O som do jazz elegante preencheu o ambiente enquanto os convidados brindavam ao nome dos Marchesi. Dante, agora mais calmo, observava Unirian conversando com os Morozov e segurando Villano no colo com naturalidade. Era como se ela tivesse nascido para aquele mundo — e, de certa forma, havia mesmo.Mas foi quando Ricci se aproximou discretamente, com o olhar levemente tenso, que o sangue de Dante começou a ferver.— Senhor Marchesi…— ele se curvou e sussurrou — temos uma presença inesperada no salão. Ela entrou com o grupo de diplomatas franceses.— Quem?— Dante franziu a testa.Ricci apenas olhou discretamente para a mulher ao fundo do salão.E ali estava ela.Caterine Valois.A mulher por quem Dante quase perdeu o controle anos atrás. A que ele chamava de *Rosa do Inferno*. A única que ousou amá-lo do jeito errado.Vestia vermelho sangue. Um vestido colado ao corpo, com uma fenda ousada que revelava a perna até a metade da coxa. O cabelo preso em um coque elegante, e um sorriso d
A fumaça do charuto pairava no ar como um véu denso de segredos. O patriarca dos Marchesi, Severino, observava a taça de conhaque em sua mão como se nela estivesse o destino da linhagem. À sua frente, sentada como uma dama de porcelana, estava Caterine Valois— elegante, com um vestido preto justo e um colar de rubi no pescoço.— Ele se apaixonou por ela. De verdade.— disse Don, com nojo contido. — Uma garota sem nome, sem sangue nobre. Uma virgem que virou obsessão.Caterine sorriu com doçura venenosa.— Por isso você me chamou de volta da morte?— Você era a única que ele obedecia sem questionar. A única que ele desejou antes de ficar cego por essa... Unirian.Ela inclinou-se para frente, com os olhos brilhando.— Então vamos fazer o lobo lembrar de onde ele veio. E quem ensinou a matar.Don bebeu o conhaque num gole só.— Traga ele de volta. Nem que seja quebrando o que o mantém fraco.Mais tarde, no jardim — Encontro entre Caterine e Unirian.Unirian estava sentada à sombra das ros
O bebê chorou mais alto, e Caterine, assustada, hesitou por um segundo antes de entregá-lo. Unirian o pegou com força e o abraçou como se fosse protegê-lo de um furacão. — O que você pensa que está fazendo aqui? Você perdeu o juízo? Dante apareceu no corredor, a expressão confusa se transformando em fúria pura ao ouvir a gritaria. — O que está acontecendo aqui?! — TIRA ESSA MULHER DAQUI, DANTE!— gritou Unirian, lágrimas escorrendo enquanto embala o bebê. — Ela estava com o nosso filho nos braços, sozinha! Dante viu vermelho. Ele agarrou o braço de Caterine e a puxou com força pelo corredor. Seus passos eram pesados. Caterine quase tropeçou, mas não se opôs. — Você passou de todos os limites.— rosnou ele, a mandíbula tensa. — Você não chega mais perto dela, nem dele. Nunca mais. Ela parou, puxando o braço, finalmente olhando para ele com olhos marejados. — Sabe por que eu fiz isso? Porque eu ainda amo você. Porque quando eu vejo aquele bebê, eu vejo tudo o que eu perdi. Tudo
Era sábado. E pela primeira vez em meses, não havia reuniões, ameaças ou olhares duvidosos cruzando o portão da mansão Marchesi.A casa estava silenciosa, exceto por um som suave vindo da cozinha. Dante, com a camisa branca parcialmente desabotoada e o cabelo um pouco bagunçado, equilibrava uma frigideira com uma mão e o bebê no canguru preso ao peito.— Nós vamos fazer panquecas pro café da manhã da mamãe, sim senhor. Mas você tem que me ajudar a não deixar queimar— murmurava para Villano, que, aos dois meses, observava tudo com olhos atentos e redondos.Unirian apareceu na porta da cozinha com um sorriso sonolento e o roupão amarrado preguiçosamente. Ao ver os dois juntos — pai e filho em plena harmonia — ela apoiou-se no batente da porta, sentindo o peito apertado de amor.— Esse é o homem mais perigoso da Itália fazendo panquecas de ursinho com um bebê amarrado ao peito. Isso precisa ser registrado.Dante olhou para trás e sorriu, aquele sorriso raro, que só ela conhecia.— Shhh,
