Lorenzo Bianchi
Ela estava ali.
Aurora.
E por um instante, o tempo fez silêncio dentro de mim.
O salão da galeria estava cheio — artistas, enólogos, curadores, flashes discretos — mas eu só conseguia enxergar ela.
A menina do parreiral. A garota com cheiro de tinta.
A mulher que ela se tornou.
Inteira. Forte. Serena.
Quando nossos olhos se encontraram, senti um aperto no peito.
Não era culpa. Era perda.
E talvez um pouco de vergonha também.
Ela parecia tão dona de si. Diferente e, ao mesmo tempo, exatamente como eu lembrava.
E foi aí que vi.
A tela atrás dela.
Promessa Incompleta.
O título sozinho já me desmontou.
Mas a pintura... aquela pintura...
Era nós dois.
Era o parreiral.
Era o céu dourado da nossa última tarde.
Era eu, indo embora, e ela... ficando.
Um traço quase imperceptível unia duas silhuetas distantes, como se ainda restasse algo, uma linha fina entre o que foi e o que não terminou de ser.
Tive vontade de falar.
De explicar.
De pedir desculpas por cada men