A Viagem 2

O homem que me esperava, não se parecia em nada com o velho Jorge Pellegrini, forte e implacável que deixei há quatro anos, este estava fraco, magro e cansado, mas ainda era meu pai, por isso corri até ele e o abracei, ignorando a enfermeira que o acompanhava.

— Que saudade pai!

— Também senti sua falta minha pequena. Como você está? Como foi a viagem? — perguntou com a voz rouca.

— Estou bem e cansada, a viagem foi longa, acho que nunca tive tantas horas de voo. — me sentei em uma das cadeiras próximas a ele e peguei um prato para me servir.

— Então coma e descanse, preciso ter uma conversa séria com você. — já estava me preparando para a conversa, mas vê-lo não me deixou menos preocupada. O conhecia e tinha certeza que essa conversa teria alguma surpresa.

— E sobre o que seria?

— Coma primeiro querida. — ele insistiu, me servi um pouco de macarrão à bolonhesa e comi rápidamente, meu pai riu da minha pressa.

— Pronto, pode falar agora.

— Não quer descansar primeiro?

— Pai! Assim eu fico mais ansiosa! — falei fazendo um bico e ele riu, antecipando uma tosse, seu semblante se tornou triste, com o olhar para baixo, tudo que eu queria era poder tirar aquilo dele e vê-lo bem novamente.

— Sabe, eu esperava ver você se formar, te levar até o altar para se casar, ver meus netos nascerem e brincar com eles na areia dessa praia. Mas algo que aprendi sobre a morte, é que ela não espera que realizemos todos os nossos sonhos. — nesse momento meus olhos já estavam cheios de lágrimas. — Talvez você vá me odiar, Amélie, mas eu fiz o que seria melhor para você. — meu coração disparou e minha garganta trancou de ansiedade e expectativa. — Em dois meses, você irá se casar com Ettore Marini.

— O que?! — foi a primeira coisa que consegui dizer. Casar? E casar com alguém que não conheço? Oi? Eu entendi direito?

— Pai... Não tenho certeza se ouvi direito... Me casar? — ele apenas acenou concordando. Olhei para a enfermeira pela primeira vez, mas não havia nenhum sinal de preocupação no rosto dela. — Tem certeza que te deram os remédios certos?

— Estou falando sério Amélie, os médicos me deram três meses de vida e quero garantir que você tenha um bom futuro.

— Me casando com um desconhecido? E se ele me matar para ficar com a herança? — minha voz soou fina e incrédula, a enfermeira chiou e a ignorei.

— Conheço a família Marini há anos, tenho certeza de que não fariam isso. — a voz dele saiu mais fraca e eu sabia que não devia continuar essa discussão. Aliás, uma vez que a decisão foi tomada, ele não voltaria atrás. Apenas abaixei a cabeça e tentei me acalmar.

— Eu... Vou para o meu quarto, preciso pensar um pouco sobre isso. — falei e me levantei, indo em direção ao meu quarto, no segundo andar.

A vista de lá era incrível, fui até a varanda e me debrucei no parapeito, sentindo a brisa salgada que vinha do mar. A minha frente estava o belíssimo mar do Atlântico e a paisagem exuberante de Noronha. A ilha não possui muitos habitantes e essa casa é um privilégio para poucos. Já estive na ilha muitas vezes, mas sempre era uma experiência única e encantadora, eu esperava que todo o encanto da ilha pudesse afastar todos os meus sentimentos ruins. Meu pai estava doente e eu teria que me casar.

Não quis pensar muito sobre isso e eu também precisava desfazer as malas. Antes de vir para a ilha, ainda em Recife, fiz algumas compras, pois sabia que na ilha as opções eram poucas e eu realmente não tinha roupas de praia.

Coloquei as peças no guarda roupa e deitei na cama, onde acabei adormecendo, exausta pela viagem e sentindo um enorme peso emocional. Minha vida parecia virar de ponta cabeça, era como quando se tem vertigem ao levantar rápido demais, espero que passe logo. Como meu pai disse, a vida não espera por nós.

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