Mundo de ficçãoIniciar sessãoSábado tinha chegado rápido; parecia que sexta nem existiu naquela semana. Já eram quase 18h10 e eu estava terminando de me arrumar. Coloquei um short, peça que eu não costumava usar, mas hoje não estava a fim de colocar calça.
Mamãe estava um pouco brava comigo desde quinta-feira. Ela não gostou nem um pouco de eu ter aceitado carona de um estranho — que, para ela, continuava sendo um completo desconhecido. Tive que inventar que quem estava no carro era uma garota. Terminei de arrumar meus cabelos e calcei o tênis. Desci até a sala e encontrei mamãe sentada no sofá, lendo um livro. — Já estou indo — falei, e ela me encarou. — Não volte tarde. Não é bom andar sozinha pela rua — me alertou, e eu assenti. Sai de casa caminhando normalmente. A escola não era tão longe, para minha sorte. O dia estava ameno, nem calor nem frio. Cheguei à escola e fui direto procurar Âmbar nas arquibancadas; de longe, ela acenou sorrindo. Subi alguns degraus e cheguei até ela. — Que bom que você veio — disse ela quase gritando. — Quero que comece logo, quero ver nosso time ganhar. — Vou comprar alguma coisa pra gente beber — ela se levantou. Cada minuto que passava chegavam mais pessoas; todos da escola estavam ali. Senti um corpo se sentar ao meu lado e olhei para ver quem era. Pisquei algumas vezes para ter certeza: era Ethan. — Olá, Angel — disse ele, olhando para o campo. — O-olá — respondi, surpresa. — Como foi que te deixaram entrar? — Digamos que a diretora me devia um pequeno favor — respondeu, acendendo um cigarro e me encarando. — Não esperava que você viesse. — Na verdade, nem eu esperava. Uma amiga insistiu para que viéssemos juntas e eu não quis recusar — expliquei. — Mas e você, por que veio assistir ao jogo? — Meu amigo Harry vai jogar, e eu não quis perder — respondeu ele, imitando minhas palavras com um leve sorriso. — Harry? O garoto mais galinha da escola? — perguntei, e ele apenas fez um “aham” mudo. — Acho engraçado você dizer isso dele; outras garotas adorariam receber ao menos um abraço dele. — Pode ter certeza que eu não estou incluída entre essas outras garotas — dei um meio sorriso, e Âmbar chegou, entregando o refrigerante e se sentando ao meu lado. — Não vai me apresentar seu amigo, Angel? — perguntou ela. — Muito prazer, sou Ethan — ele interrompeu antes que eu pudesse falar. — Âmbar — ela estendeu a mão, e ele a cumprimentou. Depois disso ficamos em silêncio, assistindo ao jogo. O primeiro tempo terminou sem gols, e o segundo começou com o time adversário marcando. Âmbar não parava de gritar, e Ethan não voltou a falar. Confesso que senti falta de sua presença ao meu lado. Nosso time empatou com o adversário, 1x1. Harry jogava muito bem; fiquei impressionada. Faltavam poucos minutos para o fim, e todos estavam tensos. Tom passou a bola para Tyler, que conseguiu driblar alguns jogadores e avançar. A plateia estava em silêncio, como se esperasse um milagre. Harry recebeu a bola, driblou novamente e conseguiu fazer o gol da vitória. O juiz apitou, e os gritos de alegria da torcida ecoaram. Eu e Jas nos abraçamos, radiantes. Já eram quase 22h00 quando caminhei sozinha pela rua, iluminada apenas pelos postes. Começou a chover, e eu estava quase congelando. Foi quando vi um garoto parado no final da rua: Ethan. Meu coração disparou. Ele caminhou até mim e se aproximou, mas de forma tranquila. — Oi, tem algum trocado moça? - ele falou tirando o capuz da cabeça. — Desculpa, não tenho nada aqui. - falei tentando passar, mas outra vez não consegui. — Então pode me dar outra coisa. - ele me puxou pelo braço e encostou meu corpo em um dos postes, antes que eu começasse a gritar ele tampou minha boca e começou a passar a mão livre por debaixo da minha blusa. Entrei em completo desespero, eu não estava sentindo as minhas pernas. Pensei em empurra-lo e foi quando ele levantou a blusa e mostrou a faca presa na cintura. Foi nesse momento que fiquei em choque, nem lágrimas para chorar eu tinha de tamanho nervoso. — Por favor, não faz isso.