Older
Older
Por: vic
01

Tem um estranho no meu quarto. Um estranho de quase dois metros de altura e pelo menos o triplo do meu peso em músculos escondidos pelas roupas negras. Jaqueta de couro, calças jeans de lavagem escura e Vans. Seria cômico, se meu coração não estivesse tentando se recuperar do susto que levou. Vans com cadarços extremamentes brancos.

Considerando que meu último segurança foi demitido faz uma semana, talvez esse deva ser o cara que papai encontrou para substituí-lo. E só por isso, eu engulo o grito entalado na garganta. Analiso-o da cabeça aos pés, porque a chance de que ele não saiba que estou aqui ainda existe. Para onde eu olhe, é impecável: A jaqueta não tem um arranhão no couro, nenhum sinal de ressecamento, a calça foi muito bem passada e os tênis quase brilham na luz amarelada dos abajures. A única luz do ambiente vem deles, direto das mesinhas em ambos os lados da cama feita com maestria pelas empregadas da casa. Elas devem me detestar com todas as almofadas e travesseiros que precisam afofar todos os dias e com todas as camadas de cobertores com os quais gosto de dormir. Um lençol, um edredom pesado e uma cobertinha felpuda e fofa. Essa última é de um roxo claro e delicado e todo resto é branco.

Mas o estranho não liga para a decoração exagerada da minha cama, ou para os buquês de peônias frescas ao lado das luzes, ou para o enorme lustre de cristal e ouro pendendo do teto no centro do quarto. Ele não liga para nada, além do que está segurando. O porta retrato que fica na minha escrivaninha ao lado da janela.

— É uma péssima maneira de começar seu primeiro dia. Invadindo minha privacidade. - Digo, quando ele passa segundos demais olhando a foto.

Atiro a bolsa no banquinho comprido sem encosto aos pés da cama, aveludado no mesmo tom de roxo. Todo esse cômodo é branco com detalhes em dourado e violeta. O estranho pisca para a fotografia e ergue os olhos para mim, por cima dos ombros, por um longo instante. Ele devolve o porta retrato, o maxilar remoendo algo que ele engole junto com saliva.

— Não é meu primeiro dia.

A voz dele ressoa, baixa e calma. Como se a errada aqui fosse eu, como se eu estivesse invadindo o momento dele. Cruzo os braços apoiando o peso na perna direita.

— Meu pai sabe que está aqui? - Indago, indignada. O estranho observa o quarto, despretensiosamente, sem pressa alguma de dizer seu nome, ou de me implorar que não conte ao chefe dele que invadiu meu quarto, sozinho e sem permissão, sem nenhuma justificativa emergencial para estar aqui.

— Assinamos um contrato há dez minutos e ele apertou a minha mão, então ao menos que aquele não seja seu pai, o que seria preocupante, sim Cecy, ele sabe.

Cecy. Não, senhorita Sartore. Nem Cecily. A porra do meu apelido saindo pela boca de alguém que eu sequer sei o nome, alguém atrevido demais para ousar dizê-lo e quebrar uma das clausulas do contrato que todos os meus seguranças assinam. Nesta casa, a cozinheira, o motorista e meu pai me chamam assim. Eles me viram nascer e crescer. E fora dela, mais duas pessoas têm esse direito e com certeza, esse cara não é uma delas.

Estreito os cílios para ele, que enfia as mãos nos bolsos da frente da calça e inclina a cabeça levemente para trás. Está mascando um chiclete e me analisando com o olhar incômodo. Arrogante.

— Ele disse que você estaria aqui, para que nos conhecêssemos, mas nitidamente não estava. - Os olhos vacilam para minha bolsa e depois voltam a me percorrer, passando e reparando em cada peça de roupa em meu corpo. Dos scarpins brancos com as meias de renda transparente nos tornozelos ao vestido branco, curto e romântico se aderindo às minhas curvas, feito de um tecido com bordado inglês com pequenos recortes florais. A saia se franze nas laterais em um drapeado que o deixam ainda mais curto, algo que papai jamais me deixaria usar para sair. Como se ele me deixasse sair dessa casa para qualquer coisa além das que ele julga importante para mim. — Quando o segurança sai a princesinha vai a uma festa?

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
capítulo anteriorcapítulo siguiente
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP