O QUE NUNCA FOI DITO

Gabi se olhou no espelho do banheiro da casa dos pais de Laura e respirou fundo.

O batom estava intacto, o delineado impecável. Mas os olhos… ah, os olhos a entregavam. Havia algo neles que nem toda maquiagem do mundo poderia esconder. Culpa, talvez. Desejo, com certeza. E uma confusão tão profunda que nem ela sabia mais onde terminava a lealdade e começava a ruína.

Ela passou a mão pelo pescoço, tentando aliviar a tensão. O ar ali parecia denso, como se cada parede da casa soubesse do que ela vinha Gabi se olhou no espelho do banheiro da casa dos pais de Laura e respirou fundo. O batom estava intacto, o delineado impecável. Mas os olhos… ah, os olhos a entregavam. Havia algo neles que nem toda maquiagem do mundo poderia esconder. Culpa, talvez. Desejo, com certeza. E uma confusão tão profunda que nem ela sabia mais onde terminava a lealdade e começava a ruína.

Ela passou a mão pelo pescoço, tentando aliviar a tensão. O ar ali parecia denso, como se cada parede da casa soubesse do que ela vinha escondendo até de si mesma. O que começou como uma faísca despretensiosa, um carinho no olhar, uma piada dividida a mais, havia crescido em silêncio — como erva daninha sob a superfície. Agora era quase impossível ignorar.

Miguel.

Ela nunca quis. Nunca planejou. Mas ele era… diferente. E, talvez, no fundo, era exatamente por isso que o desejava tanto. Ele era o homem perfeito. Só que não era dela.

Era de Laura.

A melhor amiga. Aquela que lhe deu abrigo quando seus pais brigavam, que dividia a cama nas noites de medo, que segurou sua mão quando Gabi perdeu o primeiro amor. E agora… agora ela estava apaixonada pelo noivo dela.

Gabi fechou os olhos com força. Queria odiar a si mesma, mas só conseguia lembrar do olhar de Miguel naquela noite no bar, meses atrás, quando a acompanhou até o carro de Laura.

— Você é sempre a primeira a perceber quando ela está triste — ele disse, com um sorriso contido.

— E você é sempre o último — ela respondeu.

Ele riu, e foi ali que tudo começou. Um riso compartilhado que durou um segundo a mais. Um toque no braço que ficou tempo demais. Um silêncio entre os dois que nunca foi preenchido com palavras.

Desde então, tentaram ignorar. Fingir. Mas Gabi sabia: aquele olhar mais cedo, na sala, tinha sido real. Miguel a olhou como um homem que se esqueceu por um instante de onde estava — e com quem estava.

E Laura… Laura percebeu.

Gabi viu a tensão no ombro da amiga, o jeito como ela interrompeu a conversa para tocá-lo, como se quisesse puxá-lo de volta para si. Gabi reconheceu o gesto. Era o instinto de quem sente que está prestes a perder o que ama.

Ela se odiava por aquilo.

Saiu do banheiro e cruzou o corredor com passos firmes, decidida a agir como sempre: a amiga leal, divertida, que jamais cruzaria a linha. Mas cada vez que Miguel passava perto demais, cada vez que seus olhares se encontravam, a linha parecia menos nítida.

Naquela noite, deitada em sua cama, Gabi chorou em silêncio. Porque não era só desejo. Ela sentia falta dele mesmo quando ele ainda era de outra. Porque Miguel não era uma aventura. Era um perigo real. Um risco que tinha gosto de lar.

O medo de perder sua amizade com Laura parecia pequeno diante da urgência de seu coração. Ela não sabia como lidar com isso. Ela não queria ser a vilã da própria história, mas cada vez que Miguel sorria para ela, cada vez que suas mãos se tocavam acidentalmente, ela sentia uma chama acender dentro de si. Algo que ela nunca soubera que existia, mas que agora parecia impossível de apagar.

E quanto mais tentava fugir do que sentia, mais o sentimento crescia dentro dela. Como se fosse uma sombra que a seguia, que a observava em silêncio. Era quase sufocante. Como uma prisão invisível que a prendia sem que ninguém soubesse.

O pior de tudo era que, a cada gesto de Laura em direção a Miguel, Gabi sentia um nó na garganta. Porque, ao mesmo tempo que queria que ela fosse feliz, queria, de uma forma egoísta, que ela não fosse. Queria que fosse ela, Gabi, quem recebesse os olhares carinhosos de Miguel, quem tivesse o toque dele, quem fosse a escolhida.

Ela não sabia mais quem era. Não sabia mais onde começava a amiga leal e onde terminava a mulher que agora, sem querer, ansiava por algo que não lhe pertencia. E, em silêncio, ela se perguntava se algum dia conseguiria ser apenas a melhor amiga de Laura novamente. Ou se, a partir daquele momento, ela seria a culpada por tudo que estava prestes a se perder.

Porque, no fundo, ela sabia: quando o desejo não foi dito, ele tinha o poder de destruir tudo.

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