Protegida pelo Alfa
Protegida pelo Alfa
Por: Sandra Ribeiro
CAPÍTULO 01

AURORA

Desde pequena, eu sonhava com o dia em que minha loba despertaria. Sonhava com o frio na espinha, com os ossos estalando e se ajustando em outros ângulos, com o poder correndo em minha veia.

Quando perdi meus pais — cedo demais em um acidente inexplicável — Victor, nosso alfa, mostrou um grande interesse em ser meu guardião.

Muitos acreditavam que eu poderia ser a companheira predestinada dele, mas isso só se revelaria quando minha transformação acontecesse.

Claro que eu estava encantada com toda a atenção do alfa, até o momento em que realmente me transformei. Quando isso aconteceu, nada foi como eu imaginava. A dor que senti foi dilacerante, tão intensa que parecia rasgar minha alma ao meio.

E, quando tudo terminou, me vi ali… com as quatro patas firmes no solo, o coração acelerado e um novo mundo se abrindo diante de mim. Imaginei, então, que aproveitaria aquela liberdade.

Mas me enganei completamente.

Victor — o alfa — me fitava como quem, enfim, havia encontrado aquilo que desejara há muito tempo.

Quando imaginei que sentiria nossa ligação despertando, senti foi o peso das correntes de suas ordens de alfa, impondo que eu não revelasse a ninguém sobre minha transformação.

Ele jamais revelou abertamente sua natureza egoísta e gananciosa. Até aquele momento.

Nenhum lobo conseguia ir contra as ordens de um alfa. Era algo que ia além da vontade, que se impõe como um comando cravado na alma. A autoridade do alfa se entrelaça com nosso instinto, tornando impossível resistir.

— Ninguém pode saber o que você é agora — ordenou ele, com a voz baixa e o olhar sombrio. — Se alguém souber, você estará morta.

Após aquele dia, me vi presa em um verdadeiro inferno pessoal. Ainda não entendia o que tinha feito de errado. Tudo o que fiz foi… me tornar quem eu nasci para ser.

Ele passou a me tratar como uma propriedade — não como alguém com sentimentos. E, para piorar toda aquela situação, ele encontrou Agne, sua verdadeira companheira predestinada.

Se já era duro ser prisioneira de um tirano, naquele dia percebi outra coleira apertando meu pescoço. Foi então que entendi que tudo em que acreditava não passava de uma ilusão.

E mesmo tendo encontrado sua verdadeira companheira, manteve-me cativa em sua casa, afirmando que eu continuaria submissa a ele e que faria comigo o que bem entendesse.

Eu não conseguia me rebelar, muito menos entender os seus motivos. Minha loba — por razões que eu desconhecia — permanecia em silêncio. Eu sabia que ela estava ali, mas não conseguia mais sentir sua força.

A ordem que ele havia imposto para que ela nunca se manifestasse a manteve acorrentada, e toda vez que tentava se aproximar de mim, algo invisível parecia feri-la.

Só compreendi o verdadeiro motivo para ele não me deixar partir, quando fomos surpreendidos por um ataque, e ele acabou gravemente ferido.

Uma mordida profunda dilacerava a lateral de sua barriga. O sangue jorrava sem controle, escorrendo por entre seus dedos enquanto ele tentava, em vão, conter o ferimento.

Os curandeiros fizeram de tudo. Nada funcionava. Sua regeneração natural não era veloz suficiente para deter aquilo. A ferida simplesmente não fechava.

Até que a ordem foi dada para que me levassem até ele. Victor estava pálido, o olhar turvo pela dor, mas ainda assim me fitou com autoridade.

— Me cure — ordenou com a voz rouca. — Agora.

— Eu… eu não sei como fazer isso — gaguejei, desesperada, sem entender ao certo o que ele esperava de mim.

— Apenas me toque e ordene a cura. Sua loba saberá como agir — instruiu, a voz carregada de dor e irritação.

