A Viagem 1

O som estridente do toque do celular me despertou, senti uma leve dor de cabeça e tive dificuldade em abrir os olhos. Ainda sonolenta, percebi que não estava sozinha na cama, vagas lembranças da noite passada invadiram minha mente, eu, Sophia, balada, bebida e... Harry? Henry? Hans? Não me lembrava o nome do homem que dormia ao meu lado. O insistente toque fez minha cabeça latejar e me obrigou a levantar da cama, estava apenas de calcinha, então vesti uma camiseta jogada pelo quarto e fui descalça até a escrivaninha onde o celular tocava. "Pai" informava a tela, mas atendi esperando ser Umberto Pascal, o fiel amigo e assistente dele, que me passava os recados importantes. Era sempre ele quem ligava.

— Amélie — a voz do meu pai soou fraca, seguido por uma tosse seca. — preciso que volte para casa. Imediatamente.

— Olá, pai, bom dia! Em três meses terei concluído minha faculdade e estarei de volta. — caminhei até a cozinha com o celular, peguei uma garrafa de leite na geladeira e antes de beber direto no gargalo me certifiquei de que não estava vencido.

— Receio que em três meses não estarei mais vivo. — a garrafa de leite pareceu pesada em meus dedos e antes que eu percebesse ela caiu no chão, derramando seu conteúdo pelo piso de madeira encerada do apartamento e molhando meus pés. Perdi as palavras e minha garganta travou. Fazia anos que não o via, mas não podia ser verdade.

— O que? O que aconteceu? — minha mão tremia enquanto segurava o celular.

— O câncer me pegou — disse a voz cansada. — se iniciou no pulmão, mas por falta de tratamento, se espalhou para outros órgãos... É terminal.

Eu estava em choque, muitas coisas se passavam em minha mente, mas me recusava a acreditar que poderia perdê-lo.

— Certo... Volto hoje mesmo pai. Pegarei o próximo voo para o Brasil.

— Venha para o Noronha, quero passar meus últimos dias aqui. Umberto enviará dinheiro para as despesas com a viagem. Até mais. — mesmo doente, Jorge Pellegrini não se desfez de sua frieza. Enfim, notei o rapaz parado à porta.

— Precisa de algo? — perguntei desejando que ele fosse embora o mais rápido possível, precisava lidar com aquilo sozinha.

— Minha camiseta. — olhei para baixo e só então percebi a camiseta que vesti, não era minha, suspirei, tirei a camiseta e joguei para ele, que logo a vestiu.

— Sabe onde é a saída, Henry? — cruzei os braços afim de cobrir o seios.

— Henrico. — corrigiu. — Não se preocupe, sei onde é a saída. Até mais Amélie. — ele me olhou profundamente antes de sair.

Assim que ele saiu, tratei de me vestir e arrumar as malas. O leite derramado ficaria sob responsabilidade de quem quer que fosse limpar o apartamento, não tinha tempo, precisava voltar para casa imediatamente. Para o lugar onde precisava manter as aparências como herdeira de um império, onde reina prepotência e mentiras são encobertas. Os dias de paz haviam acabado e eu iria direto para o centro do furacão.

Arrumei apenas uma mala, compraria roupas e sapatos novos no Brasil, isso jamais foi uma preocupação. Ao sair do prédio, como de costume, deixei ração e petiscos para um velho gato cinza de rua e o acariciei quando ele apareceu, cuidava dele desde que me mudei e deixava comida todas as manhãs, se pudesse o levaria comigo, mas meu pai tinha alergia ao pelo dos gatos. Me despedi dele, com a certeza que não o veria novamente.

Um táxi me levou até o aeroporto, Umberto enviou mais que o suficiente para a primeira classe, no caminho enviei mensagens me despedindo dos meus amigos e explicando que era uma mudança por motivos familiares.

Cheguei ao aeroporto Galeão no Rio de Janeiro perto das nove da noite. Por conta do horário, optei por ficar num hotel e pegar o primeiro vôo para Recife na manhã seguinte. Estava exausta. Outro táxi me levou até um hotel próximo ao aeroporto e após o check-in, subi para o quarto e me joguei na cama. Após quase quatro anos morando na Itália, eu estava de volta, me sentia ansiosa, meu pai estava doente e sou a única herdeira, minha vida estava prestes a mudar completamente.

Pela manhã, peguei um voo para Recife, estava estressada por ter dormido mal a noite, a mudança de clima não me fez bem e a ansiedade fez com que demorasse a dormir.

Finalmente o avião pousou em solo noronhense, um motorista me aguardava para me levar até a casa que ficava num morro, cercada de árvores que praticamente a escondia, era uma das poucas casas residenciais em Fernando de Noronha, apenas um homem como Jorge Pellegrini tinha um benefício como aquele.

Umberto me esperava no hall e logo notei por seu semblante cansado, que ele não estava contente com minha volta.

— Bem vinda, Amélie, seu pai a espera na sala de jantar. — segui para o local indicado, encontrando uma mesa farta para o almoço. Meu estômago deu sinal de que estava com fome.

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