- pedi sem forças. — Você vai gostar, tenho certeza. Fechei meus olhos, querendo que o momento passasse rápido, e senti seu corpo se afastar. Escorri até encostar no chão e abri os olhos. Ethan estava ao meu lado, atento, certificando-se de que eu estava bem. — Você tá bem? — Ele perguntou, se agachando. — Sim, estou — respondi, respirando fundo. Se não fosse por Ethan, provavelmente estaria muito mais nervosa. — Que bom — disse ele, estendendo a mão. Segurei-a e me apoiei para levantar. — Vou te levar pra casa, você pode se secar e trocar essas roupas molhadas. — Eu tenho que ir, obrigada — murmurei, ainda um pouco atordoada. Subi no carro com ele, sentindo frio devido às roupas molhadas. Ethan dirigia com cuidado, e eu não conseguia deixar de reparar na calma que ele transmitia. Meu coração ainda acelerava, mas havia segurança em sua presença. — Vai me levar em casa depois? — perguntei. — Pode ser que sim — disse ele, ligando o carro. Quando chegamos à garagem, ele estacionou e saiu do carro. — Não achei que morasse sozinho — falei, cruzando os braços. — Achou que eu morasse com quem? — respondeu, acendendo a luz da garagem. — Com seus pais, talvez. — Não moro com eles desde os 18 — explicou, me levando até o quarto. — E quantos anos você tem agora? — perguntei. — 20 — disse ele, abrindo a porta de um quarto menor. — Pode usar esse, eu uso o outro. E você, quantos tem? — Tenho 18 — respondi, entrando no banheiro. Fechei a porta e tentei raciocinar sobre tudo o que tinha acontecido desde domingo. Domingo eu o vi por uns minutos na igreja, e hoje estava na casa dele, tomando banho. Com outros garotos, jamais teria aceitado isso, mas Ethan era diferente. Ele tinha algo que me fazia sentir segura e confiante. Terminei o meu banho e me enrolei em uma toalha, coloquei a calcinha que não estava totalmente molhada e dobrei as que estavam, abri a porta e saí do banheiro. Ethan estava em pé perto da cama, apenas com uma toalha branca em volta da cintura. Senti meu rosto esquentar e meu coração acelerar. Ele estava com os cabelos molhados e levemente arrepiados, olhando as blusas que estavam em cima da cama. “Cai toalha, seja uma boa menina e se acalme.” Era isso que soava no meu subconsciente. — Vou deixar você se trocar — falei, apertando a toalha contra o corpo e indo até a porta. — Pode ficar aí se quiser, eu não me importo — disse ele, sem perder a calma, antes que eu mudasse de ideia e resolvesse mesmo ficar. Eu estava começando a imaginar coisas que só achava que pensaria muito mais tarde. Era a primeira vez que via um garoto assim, e isso me deixava constrangida e nervosa. Procurei a secadora de roupas e não foi fácil; a casa de Ethan era enorme e eu não conhecia o lugar direito. Coloquei as roupas lá dentro e liguei a máquina. Dei uma olhada para ver se estava tudo certo. — Não achei que fosse achar esse lugar — disse Ethan, chegando por trás de mim, e quase tropecei nos meus próprios pés. Ele colocava suas roupas na secadora também, agora com uma calça de moletom preta e ainda sem camisa. Eu não sabia se ele tinha noção do quanto eu ficava sem graça ao vê-lo assim. “Imagine como ele deve ser naturalmente… só para eu parar de pensar tanto nisso.” Já estava cansada de todos aqueles pensamentos quando ele se virou, umedecendo os lábios. — Daqui uns vinte minutos já vão estar secas — comentou. Me escorei na pia, e ficamos em silêncio por alguns instantes. Eu estava morta de vergonha por ainda estar só de toalha, mas tentei não parecer nervosa. — Ethan… — chamei, timidamente. — Obrigada. — Não foi nada — respondeu ele, com seu típico sorriso calmo. — É sério. Obrigada mesmo, e-eu realmente não sei o que teria feito sem você hoje — falei, ainda sentindo meu coração bater rápido. — Por que não saberia? — ele perguntou, curioso. — Porque você me ajudou quando eu mais precisava e me fez sentir segura — disse, respirando fundo. — Então acho que valeu a pena — respondeu ele, desviando o olhar por um instante antes de me encarar de novo. Apesar da minha timidez e da estranheza de toda a situação, percebi que a presença dele me deixava estranhamente confortável. Ele não me conhecia direito, e ainda assim eu confiava nele. — Obrigada por tudo, Ethan — falei de novo, com um sorriso tímido. — Sempre que precisar, estarei por aqui — disse ele, e naquele momento eu soube que podia contar com ele.






