Clara sempre acreditou que amor verdadeiro era sinônimo de lealdade. Melhor amiga de Laura desde a adolescência, ela nunca imaginou que seria capaz de quebrar o pacto invisível entre elas — até conhecer Rafael, o noivo perfeito… da outra. Com o casamento se aproximando, Clara se vê dividida entre a culpa e um sentimento que cresce silencioso, impossível de ignorar. Rafael, por sua vez, tenta manter o controle, mas os olhares entre ele e Clara começam a dizer o que nenhum dos dois tem coragem de admitir. Enquanto as flores do casamento são escolhidas e os votos são ensaiados, Clara carrega um segredo que pode destruir não só uma amizade, mas tudo o que ela acredita sobre si mesma. Entre promessas, silêncios e um desejo proibido, o coração de Clara será posto à prova: vale mais a verdade que machuca… ou o amor que nunca deveria ter acontecido?
Ler maisO vestido branco pendurado na porta parecia zombar de Laura.
Escolhido meses antes com uma mistura de euforia e cuidado, ele representava tudo o que ela acreditava estar construindo. Um casamento de revista, um amor sólido, um futuro previsível. Mas agora, a poucos dias do sim, ele parecia um lembrete frio de que algumas escolhas podem virar prisões. Na sala, as vozes ecoavam em tom festivo. Suas madrinhas riam e brindavam com espumante, sentadas no sofá da sala de estar da casa dos pais de Laura. Entre elas, Gabi. Linda, com a blusa de alças finas e o sorriso largo. A melhor amiga. A confidente. A irmã que a vida lhe deu. — A noiva tá radiante! — gritou uma delas, erguendo a taça. Laura sorriu. Automaticamente. Porque era o que se esperava. Mas por dentro, sentia algo que não conseguia nomear. Não era exatamente medo. Era uma espécie de aperto, uma intuição incômoda que ela tentou ignorar durante semanas. Talvez cansaço. Talvez só nervosismo pré-casamento. Foi quando desceu as escadas que viu a cena que a fez parar por um segundo. Miguel estava encostado à lareira, conversando com o irmão. Alto, bonito, com o olhar firme e sereno. Seu noivo. O homem que prometera amar para sempre. Mas os olhos dele estavam em Gabi. E Gabi… olhava de volta. Foi um instante. Um olhar rápido, mas cheio de silêncio. Um silêncio que gritava. Laura conhecia aqueles dois bem demais. E mesmo que quisesse acreditar que era paranoia, algo dentro dela se acendeu. Um alerta. Um arrepio. Caminhou até Miguel e tocou levemente seu braço. — Amor, pode me ajudar com os docinhos? — Claro — ele respondeu, virando-se imediatamente para ela. Beijou seu rosto com naturalidade. E Gabi apenas sorriu, como se nada tivesse acontecido. Mas Laura viu. Pela primeira vez, ela viu. Aquela noite terminou como qualquer outra noite de festa pré-casamento. Todos foram embora, as luzes da sala foram apagadas e a casa mergulhou em silêncio. Mas Laura continuava desperta. Sentada no sofá, os pés descalços no tapete, olhando fixamente para o vestido pendurado na porta. Deveria estar animada. Dormindo com um sorriso no rosto. Mas a imagem do olhar entre os dois não saía da cabeça. Pegou o celular e abriu o álbum de fotos do noivado. Deslizou até encontrar uma em que Miguel sorria, de terno azul-marinho, em um jardim decorado com flores brancas. Atrás dele, meio desfocada, estava Gabi. E o jeito como ela o olhava… Laura apertou o celular nas mãos. Seria loucura imaginar coisas? Seria apenas a mente pregando peças? Mas, no fundo, ela sabia. Sabia que algo havia mudado. Ou talvez sempre estivesse ali, e ela só agora tivesse notado. O mais assustador não era a dúvida. Era a possibilidade de estar certa. Porque quando você enxerga a rachadura, o castelo todo começa a desmoronar. E o amor da sua vida, às vezes… não é só seu. E por mais que tentasse se convencer de que estava tudo bem, no fundo… Ela sabia. O amor da sua vida talvez não fosse só dela.Miguel estava sentado em uma mesa próxima, a alguns metros de distância. Ele fingia ler uma revista, mas Gabi sabia que ele estava observando cada movimento seu. Seus olhos, quase imperceptíveis, a seguiam com uma intensidade que fazia o ar ao redor dela parecer mais denso, mais carregado. Ela sentia o peso da sua atenção como se fosse uma pressão suave em sua pele, e isso a deixava desconfortável, mas, ao mesmo tempo, ela não conseguia desviar o olhar dele. Algo nele a atraía de uma forma inexplicável, uma curiosidade profunda, uma força magnética que ela não conseguia resistir.A cada segundo, ela sentia como se estivesse sendo lida, exposta diante de algo que ela ainda não compreendia completamente. Ele parecia ver além das máscaras que ela usava, além dos sorrisos forçados, das palavras vazias. Miguel via algo mais em Gabi, e ela sabia disso. O pior era que ele não estava tentando esconder isso. O modo como seus olhos a observavam de longe, com um olhar quase clínico, fazia o cora
