CALEB
O barulho da cerca rangendo sempre me ajudou a pensar.
Tem gente que precisa de silêncio. Eu sempre precisei de som — o som do campo, do gado, do vento empurrando as folhas secas no chão. Era o tipo de ruído que fazia sentido.
Mas naquela manhã, nada fazia muito sentido.
Fiquei ali, com a chave inglesa na mão, tentando fingir que me concentrava no arame frouxo, quando na verdade minha cabeça ainda estava presa na cozinha da casa dela.
Naquela frase.
“Voltei porque não tinha mais pra onde ir.”
A voz dela não saiu trêmula, mas saiu funda.
Foi o tipo de confissão que a gente só faz uma vez na vida — e quase nunca pra outra pessoa.
E desde que ouvi aquilo, a minha vontade era atravessar o espaço entre nós, segurar o rosto dela e prometer que agora ela tinha.
Mas prometer exige coragem.
E eu ainda estava aprendendo o que fazer com a minha.
Depois do almoço, fui chamado por um peão para ir correndo até o curral. Uma das vacas estava parindo. O mugido aflito da vaca cortava o silêncio