O sabor da vingança

O sabor da vingançaPT

Romance
Última atualização: 2023-03-21
Ivi Santiago  concluído
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8.4
5 Avaliações
60Capítulos
10.7Kleituras
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Resumo
Índice

No dia em que completei dezoito anos, perdi tudo. O presente que a vida me deu foi a morte do meu pai — e, junto com ela, a certeza de que eu não teria paz até ver cada gota de sangue vingada. Desde então, carrego o gosto amargo da promessa que fiz de joelhos, diante do caixão: ninguém sairia impune. Nem que eu mesma tivesse que sujar as mãos. Eu só não sabia que meu maior inimigo usaria perfume caro, sorriso torto e mãos que me seguram forte demais quando tento fugir. Ele está aqui, colado em mim, quente como pecado, frio como a arma que carrega na cintura. Agora sou eu, minha sede de vingança e esse desejo proibido que me corrói por dentro. E entre beijos, mentiras e balas disparadas no escuro… alguém vai sair perdendo. Mas não serei eu.

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Capítulo 1

A Festa Que Mudou Tudo

Dezoito anos. Não parecia real.

Ainda não me acostumei com a ideia de que deixo de ser, oficialmente, “a menininha do papai” ou “a garotinha da mamãe”. A verdade é que, junto com a idade nova, vinham responsabilidades pesadas: faculdade, noivado, contas, planos de casa, filhos — a vida adulta se aproximando como uma maré inevitável.

Olhei em volta da boate. A luz piscava freneticamente, colorindo rostos, corpos e sorrisos. A música alta vibrava dentro de mim, mas meus olhos estavam fixos nele: meu pai. Encostado no balcão, com os braços cruzados, observava tudo em silêncio. Os fios grisalhos começavam a aparecer entre os cabelos escuros, contrastando com a camisa branca social que realçava sua postura firme, ainda atlética. Seu olhar encontrou o meu por um instante — carregava ternura, mas também um peso que eu não conseguia nomear.

Ele tirou o celular do bolso, mostrou-o para mim e apontou para os fundos da boate. Assenti com a cabeça, torcendo em silêncio para que não fosse uma daquelas ligações que duram uma eternidade. Era o meu aniversário. A minha noite.

Ainda assim, compreendi. O trabalho dele exigia isso. Mas mesmo entendendo, algo dentro de mim doía.

Ele voltou minutos depois, com o rosto mais tenso. Aproximou-se e inclinou-se ao meu ouvido.

— Tessa, eu preciso ir. Volto em algumas horas, prometo.

Neguei de imediato, segurando o olhar dele.

— Pai… é o meu aniversário.

— Eu sei, filha. — Ele respirou fundo, os olhos varrendo o salão lotado. — Mas você vai se sentir mais à vontade sem mim. E, além disso… — hesitou, e então, com um meio sorriso — você não vai sentir minha falta.

Claro que eu sentiria. Mas não disse.

Ele me abraçou forte, beijou minha testa com carinho e sussurrou:

— Aproveite cada segundo. Eu te amo.

— Eu te amo mais, pai — respondi, com um nó na garganta.

Fiquei ali parada por alguns segundos, observando-o sair. A silhueta dele se perdeu entre as luzes da entrada. Senti um aperto no peito. Minha mãe também já tinha ido embora. E agora eu estava só. Não exatamente sozinha — havia amigos por todos os lados — mas sem eles. Sem meus dois pilares.

Fui puxada de volta ao presente pelos gritos animados dos meus amigos.

— Liberdade! Liberdade!

Me levantaram no ar três vezes, me lançando sobre os ombros e braços, rindo, celebrando. Me senti viva. Me senti a rainha daquela noite.

A batida da música me conduzia. Meu vestido preto colado ao corpo refletia as luzes. Meus cabelos negros, soltos e escovados, balançavam com os passos. Cada abraço recebido, cada felicitação me lembrava do quanto esperei por esse momento. Mas, por dentro, algo ainda pesava — uma sombra sutil de desconforto que eu tentava ignorar.

Talvez fosse a ideia de que, agora, tudo mudaria. Logo viria o casamento. Logo eu teria que “virar mulher de verdade”.

Ele apareceu no meio da multidão. Messias. Meu namorado. Blusa preta, calça jeans e aquele sorriso torto que sempre me desarmava. Tinha os olhos azuis mais intensos que eu já vi. E mesmo bêbado, ainda sabia como me conquistar.

