Lucas
Eu não sei por quanto tempo dirigir sem destino.
As ruas passavam borradas, os faróis dos carros riscando linhas brilhantes na minha visão. Meu corpo estava aqui, mas minha mente estava em outro lugar. Em outro tempo.
Filho de Leonardo. Neto de Iolanda.
Eu sempre soube que não pertencia de verdade àquele mundo. Nunca me encaixei nos jantares perfeitamente arrumados, nas reuniões com sócios que sorriam com os dentes mas avaliavam com os olhos. Eu era o protegido de Leonardo, o afilhado, o favorito—mas nunca um Figueiredo.
Agora eu entendia por quê.
Eu era um Figueredo.
A vida inteira, eu achei que meu lugar naquela casa, naquela empresa, era uma conquista. Algo que eu tinha suado pra alcançar. Fui o menino educado, o funcionário exemplar, o adulto impecável. Sempre do lado de Iolanda. Sempre o braço direito. O único “de fora” aceito na sala de vidro.
E agora? Agora era como se tudo fosse mentira.
Não fui aceito. Fui encaixado. A ironia era cruel.
Passei anos engolindo meu desejo