Naquela manhã, Clara acordou antes do sol.
Abriu a janela do quarto devagar, como quem pede licença ao mundo.
O céu ainda estava cinza, mas a brisa era morna.
O dia prometia alguma coisa — ela só não sabia o quê.
Vestiu um casaco leve, pegou a caneca de chá que Sol sempre deixava sobre a mesa da cozinha e sentou no degrau da varanda, de frente pro jardim adormecido.
Respirou fundo.
E pensou:
“Acho que está na hora.”
Mais tarde, enquanto Sol picava legumes para o almoço, Clara se aproximou devagar, o cabelo ainda preso com uma presilha torta e os olhos brilhando de algo novo.
— Posso te contar uma coisa?
Sol parou o movimento da faca, limpou as mãos num pano de prato e olhou para ela com atenção de irmã.
— Sempre.
Clara se sentou na bancada.
Brincava com uma colher de pau entre os dedos.
— Eu tô querendo voltar pra Nova York.
Sol ficou em silêncio. Não por surpresa — mas por respeito ao que vinha depois.
— Quer voltar pra sua vida?
— Quero voltar pra mim.
Não sei se a mesma. Nem sei se