O jogo

Prendi meu cabelo em um coque e vesti minha blusa. Desci as escadas com a mochila nas mãos e mamãe estava preparando o café da manhã.

— Pensei que não fosse amanhã que ia trabalhar — falei, abrindo a geladeira e pegando uma garrafinha de suco.

— Resolvi mudar — ela sorriu. — Tenho que arrumar minha mala para viajar no domingo.

— Que bom, então pode fazer uma torta de maçã hoje à tarde — me escorei na mesa e bebi um pouco do suco. Ela me olhou com um olhar engraçado.

— Que foi? — perguntei. — Você disse que ia ficar em casa o dia todo.

— E você tem que comer rápido se não vai se atrasar — ela apontou para o relógio em seu pulso. — Você nunca foi de se atrasar, por que isso agora?

— Não sei… estou demorando a dormir à noite — respondi sem nem prestar atenção no que acabei de dizer. Mamãe era obcecada com meu bem-estar. Quando eu dizia que estava com dor de cabeça, ela já queria me levar ao médico para fazer um raio-X. — Não deve ser nada demais.

— Como nada demais? Por que não consegue dormir? Algo te incomoda? — perguntou ela, curiosa.

A não ser um moreno chamado Ethan, e que eu não consigo tirar da cabeça, nada me incomoda… — pensei, mas não falei.

— Angel? Está me ouvindo? — ela insistiu.

— E-eu tenho que ir… até daqui a pouco, mãe — peguei a mochila e uma torrada e saí de casa.

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Falando em Ethan, fazia dois dias que eu não o via. Eu sei que nem o conheço direito, mas minha vontade era de encontrá-lo e falar com ele.

Cheguei rápido na escola e, desta vez, não estava atrasada. Me misturei aos outros alunos quando o sinal bateu e fui para a sala. Sentei-me como de costume, perto da janela, e observei o campus lá fora.

A primeira aula seria de Literatura. A matéria era legal, mas a professora era chata. Me endireitei na cadeira e tentei prestar atenção.

Apoiei minha cabeça na mão e comecei a copiar o que a professora escrevia na lousa. Quando ela parou de escrever, começou a explicar.

Comecei a me entediar. A caneta batendo na mesa e a boca se abrindo em um pequeno bocejo era o retrato do meu estado atual.

Outra vez lembrei-me de Ethan e pensei no que ele poderia estar fazendo agora? Eu não sei o motivo, mas queria me aproximar e conversar com ele.

O sinal anunciando que a aula tinha acabado soou e eu dei graças por isso.

Saí da sala para a troca de aulas. Passei no armário e peguei o livro de Biologia.

— Não percam o jogo dos Stanley's no sábado! — gritou um garoto, entregando folhetos para todos. Stanley's era o time de futebol da escola.

— Vai ao jogo, Angel? — Âmbar chegou ao meu lado perguntando.

Âmbar era uma garota loirinha e baixinha; conversávamos às vezes durante as aulas de Física Quântica.

— Não sei… você vai? — respondi, caminhando com ela e conversando.

— Quero ir. Vai ser legal — disse, dando um leve tapa no meu braço.

Pensei por alguns segundos.

— Tudo bem, eu vou — respondi. Acho que não teria nada de mal em ir a um jogo de futebol.

— Ótimo! Nos vemos daqui a pouco.

As outras aulas foram piores do que a primeira. Quando eu estava indo embora, Âmbar me chamou.

— Angel, estarei aqui na escola às 18h30. Vou estar na arquibancada, te espero lá — sorriu animadamente.

— Certo, até lá — respondi, sorrindo de volta. Provavelmente quase ninguém viria amanhã à escola; guardariam as energias para o sábado.

— Até — ela acenou e seguiu em direção ao carro do irmão.

Atravessei a rua, mas acho que estava tão entretida com meus devaneios que não percebi o semáforo aberto. A única coisa que vi foi uma buzina e meu corpo indo para o chão. Foi uma pancada tão forte que eu mal sentia minha cabeça.

— Ai, minha cabeça — murmurei, colocando a mão na testa.

— Você tá bem? — a voz grossa me despertou, e eu olhei em sua direção. Fitei aqueles belos olhos castanhos… Eu tinha morrido e estava no céu? Não era possível que ele estivesse ali, não mesmo.

— Estou sim, só estou um pouco tonta — respondi, percebendo as pessoas amontoadas tentando entender o que tinha acontecido.

Ele me ajudou a levantar, segurando-me firme para que eu não caísse. Minha cabeça doía, meu tornozelo estava torcido e havia um pequeno corte no meu braço.

— Foi mal, eu não te vi atravessando — disse ele, me segurando. — Mas você devia ter prestado atenção. Quer ir para o hospital?

— Não, não precisa — respondi, e era verdade; por incrível que pareça, eu estava bem.

— Quer uma carona, até em casa?

— Também não, obrigada — agradeci e dei as costas para ele. Por que eu queria tanto vê-lo, mas quando o via, saía correndo? Peguei minha mochila que estava no chão e continuei meu caminho, mancando e reclamando de dor.

Outra vez, vi aquele carro preto parando ao meu lado. O vidro abaixou.

— Entra logo aí, garota! Para de ser teimosa! — Sua voz saiu em tom de ordem.

Eu não tinha escolha. Estava com dores no corpo e minha cabeça prestes a explodir. Abri a porta do carro e entrei.

— Vai me falando o caminho, ok? — disse ele.

— Aham — foi a única coisa que consegui responder.

Fiz de tudo para não olhá-lo, mas foi impossível. Ele era tão lindo… e aqueles olhos… Sem comentários. Balancei a cabeça e olhei a estrada pela janela, tentando controlar o coração acelerado.

— Estou começando a achar que você tem medo de mim, Angel — disse ele, sem me encarar.

— Não tenho medo de você — respondi, tremendo um pouco. — E o que foi fazer lá na escola?

— Meu amigo estuda lá e hoje eu fui buscá-lo para darmos umas voltas — explicou.

Minhas mãos soavam como todas as outras vezes que eu estava com ele; passei-as pela calça tentando disfarçar.

— Entendi — murmurei, sentindo uma pontada fina na cabeça e uma enorme tontura.

— Tem certeza que não quer ir ao hospital? — perguntou ele, sério.

— Tenho… eu tô bem e não quero ir pra lá — falei, passando a mão pela testa.

— Não quer ir pra lá… ou está com medo de ir comigo? — insistiu, fazendo a mesma pergunta sobre medo, mas agora com um tom mais rouco.

— Já disse que não tenho medo de você, é difícil acreditar nisso? — respondi, desviando o olhar.

— Na verdade, sim — disse ele quase em sussurro. — Por que não olha nos meus olhos enquanto falo com você?

Senti um arrepio percorrer meu corpo. O encarei e abri a boca para pronunciar algo, mas foi em vão.

— Eu não mordo, Angel… — disse ele, e juro que vi seu olhar percorrer meu corpo. — Só se você pedir.

Senti meu rosto esquentar e, pra piorar a situação, ele mordeu os lábios. Soltei um suspiro longo e desejei chegar logo em casa.

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