Melia foi levada para os bastidores sob aplausos ensurdecedores, Corin estava sorrindo de orelha a orelha.
— Você foi um sucesso, Bunny! — exclamou, batendo palmas. — O salão todo ficou de pé por você, isso nunca acontece!
Melia não respondeu, estava ofegante, com os joelhos bambos. Suas mãos tremiam e ela tentava cobrir a pele, ainda sem roupa alguma. As pilhas de notas estavam perfeitamente empilhadas ao lado apenas esperando por ela.
— Posso ir agora? — perguntou, a voz baixa.
Corin assentiu.
— Vai descansar, mas não vá pra casa ainda, alguém pode pedir uma dança em particular. O dinheiro vai ser levado para o camarim, pode contar lá, parabéns, menina! — Enquanto saia, Corin acertou um tapinha empolgado na bunda da garota, sorrindo como se tivesse encontrado sua galinha dos ovos de ouro.
Mas enquanto Corin parecia prestes a pular de alegria, Melia só sentia medo e nervosismo. Seu coração ainda batia forte, não pela apresentação, mas por causa dos olhos dele.
Alfa.
Poderoso.
Perigoso.
Por que ele estava olhando para ela daquele jeito? E porque isso a incomodou tanto? Por que sentiu aquela maldita dor quando os olhos deles se encontraram?
Os aplausos ainda ecoavam do lado de fora, abafados pelas paredes grossas do corredor dos bastidores. A loba atravessava o caminho apressada, com o corpo encolhido e os braços cruzados na frente do peito, tentando esconder o corpo nu e exposto, já que havia saído do palco completamente pelada. Estava totalmente exposta, a calcinha jogada no palco, o sutiã arrancado diante de dezenas de olhos famintos, e agora… agora só restava o arrependimento pressionando o peito. Mas não tinha opção, sabia disso, no entanto, saber não diminuía a vergonha e o nojo que sentia de si mesma agora.
A morena empurrou a porta do camarim e entrou como um furacão, puxando o roupão pendurado na cadeira com as mãos trêmulas. Vestiu a peça como quem apagava um incêndio e então se sentou diante do espelho, encarando a própria imagem deformada pelas lágrimas que ameaçavam escorrer.
A máscara branca ainda cobria metade do rosto, mas os olhos... os olhos estavam vermelhos, ardendo. Ela fungou baixo, tentando manter o controle, não choraria ali, não daria esse gosto a ninguém. Era isso ou passar fome se prostituir nas ruas de Noctgard, ganhar nada para vender seu corpo, ou se envolver com traficantes de drogas para lobisomens que normalmente acabava em vício e morte...
Abraçou o próprio corpo, encolhendo-se na cadeira, respirando fundo. Um, dois, três... prendeu o ar, segurando o desespero. Tentava se lembrar da promessa feita a si mesma: seria só dança sem programas, sem lobos imundos tocando nela, a machucando como machucaram sua mãe.
Mas o mundo não costumava respeitar promessas feitas por ômegas, principalmente quando elas eram renegadas abandonadas a propria sorte.
— Valma, Melia Calma… — sussurrou, voz rouca, a garganta apertada.
Só então notou, na frente de sua mesa no camarim, a pilha de dinheiro que haviam deixado ali para ela. Era seu pagamento, e também a gorjeta que os lobos jogaram para ela no palco. Os olhos molhados se arregalaram abismada, nunca havia visto tanto dinheiro assim,
— Minha deusa… — falou chegando perto e começando a contar as notas.
Naquele momento, todo o nojo todo o medo, tudo valeu a pena. Aqueles olhares sobre ela, o jeito como era tratada como um produto… Nada importava, afinal com aquele dinheiro todo poderia comprar remédios de verdade para sua mãe, levá-la a um médico em Revengard e até pagar o aluguel. Poderia comprar frutas, comida nutritiva de verdade para sua mãe melhorar.
Poderia salvar sua mãe de verdade.
— Deusa… Obrigada obrigada… — sussurrou, abraçando as notas com os olhos cheios de lágrimas, então pegou uma bolsa que havia recebido para guardar suas roupas e começou a enfiar o dinheiro lá dentro quase desesperada.
Não podia correr o risco de ser roubada ou de perder um centavo, aquele dinheiro era a vida da sua mãe.
Estava tão feliz que nem percebeu quando a porta do camarim foi aberta. Distraída demais nos próprios pensamentos para notar os passos silenciosos. O cheiro dele, porém, invadiu o ambiente como uma nuvem densa, madeira queimada, sexo e bebida forte. Era o tipo de presença que gelava o sangue e ao mesmo tempo acendia o alerta em cada nervo do corpo.
Foi só quando sentiu o calor de um corpo atrás do seu que se deu conta.
Braços fortes se fecharam em torno de sua cintura por trás, a pegada era pesada, possessiva. Melia arregalou os olhos, tentando se levantar, mas as mãos do intruso já a seguravam com firmeza.
— O que…? Sai de perto! — se virou meio no susto, tentando empurrá-lo.
Mas o homem encostou o rosto no seu pescoço exposto, inspirando fundo o perfume da pele úmida de suor e vergonha. Era um alfa, dava pra sentir, dava pra ver. Os olhos vermelhos faiscavam entre as sombras, refletindo a luxúria mais suja que ela já viu.
— Hm… tão doce. Deixou todo mundo doido naquele palco, sabia, Bunny? — A voz grave sussurrou no ouvido dela, grossa de desejo. — Uma delícia de ômega se exibindo feito uma cadelinha no cio.
— Me solta, agora! — tentou de novo se afastar, a voz tremendo de raiva e medo.
— Não faz esse charme todo, vai. — A risada dele veio baixa, abafada contra o pescoço dela. — Eu vi o jeito que você tava mexendo essa bunda… Toda molhadinha no palco, se esfregando pra gente... pra mim.
Melia empurrou os braços dele, mas a força bruta era impossível de vencer. Sentiu o volume da ereção dele pressionando sua bunda, o cheiro dele invadindo seu nariz como veneno.
— Eu disse pra parar! — rosnou, com os olhos brilhando de ódio. — Eu não sou sua vadia!
— Não precisa fingir, Bunny… — os dedos dele deslizaram pelo tecido do roupão, agarrando sua cintura. — Você tava praticamente implorando por uma boa trepada enquanto dançava. E adivinha? Eu vim te dar isso.
— Filho da puta… — cuspiu a palavra e conseguiu virar o corpo bruscamente, empurrando com toda força.
Ele cambaleou um passo pra trás, surpreso pela resistência.
Melia se manteve firme, mesmo com as pernas tremendo.
— Encosta mais uma vez em mim e eu juro que arranco seu pau fora!
O alfa riu, um som sujo, debochado, cheio de escárnio.
— Agressiva… Eu gosto assim. Adoro domar vadiazinhas ousadas.
— Sai daqui! — gritou, o rosto em chamas. — Eu vou chamar a segurança!
— Segurança? — ele deu mais um passo, confiante. — E vão fazer o que? Impedir uma puta de fazer o trabalho dela? Sou convidado da casa, você é só a atração.
O coração dela disparou, a respiração virou um sufoco na garganta. Tinha sido estúpida em pensar que estaria segura. Que bastava dançar e ir embora. O mundo dos lobos era um circo onde as fêmeas eram o espetáculo e os alfas, os donos da porra toda.
— Agora vem cá — murmurou ele, avançando de novo, pegando-a antes que ela conseguisse correr —, mostra pra mim aquele rebolado ao vivo...
— EU DISSE NÃO!