SAVANA
A luz da manhã entrou pelas frestas da janela como quem pede licença. Dessas que vêm depois de noites longas, quando tudo que a gente quer é respirar devagar.
Amber dormia ao meu lado, com os cabelos bagunçados e a bochecha marcada pelo travesseiro. Por alguns minutos, fiquei só olhando para ela. Não com o medo da madrugada passada, mas com a serenidade de quem sobreviveu a um susto. Encostei os lábios na testa dela: fresca. Nenhum sinal de febre.
O tipo de toque simples que, para mãe, vale mais que qualquer termômetro.
Levantei com cuidado, tentando não acordá-la, e fui até a cozinha. A casa estava silenciosa — só o vento brincando com as janelas e o estalar discreto da madeira no chão. Era a primeira manhã, em dias, que não começava com preocupação.
Hoje, só havia café.
Liguei a chaleira e abri as janelas.
Peguei farinha, ovos e leite para preparar panquecas. Amber adora panquecas. Era a nossa tradição silenciosa: panqueca nos dias bons, como quem diz “passou”.
Apollo aparece