— Mê... — sussurrei, interrompendo o beijo antes que ele começasse. Ele sempre dizia que o lugar não importava, mas pra mim… importava sim. Eu não queria ser só mais uma. Queria que a primeira vez fosse depois do casamento.

— Paciência, vai. Eu sei que você quer... — disse ele, colando nossos corpos.

— Eu quero, mas quero mais do que isso — respondi, olhando nos olhos dele, no meio da escuridão da boate.

Ele suspirou. Não insistiu. Voltamos a nos beijar devagar, no nosso ritmo, até que os amigos nos separaram de novo com risadas e abraços.

Minha melhor amiga, Camila, surgiu sorridente, me puxando pela mão.

— Que carinha é essa? É sua festa, aproveita!

— Eu tô tentando... — respondi, deixando que ela me levasse até a pista de dança.

— Vai me contar no que tá pensando? — ela perguntou, entrelaçando os dedos aos meus, como sempre fazia quando queria saber mais do que eu estava disposta a dizer.

— Nada com que se preocupar agora, Cam. — sorri e ajeitei o batom vermelho borrado dela com o dedo. — Quem te borrou assim, hein, vadia?

Ela riu, fugindo da resposta, e eu a empurrei de leve, rindo também.

Logo fui chamada por outro grupo de amigos. Celebrei mais. Ri, dancei, gritei. Mas, de vez em quando, ainda procurava Camila no meio da multidão. Quando percebi que ela não estava mais por perto, fui até o banheiro. Estava lotado.

Cumprimentei algumas pessoas pelo caminho, todas me parabenizando. Corri para a primeira porta aberta, fechei e encostei, tentando respirar e conter aquela mistura de alegria e ansiedade.

Foi então que ouvi a voz dele.

— Eu te amo!

Messias entrou rindo, com os braços abertos e a bebida na mão. Me beijou com força, o gosto do álcool invadindo minha boca. Suas mãos desceram rápido pelas minhas coxas, meu vestido subiu.

E ali, no meio da excitação, pensei de novo: era isso que eu queria?

Passei três anos esperando. Guardando-me. Sonhando com uma noite especial, com aliança no dedo, promessas cumpridas.

Desejo eu sentia. Muito. Mas não assim. Não ali.

— Mê, espera...

Ele me fitou, respirando pesado. A tensão era real.

— Tudo bem — disse, recuando com um sorriso gentil. — Eu vou esperar. Como sempre.

Suspirei, aliviada. Ajustei o vestido e saí. Ainda era a minha festa. Ainda era o meu momento.

E mesmo com o peso do mundo batendo à porta, decidi adiar as decisões adultas só mais um pouco. Caminhei de volta, mas algo faltava. Procurei por Camila, me sentindo estranhamente sozinha sem ela. Quando me disseram que ela estava no banheiro, fui até lá — e encontrei o banheiro vazio.

O som abafado da boate quase não chegava até ali. Estava silencioso, íntimo… até que um gemido cortou o ar, vindo de uma das cabines.

Engoli em seco. Aquela voz era inconfundível.

— Camila?

Meu corpo enrijeceu. As palavras que ouvi em seguida me rasgaram por dentro.

— Onde quer que eu goze, cachorra?

— Vai gostoso, vai! Dentro, gostoso... me enche com tua porra, vai, Messias!

O coração disparou. As pernas fraquejaram. Corri até a porta trancada, mas não consegui abrir. O som de corpos se chocando ecoava na minha cabeça como um tambor.

Subi num vaso sanitário da cabine ao lado, mãos trêmulas segurando as bordas.

E o mundo parou.

Lá estavam eles. Camila, a minha melhor amiga, e Messias, o homem com quem eu sonhava casar. Ela, de joelhos, rindo em meio ao caos, embriagada. Ele, suado, completamente entregue ao ato.

— Ah! Puta merda! — Ela gemeu, rindo alto, os cabelos grudados no rosto. Messias empurrava com força, até erguer o queixo e encará-la. Camila, com o vestido prateado, tão parecido com o meu, balançava, rindo, sem nem perceber minha presença.

O grito que saiu de mim não foi só de dor. Foi de traição.

— Tess? — A voz dele me encontrou, surpresa. Mas quem deveria estar surpresa era eu.

Desci com pressa, o chão girando. As lágrimas desciam antes que eu pudesse contê-las. A traição não era apenas dele. Era dela também. Minha confidente. Minha irmã de alma.

— Tess quem? — ouvi Camila rir, a voz pastosa de álcool. — A Tess tá ocupada demais pra você, garotão!

Era esse o plano? Beber até esquecer quem somos… ou até nos destruirmos?

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