Gabi andava em círculos pela casa, como se cada passo fosse uma tentativa desesperada de afastar os pensamentos que a consumiam. A tarde começava a cair, mas o peso em seu peito só parecia crescer. A presença de Miguel ainda estava em cada canto da sua mente, tão viva quanto o calor da sua proximidade. Mas ela não podia se deixar levar. Não agora. Não quando estava tão perto de tudo desmoronar.Ela parou em frente ao espelho, observando a própria imagem. O reflexo mostrava uma Gabi que ela mal reconhecia. Havia uma sombra nos seus olhos, uma inquietação que ela não conseguia esconder. O que estava acontecendo com ela? Como alguém que sempre teve o controle sobre seus sentimentos agora se via perdida, sem saber para onde olhar?O toque suave de uma campainha interrompeu seus pensamentos. Ela se virou rapidamente, o coração pulando no peito. Sabia exatamente quem estava do outro lado da porta. Não importava o quanto tentasse se convencer de que tudo estava bem, o destino parecia estar d
Miguel se manteve ali, perto de Gabi, tão perto que o ar ao redor deles parecia carregado de uma energia invisível, pulsante. Seus olhares se cruzaram mais uma vez, e, dessa vez, não havia palavras. Nada que pudesse ser dito parecia suficiente para expressar o que acontecia entre eles. Mas, naquele instante, os olhos dele falavam por tudo. Gabi podia ver a suavidade no fundo do olhar de Miguel, uma mistura de carinho e algo mais profundo, mais intimista, que ela não sabia identificar. A sensação de ser vista, verdadeiramente vista, quase a fez desviar o olhar, mas não conseguiu. Algo a impelia a ficar.O silêncio entre eles era denso, quase palpável. A brisa suave que passava pelo parque parecia seguir o ritmo da respiração deles, lenta e silenciosa. Gabi sentia o coração acelerar cada vez que Miguel se movia, como se o simples fato de ele estar ali, ao seu lado, fosse um convite para algo que ela não podia aceitar.Ela apertou os dedos contra a barra do casaco, sentindo a tensão que
O dia parecia ter parado para Gabi, como se o mundo tivesse desacelerado só para deixá-la viver o caos dentro de si. O café estava frio quando ela o tocou nos lábios, e o cheiro que antes era acolhedor agora parecia distante, irrelevante. Laura havia saído para o trabalho, deixando-a sozinha com seus pensamentos, e isso, de algum modo, piorava as coisas. Gabi não queria estar sozinha, mas também não queria ninguém perto.O celular na mesa parecia um peso, como se ela soubesse que, a qualquer momento, poderia vibrar e trazer mais um fardo para seu coração já dilacerado. Mas nada aconteceu. As mensagens não chegavam. Ela olhou para a tela, fixando os olhos na foto de Miguel com Laura. Eles estavam sorrindo, tão felizes, tão seguros, e ela se sentiu como uma estranha naquela cena que nunca deveria ter feito parte.Ela se levantou do sofá, andando pela casa vazia, os passos ecoando no silêncio que a consumia. Foi até a janela e olhou para a rua lá fora. As pessoas passavam apressadas, com
O sol da manhã se infiltrava pelas cortinas da sala de estar, criando sombras suaves no chão. Gabi se sentou no sofá, abraçando as pernas contra o peito. O silêncio da casa parecia mais pesado do que nunca. Laura estava na cozinha, preparando o café da manhã como sempre fazia quando os pais estavam fora. O aroma do café recém-feito preenchia o ar, mas Gabi mal conseguia sentir o cheiro. O que ela sentia, na verdade, era uma espécie de vazio dentro de si mesma, como se uma parte dela estivesse se perdendo. Ela tentou ignorar o tumulto que a consumia. Olhou para o celular, tentando se distrair, mas nada parecia funcionar. As mensagens não tinham mais o mesmo brilho. As conversas com Laura, que antes eram uma fonte de conforto, agora a deixavam inquieta. Cada palavra dita entre elas parecia pesada, como se o destino delas já estivesse escrito, e o que fosse acontecer não tivesse mais jeito. Miguel não a havia procurado desde a noite no bar, mas Gabi sabia que ele pensava nela. Ele tamb
O café da manhã tinha cheiro de bolo de laranja e pão na chapa. Gabi mexia a colher no copo sem açúcar como quem tentava dissolver o que sentia. Na varanda, Laura falava animadamente com os pais sobre a reforma da casa nova. Miguel ouvia, com aquele ar tranquilo de sempre, e dava um palpite aqui e ali, como se pertencesse àquela família desde sempre. E talvez pertencesse mesmo. Talvez aquele fosse o lugar dele. Não com ela.Gabi desviava o olhar sempre que ele falava. Sentia um desconforto estranho no peito, como se estivesse sentada sobre cacos de vidro. Era culpa, ela sabia. Mas também era um outro sentimento que não queria nomear.— Você tá calada hoje — Laura comentou, sentando-se ao lado de Gabi com um pedaço de bolo na mão. — Tá com sono?Gabi deu um sorriso rápido.— Dormi mal, só isso.— Eu também. Miguel ronca — brincou a amiga, rindo.Gabi forçou outra risada. O nome dele soava pesado agora. Ela odiava isso. Odiava o quanto ele ocupava seus pensamentos, o quanto um gesto ou
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