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Capítulo 3: O que ela me roubou ?

Antes que ele pudesse protestar, Ágata já caminhava até a porta. Seus passos eram lentos, medidos, carregando uma calma enervante. Kael a observou em silêncio, tentando decifrar sua intenção. Não confiava nela, mas também não encontrava um motivo convincente para que o tivesse salvo.

A porta se fechou, e ele soltou um longo suspiro. Sentia-se exausto, como se algo dentro dele tivesse sido arrancado.

Seus olhos vagaram pelo quarto. As paredes de pedra escura, a lareira acesa num canto, os frascos de poções deixados por Ágata. Tudo parecia estranho e familiar ao mesmo tempo. Mas o desconforto não vinha do ambiente. Vinha de dentro.

Ele fechou os olhos, tentando se lembrar da última coisa antes de apagar. Sangue. Dor. Azrael caindo morto a seus pés. A fúria queimando como uma tempestade sem fim.

E então... o toque frio de Ágata puxando algo dele.

Os olhos de Kael se abriram de repente.

E se seu pai tivesse a ver com isso? Não fazia sentido. O medo do pai era que ele desenvolvesse sentimentos humanos — ele não precisava mais espiar Kael, já que Andrômeda havia morrido.

Um rugido silencioso cresceu dentro dele ao se lembrar disso, mas seu corpo fraco o traiu. Ele cerrou os punhos, frustrado. Precisava se recuperar. Precisava entender o que Ágata queria.

Deitou-se novamente, forçando os olhos a se fecharem. O sono veio devagar, mas quando finalmente chegou, não trouxe sonhos.

Apenas o vazio.

Horas depois, o cheiro de carne assada e especiarias o despertou. O quarto estava escuro, exceto pela lareira ainda acesa. Kael se levantou devagar, sentindo as dores no corpo protestarem. Vestiu uma camisa negra dobrada ao lado da cama e seguiu pelo corredor estreito de pedra, guiado pelo aroma da comida.

A sala de jantar era menor do que esperava. Uma mesa de madeira robusta ocupava o centro, iluminada por velas suspensas por correntes no teto. Ágata estava sentada, servindo-se de um prato generoso.

— Você demorou. Pensei que ia desmaiar de novo — ela sorriu, tomando um gole de vinho.

Kael puxou a cadeira e sentou-se sem responder de imediato. Pegou um pedaço de pão e levou à boca, mastigando lentamente.

— Agora me diga. O que realmente quer de mim?

Ágata ergueu uma sobrancelha.

— Direto ao ponto. Gosto disso — ela girou a taça de vinho entre os dedos. — Eu quero que você viva, Kael.

Ele riu, seco.

— Você roubou algo de mim. Me diga o que foi — Kael rosnou, esmagando o copo de vinho entre os dedos.

— Sim, mas roubei para evitar que você destruísse tudo ao seu redor — Ágata respondeu calma, encarando o prato. — Sinceramente, minha vida é chata... mas ainda gosto de estar viva.

Kael permaneceu em silêncio.

— Mas não é só isso, claro — ela se inclinou para perto, um brilho enigmático nos olhos. — Há algo muito maior acontecendo, e você faz parte disso. A questão é... quer descobrir ou prefere passar o resto da eternidade se lamentando como um fraco?

Kael apertou os dentes, sentindo a raiva subir novamente. Mas, dessa vez, não havia poder para transbordar. Ele estava quebrado. E odiava admitir que, depois da morte de Andrômeda, ele não tinha mais nada a fazer. Seria uma vida triste e cheia de arrependimentos, até que tivesse sorte e encontrasse a morte.

— Fale.

Ágata sorriu.

— Sirva-se. Eu não cozinho bem, mas de fome não morreremos.

Kael analisou tudo ao seu redor, inclusive as saídas. Queria ter opções caso tivesse que quebrar uma das paredes para sair dali.

Mas, por enquanto, a coisa mais arriscada era engolir o que parecia ser um bolo de carne em cima da mesa.

O jantar continuou em silêncio até que Kael terminasse o último pedaço do assado. Ele ergueu a taça de vinho e bateu-a levemente na mesa, olhando para Ágata.

— Obrigado pela comida. Agora fale sem rodeios. O que você quer?

Ágata suspirou e deixou a taça de lado.

— É algo pessoal. Há algum tempo, Vossa Majestade me convocou. Sua filha mais nova, Teméria, é vidente. Há algumas luas, ela teve um sonho vívido no qual via sete pecadores lutando contra vários demônios. Pensando não ser uma visão certeira, pediu-me que trouxesse uma erva rara para clareza mental. Durante sua meditação, algo a atacou.

Kael franziu o cenho.

— E o que eu tenho com isso?

— Foi um demônio. O nome dele é Arquibar. Um demônio do sono. Ele queria impedir que Teméria compreendesse o significado do sonho.

— Entendi... Quer que eu descubra o que o demônio do sono pretendia?

— Não — Ágata respondeu em tom desinteressado. — Já fizemos isso. Teméria dormiu por vinte dias depois do ataque, mas sobreviveu. Quando acordou, a primeira palavra que disse foi “Kael”.

Ele ficou perplexo. Mesmo sendo o futuro rei do inferno, nunca tivera contato com essa princesa humana, nem em sonhos.

— Seja direta — ele disse, recostando na cadeira.

— Sete pecadores salvariam o mundo... — Ágata murmurou.

— Pecadores? — Kael a interrompeu. — Não quero ser egoísta, e até agradeço por ter me salvado, mas quero que o mundo se dane! Já viu como tudo está? Eles têm a opção de fazer melhor, e a única coisa que fazem é piorar.

Kael se levantou da mesa.

— Obrigado pela comida e pelos cuidados. Retribuirei um dia, se puder. Mas agora, tenho que ir.

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