Capítulo 6: Ravi Bonetti

Três meses depois...

O tempo tem um jeito estranho de passar quando a gente está tentando esquecer.

Cinco meses. Cento e cinquenta dias. Milhares de tentativas falhas de apagar da memória o gosto de um beijo, o som de uma risada baixa no meio da madrugada, o calor de um corpo que nunca mais encontrei. Cinco meses desde que ela desapareceu da minha vida como se nunca tivesse existido — deixando apenas uma pulseira fina no chão do meu quarto, como prova de que aquela noite não foi um delírio meu.

Mas, de certo modo foi, porque depois daquela madrugada, nunca mais a vi. Nenhum sinal, nenhum nome, nenhuma pista. Era como tentar encontrar um fantasma em Londres. Eu sequer sabia o sobrenome dela e a verdade é que eu não procurei de verdade. Parte de mim dizia que foi melhor assim. Que foi só um momento fora da curva. Que eu estava bêbado, vulnerável, quebrado demais.

Havia algo naquela garota que me despertou um interesse que há muito tempo estava adormecido, mas aceitei que era apenas o alcool falando tão alto em meus ouvidos a ponto de aceitar a primeira mulher que consegui levar para a minha cama. Não tenho tempo para isso.

Qualquer coisa que não seja meu trabalho e depois dessa recaída, foquei apenas nisso. Claro que manter minha cama vazia nunca foi uma opção, porém continuo sem saber seus nomes, é mais fácil assim, não dar esperanças a nenhuma das mulheres que meu melhor amigo me apresenta quando saímos juntos. 

Contudo ainda existe uma parte acorda às vezes no meio da noite, jurando sentir o cheiro do cabelo dela no travesseiro.

Suspirei, esfregando o rosto com as mãos antes de puxar o paletó para frente e sair do elevador, terminando de responder um email no celular. Estávamos a caminho de mais uma reunião informal com investidores. Pedro achou uma cafeteria nova, dizia que era charmosa e discreta. Ideal para conversas rápidas e reuniões mais leves.

O negócio de hoje nos renderia um lucro atrativo demais para ser perdido, e não existe nada melhor para agradar os clientes do que um café bem feito. Embora Pedro insista em manter o tom informal, que sempre me assusta.  

— Não adianta fazer essa cara de velório, Ravi — Pedro murmurou ao meu lado enquanto caminhávamos pela calçada. — É só uma reunião e depois te levo para almoçar. Prometo que não é nenhum pub.

— A última vez que você me prometeu isso, acordei com dor de cabeça e sem dignidade — murmurei, cruzando os braços. — Você se lembra?

Ele riu alto.

— Aquele dia foi uma exceção. E você estava precisando. Fazia tempo que eu não te via beber tanto.

— Talvez porque no dia seguinte precisavamos viajar para o Japão?

— Mas nós fomos, e você ficou com aquela modelo, como é mesmo o nome dela?

— Você sabe que eu não sei o nome dela. — reviro os olhos e guardo o celular no bolso. 

— Uhum, só quero ver até quando isso vai durar, já que disse que Julia quer uma amiga.

— Sua esposa já tem amigas demais.

— E você precisa de uma.

Não respondi. Porque ele tinha razão. Eu não sorria. Não de verdade. Desde Emma. 

A cafeteria era de esquina, com uma fachada simpática e janelas grandes. Um aroma forte de café fresco escapava pela porta quando entramos, e por um breve momento, aquele cheiro me transportou para outro lugar. Um lugar mais leve. 

— Senta ali que eu vou pedir — Pedro apontou para uma das mesas próximas à janela.

Assenti e me acomodei, abrindo o celular por reflexo, mas sem realmente ver o que fazia. Abri o notebook sobre a mesa e comecei a procurar os dados que precisariamos apresentar assim que os clientes chegassem e enquanto o arquivo abria, passei meus olhos pelo ambiente claro e aconchegante.

Um ruído sutil chamou minha atenção. O som de uma risada suave e feminina.

Levantei os olhos e o mundo parou.

Ela.

Estava atrás do balcão, com um avental claro amarrado na cintura, os cabelos presos de forma despretensiosa, e ainda assim, tão linda que minha respiração falhou por um segundo. Estava de costas, arrumando xícaras, quando se virou eu perdi o ar.

A garota do bar.

Meu coração deu um solavanco, como se tivesse lembrado que existia. Eu demorei a levantar, pois minhas pernas pareciam travadas ao ver um fantasma. Mas, quando finalmente me aproximei do balcão, ela ergueu os olhos e nossos mundos colidiram outra vez.

— Posso... ajudar? — ela perguntou, a voz firme, mas com um leve tremor que talvez só eu tenha notado.

— Um expresso duplo, por favor — respondi, a única coisa que consegui pensar. 

Ela assentiu, virando-se para preparar o pedido. E eu fiquei ali observando seus movimentos por cima do balcão de vidro que me deixava ver apenas seus ombros e o corpo entre os doces expostos, tentando entender se ela realmente estava ali, ou se meu cérebro finalmente tinha surtado.

— Você trabalha aqui? — perguntei, tentando soar casual, mas minha voz saiu mais baixa do que eu queria. — Não te encontrei mais no bar. 

Ela hesitou por um segundo, mas respondeu:

— Sim. Comecei faz uns meses. Infelizmente eles não me acharam mais uma boa funcionária.

— Sinto muito por isso. Você sumiu.

As palavras escaparam antes que eu pudesse contê-las. Ela travou, por um instante, mas continou de costas trabalhando na máquina de café atrás do balcão.

— Não sabia que precisava avisar.

A garota se virou e percebeu que eu estava na parte mais baixa de madeira, onde os pedidos eram entregues, e hesitante se aproximou com a minha xícara. Meu olhar caiu, instintivamente, para o avental amarrado ao redor do corpo dela e então vi. Um volume discreto, mas visível. A curva suave que não estava ali antes.

Meu coração disparou.

As mãos dela tremiam levemente enquanto colocava a xícara sobre o balcão, e por um segundo que pareceu uma eternidade, nossos olhos se encontraram. Nos dela, vi algo que me arrancou o ar dos pulmões: pavor.

— Ravi! — Pedro cutucou meu ombro, sua voz me puxando de volta. — Vem logo, o pessoal da Venture chegou!

Olhei de volta para Manu, mas ela já estava se afastando. Deu um passo para trás, depois outro, como se estivesse fugindo. Sem dizer uma palavra, virou-se e correu para dentro da cozinha.

Deixando para trás o cheiro de café e uma dúvida que agora gritava mais alto do que qualquer coisa.

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