Capítulo 3
Vincent me levou de volta para a mansão dele, em Manhattan.

Eu estava no banco do passageiro, encarando as luzes neon que passavam pela janela, com um vazio enorme se abrindo dentro do peito.

— Chegamos. — Vincent estacionou o carro e deu a volta para abrir minha porta.

Por que sempre tinha que ser assim? Ele não me amava, mas dormia comigo. E mesmo assim, continuava sendo absurdamente atencioso.

Um nó se formou na minha garganta.

Desci do carro e o segui, arrastando minha mala atrás de mim.

Eu conhecia aquela casa bem demais. Cada canto guardava uma lembrança dos nossos corpos entrelaçados.

Vincent estendeu a mão para pegar minha mala, prestes a levá-la para o quarto onde eu sempre ficava.

— Não. — Me adiantei, indo direto para um quarto de hóspedes. — Vou ficar só doze dias. Aqui tá bom.

Vincent parou no meio do caminho.

— Você pode ficar o tempo que quiser.

Coloquei minha mala no quarto de hóspedes e fechei a porta.

Sentei na beira da cama, encarando a tela do celular. Mais doze dias, e eu deixaria Nova York para sempre.

Na manhã seguinte, desci para o andar de baixo. Vincent já estava na sala de jantar. Quando me viu, apontou para a cadeira em frente à dele.

Sentei-me. Uma empregada trouxe leite e torradas.

— Vincent. — Comecei.

Ele ergueu o olhar, o rosto sereno por trás dos óculos.

— Você sabia que a Isabella é filha da Maria?

— Descobri ontem. — Respondeu, o rosto indecifrável, sem nenhum traço de culpa.

Sorri, amarga.

— O que a Isabella é pra você?

Vincent pousou a xícara de café.

— Uma colega do ensino médio. Ela levou um tiro por minha causa uma vez, salvou minha vida. Desde então, tá se recuperando na Europa.

— Sério? Só uma colega? Uma salvadora? É só isso mesmo?

Vincent franziu levemente a testa.

— Sophia, não quero que você ataque ela só porque voltou pra família Romano.

Soltei uma risada curta e sem humor.

— Isso é um aviso?

— É um lembrete. — O tom dele era frio. — A saúde da Isabella é frágil. Ela não pode lidar com problemas agora.

Assenti, sem dizer mais nada.

Vincent a defendeu com mais firmeza do que eu jamais imaginei. O que mais havia para perguntar?

— Entendi. — Me levantei. — Vou subir.

Passei o dia inteiro no quarto de hóspedes. A empregada levou o almoço e o jantar até a porta. Não desci em nenhum momento.

Naquela noite, fiquei deitada na cama, sem conseguir dormir. Normalmente, Vincent abria a porta nessa hora, me empurrava contra o colchão sem dizer uma palavra e agarrava minha cintura enquanto me chamava de Principessa.

Mas naquela noite, o corredor permaneceu em silêncio.

Claro. O primeiro amor dele tinha voltado. Por que ele pensaria em mim?

No dia seguinte, sábado, Vincent não foi para o complexo.

Às dez da manhã, ele bateu na minha porta.

— Sophia, vai ter uma festa hoje à noite. Você vai comigo.

Abri a porta. Vincent já estava vestido com um terno preto impecável.

— Que festa? — Perguntei.

— Uma reunião entre as famílias.

Não querendo ficar sozinha naquela casa cheia de memórias nossas, acenei com a cabeça.

Às sete daquela noite, o carro de Vincent parou em frente a um clube particular.

Segui-o para dentro e encontrei o local ricamente decorado com flores e fitas. Não parecia com nenhuma reunião de máfia que eu já havia ido.

Antes que eu pudesse perguntar, ouvi uma voz familiar.

— Vincent! Você finalmente chegou!

Isabella, com um vestido de noite branco, se aproximou como uma borboleta. Quando me viu, sua expressão vacilou por um segundo, mas logo se transformou em um sorriso doce.

— A Sophia também está aqui! Que maravilha!

Olhei ao redor e vi um grande banner que dizia: "Bem-vinda de volta, Isabella."

Era uma festa de boas-vindas. Para ela.

Vincent me trouxe para a festa de boas-vindas da Isabella.

Me virei para sair, mas Isabella me impediu.

— Sophia, o que há de errado? Você não está se sentindo bem? — Perguntou, sua voz transbordando preocupação. — Ouvi dizer que você se mudou de casa. Foi por minha causa? Sinto muito, não sabia que o tio Romano me deixaria ficar no seu quarto.

Sua voz era suave e gentil, mas alta o suficiente para que todos ao redor ouvissem. Alguns convidados olharam para mim com expressões curiosas.

— Está tudo bem. — Respondi, seca. — É só um quarto.

— Mas o tio Romano disse que você até o deserdou. — Os olhos de Isabella se encheram de lágrimas. — Tudo isso é culpa minha. Se eu não tivesse voltado...

— Isabella. — A interrompi. — O motivo pelo qual eu o deserduei não tem nada a ver com uma estranha como você.

As lágrimas de Isabella começaram a cair. Ela olhou para Vincent, com um olhar de dor.

Vincent se aproximou, me lançou um olhar de advertência e então disse suavemente para Isabella:

— Não chore. Seus olhos vão ficar inchados.

Ele tirou um lenço e secou suas lágrimas. As lágrimas de Isabella se transformaram em um sorriso. Ela piscou suas longas pestanas e disse:

— Você é tão bom para mim, Vincent.

Eu fiquei de lado, observando aquela cena terna se desenrolar.

Uma dor aguda atravessou meu peito.

Daqui a dez dias, eu teria partido para sempre, e sabia que nunca seria o alvo desse tipo de carinho vindo dele.

Me virei e caminhei até o bar, peguei uma taça de champanhe e bebi quase tudo de uma vez.
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