— Me promete… que vai voltar. Que vai lutar por isso aqui. Por nós.— Eu morreria por isso aqui, Unirian. Por vocês. Mas não hoje. Hoje, eu vou viver. Pra voltar.Eles se abraçaram forte. Ele a beijou demoradamente, como se cada segundo pudesse ser o último.Quando soltou, olhou para o berço.— Se ele acordar, diz que o papai volta logo. E que eu amo ele mais do que minha própria alma.Unirian apenas assentiu com lágrimas nos olhos.Na porta, antes de sair, Dante virou-se uma última vez. Olhou para os dois amores da sua vida e disse com firmeza:— Eles não sabem com quem mexeram. E vão pagar. Mas primeiro… eu volto. Pra vocês.E então, desapareceu na escuridão da madrugada, deixando para trás o perfume suave de lavanda da casa… e o coração da mulher que, mesmo acostumada com guerras, nunca se acostumaria com o vazio que Dante deixava.O carro seguia silencioso pela estrada escura. A cidade ainda dormia, mas na mente de Dante, o mundo inteiro estava em ruínas. A ausência do toque del
A chuva escorria pelas vielas de Marselha, apagando pegadas, lavando o cheiro de pólvora, mas não o sangue. Dante descia silenciosamente de um telhado, vestindo um sobretudo escuro, a expressão dura como pedra. A missão era clara: encontrar o assassino do aliado do Clã Marchesi, torturado e exposto como um recado. Mas para Dante, havia mais. Aquilo era uma caçada pessoal. Um nome surgia nas sombras: Romanov. Ao redor, só ecos e olhares atravessados. A máfia russa era traiçoeira. Dante caminhava como um fantasma, seus olhos sempre atentos. Um dos seus homens se aproximou, entregando um envelope. — Encontramos um dos envolvidos. Mas… ele disse que "o presente real ainda está a caminho". O coração de Dante parou por um segundo. Um pressentimento gélido atravessou sua espinha. “Eles estão mirando nela?” Ele fechou os olhos. Respirou fundo. Queria voltar. Agora. Unirian estava sentada no sofá, Villano dormindo tranquilamente no moisés ao lado. O dia estava estranho… calmo demais.
Foram dois dias sem dormir. Unirian andava pela casa como um espectro — olhos vermelhos, mas secos. A ausência de Dante era um eco constante em cada parede. Cada camisa que ainda exalava seu cheiro. Cada canto onde ele estivera. Mas ela se recusava a aceitar. Algo dentro dela gritava: ele não se foi. Até que, numa manhã nublada, a campainha tocou. Dois homens da polícia estavam à porta, e traziam consigo o peso de uma verdade amarga. — Senhora Marchesi —um dos oficiais disse, com voz baixa. — Encontramos um corpo. Não está em boas condições, mas... alguns itens estavam com ele. Precisamos que a senhora o reconheça. Petrov e Ricci se colocaram imediatamente ao lado dela. — Ela não precisa passar por isso.— Ricci disse, firme. — Mas eu quero.— Unirian respondeu, sua voz firme, mesmo que sua alma tremesse. O ambiente era gélido. Não apenas pelo frio dos azulejos, mas pelo peso da morte que impregnava o lugar. O lençol branco foi puxado. O rosto... era quase irreconhecível. As qu
Unirian olhou para o filho, depois para a casa, como se estivesse se despedindo de um santuário. E então, com os olhos cheios, murmurou:— Se é o que ele mandaria vocês fazerem... vamos.A mansão Marchesi na Rússia era como uma fortaleza. Aliados poderosos, como Sokolov, Morozov e Vasiliev, já sabiam da chegada de Unirian. Mesmo com os Romanov por perto, o Clã de Dante ainda era a força dominante, e todos juraram fidelidade à família Marchesi... e agora, à viúva silenciosa que carregava o nome dele.Quando chegaram à mansão, Unirian desceu do carro com Villano nos braços. O frio russo tocava sua pele, mas havia um estranho conforto no ar — a presença de Dante parecia impregnar as paredes daquele lugar também.Jay caminhou ao lado dela, e Ricci e Petrov se posicionaram como guardiões silenciosos, atentos a qualquer movimento suspeito.E antes de entrar, Unirian parou, olhou para o céu nublado e sussurrou:— Eu vim porque acredito que você ainda está respirando em algum lugar, Dante. E