CAPÍTULO 5 : Saudades

Cambaleando pelo corredor estreito, Kael sentia o mundo girar a cada passo. O vinho pesava em seu sangue mais do que deveria. Ágata, apesar de ter bebido ainda mais, permanecia sóbria por um motivo que ele ainda não conseguia decifrar. Mas seus pensamentos estavam turvos demais para isso agora.

Tudo o que queria era dormir. Fechar os olhos. Esquecer. Quem sabe, se tivesse sorte, sonharia com Andrômeda... ou não acordaria mais.

Mas nem mesmo a embriaguez foi capaz de enganá-lo. A realidade era implacável. Andrômeda estava morta.

A dor veio como uma lâmina afiada, cravando-se fundo em seu peito. O ar fugiu de seus pulmões, os músculos travaram, e ele desabou contra a porta do quarto. O chão frio sob seu rosto não trouxe alívio algum.

Com esforço, arrastou-se até a fechadura, forçando a porta a se abrir. Assim que o fez, um perfume familiar o envolveu.

Kael parou.

O cheiro delicado pairava no ar, preenchendo cada canto do cômodo. Lírios. Andrômeda amava lírios. Dizia que eram flores fortes, capazes de florescer até nos solos mais áridos.

A lembrança foi uma lança atravessando seu peito, mas ele não teve forças para fugir dela.

Como um homem à beira da morte, alcançou a cama. Dessa vez, não houve resistência. Nenhum orgulho, nenhuma tentativa de autocontrole. Apenas dor.

Kael chorou.

Chorou como nunca havia chorado antes, nem mesmo quando criança. A perda esmagava seus ossos, sufocava sua alma, fazia seu corpo tremer em espasmos involuntários. A risada suave de Andrômeda ecoava em sua mente, um sussurro distante tentando alcançá-lo. O calor daquela lembrança fazia seu coração acelerar e, ao mesmo tempo, se despedaçar ainda mais.

Mas ele sabia.

Sabia que nunca mais a veria.

E essa certeza doía mais do que qualquer ferida.

Exausto, rendido à própria dor, ele adormeceu.

Kael despertou com o som insistente de batidas na porta. Sua mente ainda estava turva, resquícios da bebida da noite anterior pesando em seus pensamentos. Tentou se mover e percebeu que estava seminu. Antes de responder, puxou o lençol para cobrir-se.

— Entre.

Supôs que fosse Ágata. Afinal, só os dois estavam ali.

A porta se abriu, revelando a mulher, que cruzou os braços e apoiou-se no batente, o olhar carregado de deboche.

— Precisa tomar mais cuidado. E se não fosse eu? Como pode simplesmente dar permissão para qualquer um entrar?

Kael suspirou, passando a mão pelo rosto.

— Só estamos nós dois aqui. Era óbvio que era você.

Ela inclinou a cabeça de lado, como se estudasse sua resposta.

— Capitão, sabia que vampiros e alguns demônios menores precisam de permissão para entrar na sua casa?

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Isso me cheira a lenda.

— O príncipe do inferno também era uma lenda até alguns dias atrás… e aqui está você, seminu, na minha casa — Ágata disse, entrando no quarto.

Kael riu sem graça e se sentou na cama, massageando as têmporas.

— Certo, certo. Algum motivo específico para essa visita?

Ágata desviou o olhar para a janela, como se procurasse algo.

— Partiremos em algumas horas. Vim avisar para que não se assuste.

Ele franziu o cenho.

— Me assustar?

— Sim. A casa está em reforma, pode ouvir alguns barulhos estranhos.

Ele não acreditou nem por um segundo.

— A casa está em reforma... enquanto viajamos?

— Sim. Não podemos perder tempo — respondeu Ágata, ignorando a provocação. — Estamos sem suprimentos e, além disso, um dos nossos amigos está preso em Bazzard. Se não o tirarmos de lá logo, ele morre.

— Um? Pensei que não soubesse onde eles estavam. Como sabe que ele está em Bazzard? — Kael perguntou, ainda intrigado, tentando imaginar como a casa andava sozinha.

Ágata gargalhou.

— Teméria deu os retratos dos primeiros rostos que ela viu e está trabalhando para desenhar os outros. E a casa anda sozinha porque eu a encantei, simples assim. Não faça perguntas demais. Agora precisamos ir.

Kael se espreguiçou e se levantou, enrolando melhor o lençol na cintura.

— Quando chegamos lá?

— Dois ou três dias, se tivermos sorte — Ágata respondeu, ainda procurando algo.

Kael tentou enxergar o que ela via, mas logo desistiu.

— Quem é ele?

Ágata cruzou as pernas e se sentou no parapeito da janela, tamborilando os dedos no joelho.

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