher de pau entre os dedos.

— Eu tô querendo voltar pra Nova York.

Sol ficou em silêncio. Não por surpresa — mas por respeito ao que vinha depois.

— Quer voltar pra sua vida?

— Quero voltar pra mim.

Não sei se a mesma. Nem sei se
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