Nada mudou no morro. Continuava o cheiro da pólvora se misturando com o do café coado na laje, a quebrada acordando cedo, o rádio da vizinha gritando pagode. Mas eu sabia: gente grande tava de olho. Facção rival, polícia, imprensa… cinco policiais morreram na invasão, entre eles um figurão do DP. Um deles fui eu que mandei pro inferno com as próprias mãos. Não tinha como perdoar depois do que ele fez com a minha irmã.
A mídia, como sempre, vendeu outra história: disseram que foi tocaia covarde, que policial morreu “honrando a farda”. Ninguém falou da garota chorando, do sangue que não aparecia na farda dele, da vida que ele destruiu. Eles jamais contariam.
Os dias seguiram em silêncio pesado. Todo mundo pisando leve, boca calada, olhar no chão. Era bom, porque mostrava que nem eles têm acesso fácil a mim… mas aumentava a sede deles. Sede que nunca vão matar.
Perdemos contato com dois policiais que eram meus olhos dentro do DP: um morreu na invasão, o outro eu mesmo fiz questão de apaga