Isabella estava parada ao pé da escada, vestindo um simples vestido branco, a imagem perfeita da inocência frágil.
Assim que me viu, um sorriso radiante se espalhou por seu rosto.
— Você deve ser a Sophia. Eu sou a Isabella. É um prazer finalmente te conhecer.
Não respondi. Apenas a encarei de cima.
Don Romano surgiu da sala de estar. Ao ver Isabella, uma expressão rara de afeição paternal cruzou seu rosto.
— Isabella, você deve estar cansada da viagem. Peça para a Sophia lhe mostrar o quarto.
— Obrigada, tio Romano. — Respondeu Isabella docemente.
— Fique com o quarto da Sophia. Ele recebe a melhor luz, é perfeito para a sua recuperação. — Anunciou Don Romano.
Virei-me para ele.
— O meu quarto?
— A partir de agora, é o quarto da Isabella. Você pode se mudar para o terceiro andar. Tem um quarto de hóspedes vazio lá em cima.
Uma risada fria escapou dos meus lábios.
— Estou fora.
Subi as escadas de volta e comecei a arrumar minhas coisas.
Trinta minutos depois, eu arrastava minha mala escada abaixo.
Don Romano viu minha bagagem e franziu a testa.
— Aonde você pensa que vai?
— Estou indo embora. — Respondi sem olhar para trás. — Já que não sou mais uma Romano, não tenho motivo pra continuar aqui.
— Sophia! — Gritou ele atrás de mim. — O seu casamento é em duas semanas! Não seja ridícula!
— Eu sei. — Abri a porta. — Estarei no casamento, para cumprir o nosso acordo.
A porta se fechou com força atrás de mim. Fui embora da propriedade dos Romano sem olhar para trás.
Minha primeira parada foi o hotel mais caro de Manhattan, o Plaza.
— Quero a suíte mais cara que vocês tiverem. — Disse ao concierge.
— Por quantas noites?
— Duas semanas.
Na hora de pagar, usei o cartão de crédito suplementar que Don Romano tinha me dado. O limite era de cinco milhões de dólares, algo que eu raramente havia tocado.
Hoje, eu pretendia estourá-lo.
Assim que entrei na suíte, dei início imediato à minha vingança financeira.
Entrei em contato com a costureira particular da Vera Wang e encomendei três vestidos de noiva sob medida, cada um no valor de cem mil dólares.
Depois, comprei dez conjuntos de joias de luxo e dois Rolex de edição limitada.
Em um único dia, gastei quase quatro milhões de dólares.
Logo, recebi a ligação de Don Romano.
— Sophia! Você ficou louca?! Gastou quatro milhões em um único dia!
— Qual o problema? — Perguntei, esparramada no sofá de couro macio do hotel. — Estou sendo despachada para Boston. Uma garota precisa causar uma boa impressão.
— Você precisa gastar tudo isso para impressionar?
— Claro. — Respondi, tomando um gole do meu champanhe. — Vou me casar com o herdeiro da família Sterling. Não posso parecer barata, né? Além disso, os Sterlings estão pagando quinhentos milhões por essa aliança. Uns milhões a mais são troco de bolso.
— Você... — Don Romano estava fervendo de raiva.
— Pai... Ah, espera, acho que agora é melhor te chamar de Sr. Romano. — Ri. — Você já me deserdou, então não é certo eu continuar gastando seu dinheiro. Que tal isso: assim que o dinheiro da aliança cair, eu te reembolso na hora.
Desliguei e continuei minha farra de compras.
Meu plano era simples: secar os ativos líquidos da família Romano antes que o dinheiro da aliança chegasse. Aí, os quinhentos milhões cairiam direto na minha conta. Se Don Romano quisesse esse dinheiro, teria que vir implorar.
Quero ver se ele ainda ia preferir aquela mãe e filha depois disso.
Estava prestes a fazer minha rodada final de compras quando meu celular vibrou.
Era uma mensagem de Vincent. [Você não apareceu no complexo há três dias. Aconteceu alguma coisa?]
Fiquei olhando para a mensagem, o coração disparando no peito.
Mas logo me recompus. Vincent só odiava quando desobedeciam suas ordens. Era só isso.
Respondi: [Coisa de família. Vai se resolver em alguns dias.]
Vincent não respondeu.
Na manhã seguinte, enquanto eu saía para continuar meu ataque ao mundo da moda, o concierge do hotel me parou.
— Srta. Romano, sinto muito, mas sua conta foi congelada. A senhorita não poderá mais cobrar nada para o quarto.
— Como assim?
— Será necessário quitar sua conta imediatamente, ou... — Disse ele, fazendo uma pausa sutil. — Teremos que pedir que se retire.
Uma hora depois, eu estava de pé na calçada, em frente ao Plaza, com minhas malas.
Sem dinheiro. Sem teto.
Eu não conseguia me forçar a vender os artigos de luxo que havia comprado. Precisava deles como armadura para enfrentar Boston.
Pensei em ligar para alguma amiga, mas logo percebi que não tinha nenhuma. As pessoas que me cercavam só estavam ali por causa do poder e da influência da família Romano.
Agora que eu tinha sido expulsa, quem se importaria comigo?
Com o cair da noite, arrastei minha mala pelas ruas sem rumo.
Por fim, encontrei um banco vazio no Central Park e me sentei.
A noite se aprofundou. O parque estava silencioso, exceto pelo zumbido distante do trânsito.
Abracei os joelhos, contando mentalmente os cinco dias que faltavam para o casamento. Não dava para viver na rua até lá.
Enquanto me preocupava, alguns homens bêbados se aproximaram cambaleando.
— Ei, gata... Sozinha a essa hora? — Um deles balbuciou, fedendo a bebida barata.
Levantei-me, alerta.
— Fiquem longe de mim.
— Ah, qual é... — Disse o homem, estendendo a mão na minha direção. — Vem tomar uma com a gente.
Dei um passo para trás, mas o banco bloqueou minha fuga.
Foi então que uma voz baixa e ameaçadora cortou o ar.
— Ela está comigo.
Virei-me. Vincent surgia das sombras, o rosto fechado numa máscara de fúria.
Os bêbados mal lançaram um olhar à sua presença imponente antes de saírem em disparada.
Vincent caminhou até mim, o olhar passando pelas malas, depois pelo banco.
— Sem-teto... e, mesmo assim, você se recusa a vir para mim?