— Fez uma promessa a ela, lembra-se?
Kael parou, estático. Ele a olhou por cima do ombro.
— É mesmo? Uau, como eu pude esquecer disso — Kael disse sarcasticamente. — Eu também prometi que daria minha vida por ela se ela decidisse ficar comigo. E ela morreu.
Não era difícil sentir o que Kael estava sentindo naquele momento. Seus olhos estavam cheios de tristeza e raiva.
— É claro. Com um mundo desse tamanho, somente Kael, o escolhido, sofre — Ágata falou, dando a volta na mesa. — Eu pedi com gentileza, mas acho que você não entendeu: você vai fazer isso. Teria destruído um reino inteiro se eu não o impedisse, e isso é contra a lei. Pode ser visto como um ataque do próprio rei dos demônios. Imagina o problema que você traria aos outros demônios que vivem escondidos no mundo humano. Se não fizer por bem, amanhã pela manhã o exército estará atrás de você, e talvez à tarde sua cabeça decore uma estaca no centro da cidade, depois de ser acusado de alta traição.
Kael bufou, olhando para o nada.
— Baseado em que você me acusaria? — Kael perguntou, afiado.
— Ficaria surpreso se soubesse. Mas, se a prisão não te assusta, saiba que, se não vier comigo, o que tomei de você ficará comigo para sempre.
O corpo de Kael enrijeceu.
— E o que foi?
Os olhos de Ágata brilharam, triunfantes.
— Fique e descubra. Eu devolvo para você no momento certo... isso se você não tomar de volta antes.
— Tudo bem, farei isso. Quem são os outros? — Kael respondeu, cansado.
— Vamos buscá-los ainda. Enquanto isso... aceita mais vinho?
Kael estava com ódio, mas isso não tinha nada a ver com Ágata. Vinha da dor desesperada de não ter Andrômeda e de não ter conseguido protegê-la, mesmo lutando até a quase morte com seu pai e derrotando metade de um exército sozinho.
— Está me ouvindo? — a voz de Ágata o arrancou de suas lembranças dolorosas.
— Não. Se importa em repetir? — ele respondeu, desinteressado.
Ágata suspirou. Kael era mais complicado do que ela mesma.
— Eu disse que você lidera a guilda. E, pelo seu crime de quase destruir metade do reino, recebe como punição a marca da fera. — Ágata levantou os dedos, que tremularam em azul. Kael sentiu o ombro queimar, mas nem se interessou em olhar. Ela já tinha dito que era uma marca, e pra ele isso era o suficiente.
— É só isso? — ele disse, voltando a se sentar.
— Sim — Ágata disse, servindo vinho. — Um brinde ao segundo integrante dos 7 pecados capitais: Kael, o pecado da Ira do Dragão.
Kael se recordou da promessa feita à sua amada: jamais, independente da dor, deixaria o rancor apagar sua vontade de lutar por um mundo melhor. Ele nunca quebraria uma promessa feita a ela.
— Droga — ele pensou. — Espero que eu não falhe nisso também.
— Capitão? — Ágata chamou sua atenção.
— Mais vinho?
— Sim — ele respondeu, pegando a taça.
Ágata sorriu, servindo o líquido escuro que refletia a luz bruxuleante das velas.
— Teméria viu sete pecadores enfrentando demônios... mas sua visão não foi clara. Não sabemos quem são os outros, mas temos retratos que ela mesma pintou e localizações. O resto, nós precisamos fazer por conta própria.
Kael esfregou o rosto com as mãos.
— E você espera que eu os encontre?
— Eu espero que nós os encontremos, Capitão. Você não fará isso sozinho.
Ele soltou uma risada baixa e amarga.
Finalmente, levou a taça aos lábios e bebeu um longo gole. Quando abaixou a taça, seu olhar estava decidido.
— Por onde começamos?
Ágata sorriu.
— A primeira pista nos leva a uma prisão esquecida no norte. Se minha intuição estiver certa, o primeiro pecador está acorrentado lá.
— Certo. Um brinde, então — Kael murmurou, levantando a taça.
Ágata assentiu e sorriu, levantando a taça dela.
A noite se arrastava, mas eles continuaram bebendo até Kael levantar e ir para o quarto.