Obedeci, tocando sua pele e ordenando a cura. A dor me atravessou como uma lâmina. Meu corpo arqueou, uma energia violenta me atravessando e, por um momento, tudo pareceu explodir dentro de mim.

Era como se cada pedaço do meu ser estivesse sendo arrancado à força. Minha visão escureceu, meus joelhos cederam, e caí, ainda segura a ele.

Mas, em minutos, diante de nossos olhos, o ferimento começou a se fechar, como se nunca tivesse existido. Todos pareciam incrédulos — inclusive eu.

Mas ele não me olhou. Nem por um segundo.

A única ordem, seca e definitiva, foi que nada daquilo deveria ser comentado. Nenhuma palavra.

Os curandeiros se entreolharam, visivelmente confusos com o que haviam presenciado. Mas todos abaixaram a cabeça. Victor não precisava repetir. Sua presença bastava para silenciar até os pensamentos.

Percebi, em silêncio, porque aquele alfa miserável queria tanto me esconder. Eu possuía um dom raro, quase extinto entre nós — o poder de cura.

Era provável que minha loba carregasse essa marca única, e foi exatamente por isso que ele proibiu minha transformação.

Depois daquele dia, ele também me proibiu de se aproximar de qualquer lobo ferido. Temia que, se meus poderes fossem usados em excesso, pudessem se esgotar... ou até me levar à morte.

Queria ser o único a ter acesso a eles, como se meu dom fosse uma arma valiosa a ser controlada — por ele e por mais ninguém.

Victor ordenou que todos guardarem meu segredo. Para aqueles que nunca me viram transformada, eu era apenas a loba defeituosa que não passou pela transformação.

E minha loba? Ela se calou, mais uma vez. Sentia a dor dela de ser aprisionada, o meu medo constante de que ele cumprisse a ameaça de nos matar.

Victor fazia questão de me violentar diversas vezes, como um castigo humilhante, mesmo tendo sua companheira. Um tipo de diversão perversa e uma tentativa falha de me fazer quebrar.

Sempre que isso acontecia sua companheira ficava revoltada, mas aquela idiota acreditava quando ele dizia que era algo necessário para controlar e manter meu poder.

A verdade era que tudo aquilo não passava de manipulação. Ele queria destruir tudo o que existia em mim que escapava ao seu controle. Queria forçar minha rendição como se eu fosse um animal ferido, implorando por piedade.

Mas eu não admitiria mais aquilo.

Não dessa vez.

Dominado pelo cio de Agne, Victor esqueceu-se de um simples detalhe — trancar a porta do meu quarto, minha prisão dentro de sua própria casa — como fazia todas as noites para impedir minha fuga.

Minhas mãos tremiam enquanto eu enfiava tudo o que podia dentro da bolsa. Cada batida do meu coração soava como um alarme prestes a disparar.

Eu precisava ser rápida, silenciosa, sair dali sem que ele percebesse minha ausência. Ele estava no quarto ao lado com Agne em um momento íntimo.

Peguei minha carteira e o pouco dinheiro que possuía. O dinheiro que consegui guardar, escondido dele.

O barulho vindo do quarto era ensurdecedor, e cada som me dava ainda mais esperança para escapar. Naquela noite, tive a chance que esperava por anos.

Já tinha tentado fugir antes, mas sozinha, sem poder me transformar, minhas chances foram totalmente nulas. Fui capturada antes mesmo de cruzar a fronteira.

Ele me espancou quando fui pega nesse dia. E apesar de ter o dom da cura, ela não funcionava em mim como funcionava com os outros.

Não depois que ele impediu minha transformação.

Eu nunca escolhi essa vida. Não escolhi ficar — mas ele me garantiu que se sentisse minha rejeição, eu seria morta imediatamente. E Tudo isso foi imposto pela força.

Me submeti porque minha loba nunca conseguiu se rebelar contra ele. Fui um troféu enjaulado. Uma boneca nas mãos de um alfa intransigente, cruel, violento.

Mas não mais.

Hoje, eu fugiria. Ou morreria tentando.

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