O homem que me esperava, não se parecia em nada com o velho Jorge Pellegrini, forte e implacável que deixei há quatro anos, este estava fraco, magro e cansado, mas ainda era meu pai, por isso corri até ele e o abracei, ignorando a enfermeira que o acompanhava.
— Que saudade pai! — Também senti sua falta minha pequena. Como você está? Como foi a viagem? — perguntou com a voz rouca. — Estou bem e cansada, a viagem foi longa, acho que nunca tive tantas horas de voo. — me sentei em uma das cadeiras próximas a ele e peguei um prato para me servir. — Então coma e descanse, preciso ter uma conversa séria com você. — já estava me preparando para a conversa, mas vê-lo não me deixou menos preocupada. O conhecia e tinha certeza que essa conversa teria alguma surpresa. — E sobre o que seria? — Coma primeiro querida. — ele insistiu, me servi um pouco de macarrão à bolonhesa e comi rápidamente, meu pai riu da minha pressa. — Pronto, pode falar agora. — Não quer descansar primeiro? — Pai! Assim eu fico mais ansiosa! — falei fazendo um bico e ele riu, antecipando uma tosse, seu semblante se tornou triste, com o olhar para baixo, tudo que eu queria era poder tirar aquilo dele e vê-lo bem novamente. — Sabe, eu esperava ver você se formar, te levar até o altar para se casar, ver meus netos nascerem e brincar com eles na areia dessa praia. Mas algo que aprendi sobre a morte, é que ela não espera que realizemos todos os nossos sonhos. — nesse momento meus olhos já estavam cheios de lágrimas. — Talvez você vá me odiar, Amélie, mas eu fiz o que seria melhor para você. — meu coração disparou e minha garganta trancou de ansiedade e expectativa. — Em dois meses, você irá se casar com Ettore Marini. — O que?! — foi a primeira coisa que consegui dizer. Casar? E casar com alguém que não conheço? Oi? Eu entendi direito? — Pai... Não tenho certeza se ouvi direito... Me casar? — ele apenas acenou concordando. Olhei para a enfermeira pela primeira vez, mas não havia nenhum sinal de preocupação no rosto dela. — Tem certeza que te deram os remédios certos? — Estou falando sério Amélie, os médicos me deram três meses de vida e quero garantir que você tenha um bom futuro. — Me casando com um desconhecido? E se ele me matar para ficar com a herança? — minha voz soou fina e incrédula, a enfermeira chiou e a ignorei. — Conheço a família Marini há anos, tenho certeza de que não fariam isso. — a voz dele saiu mais fraca e eu sabia que não devia continuar essa discussão. Aliás, uma vez que a decisão foi tomada, ele não voltaria atrás. Apenas abaixei a cabeça e tentei me acalmar. — Eu... Vou para o meu quarto, preciso pensar um pouco sobre isso. — falei e me levantei, indo em direção ao meu quarto, no segundo andar. A vista de lá era incrível, fui até a varanda e me debrucei no parapeito, sentindo a brisa salgada que vinha do mar. A minha frente estava o belíssimo mar do Atlântico e a paisagem exuberante de Noronha. A ilha não possui muitos habitantes e essa casa é um privilégio para poucos. Já estive na ilha muitas vezes, mas sempre era uma experiência única e encantadora, eu esperava que todo o encanto da ilha pudesse afastar todos os meus sentimentos ruins. Meu pai estava doente e eu teria que me casar. Não quis pensar muito sobre isso e eu também precisava desfazer as malas. Antes de vir para a ilha, ainda em Recife, fiz algumas compras, pois sabia que na ilha as opções eram poucas e eu realmente não tinha roupas de praia. Coloquei as peças no guarda roupa e deitei na cama, onde acabei adormecendo, exausta pela viagem e sentindo um enorme peso emocional. Minha vida parecia virar de ponta cabeça, era como quando se tem vertigem ao levantar rápido demais, espero que passe logo. Como meu pai disse, a vida não espera por nós.