Parei em frente a parede de vidro do prédio e me perdi nos meus pensamentos enquanto os meus olhos analisavam a cidade. Os carros lá embaixo se moviam como formigas em fila. Nenhum deles sabia da guerra que estava prestes a começar dentro do Grupo Ayra.
Respirei fundo. Eu não podia demonstrar fraqueza. Se Ana quisesse guerra, teria.
No elevador, o silêncio me sufocava. O rosto dos diretores voltava à minha mente: alguns com pena, outros com dúvida, alguns até com um brilho de expectativa. Eles adoravam ver guerra corporativa. Era entretenimento para quem passava a vida preso em números.
Deixei o prédio e o vento da manhã bateu no meu rosto. Peguei o celular e disparei uma mensagem curta para minha assistente:
“Reúna todos os relatórios do Grupo Santos. Quero na minha mesa em uma hora.”
Guardei o telefone e sorri de leve. Se eu tinha apenas uma chance, iria usá-la.
Naquela mesma noite, soube que Ana não perdeu tempo.
Marcelo. Só de ouvir o nome, meu estômago embrulhava. Meu ex-noivo, o homem que eu tinha deixado no passado. Agora, estava de volta, sentado ao lado dela em um restaurante luxuoso, segundo um dos meus informantes.
Não era coincidência.
Dois dias depois, a prova apareceu diante de mim. Eu estava na cafeteria da empresa quando ouvi vozes baixas atrás de mim.
— Você tem certeza disso? — era a voz dele. Eu reconheceria em qualquer lugar. Marcelo.
Virei discretamente o rosto. Lá estava ele, sentado de frente para Ana, com aquele mesmo sorriso cínico de sempre. O tempo não tinha apagado nada: ainda era o mesmo homem ambicioso, capaz de vender a alma pelo próximo degrau.
— Absoluta — respondeu Ana, mexendo a colher no café. — Joana está vulnerável. Ela não tem aliados, só arrogância.
Meu sangue ferveu.
Marcelo inclinou-se sobre a mesa. — E o contrato com os Santos?
Ana suspirou, como se fosse uma atriz ensaiada. — Cabe a você. Sei que ainda tem contatos naquela família. Use-os. Se me ajudar a fechar o acordo, prometo que você terá seu lugar no Grupo Ayra.
Meu coração batia tão forte que eu podia ouvir as batidas com meu ouvido. Ana jogando sujo, Marcelo me traindo pela segunda vez. Eu deveria ter me levantado, enfrentado os dois ali mesmo. Mas não. Permaneci imóvel, fingindo não ouvir.
Porque naquele momento, mais do que raiva, eu senti algo melhor: estratégia.
De volta ao meu escritório, me tranquei com os relatórios. O relógio marcava quase meia-noite quando percebi que ainda estava ali, a luz do abajur iluminando páginas e mais páginas. O Grupo Santos não era apenas um contrato. Era a salvação. E eu precisava saber tudo sobre eles — cada número, cada vulnerabilidade, cada interesse.
Zain apareceu na porta, como uma sombra que atravessa o silêncio.
— Você ainda está aqui? — perguntou.
Levantei os olhos. — Trabalho não espera.
Ele entrou devagar, parou diante da mesa. — Não parece apenas trabalho. Parece uma guerra.
— É exatamente isso. — Apoiei o queixo nas mãos. — Uma guerra contra minha irmã.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, me observando. — E você está pronta para isso?
Ri, amarga. — Não tenho escolha.
Zain se aproximou, encostou as mãos na beirada da mesa. O olhar dele era diferente daquela primeira noite. Não havia apenas desejo, havia algo mais… como se ele realmente entendesse a batalha que eu enfrentava.
— Então lute. — A voz dele foi firme. — Mas não lute sozinha.
Arqueei a sobrancelha. — Você está se oferecendo como meu aliado?
Ele deu um meio sorriso. — Estou dizendo que ninguém vence um império sem soldados.
Meu coração acelerou. Parte de mim queria confiar nele, mas outra parte gritava para manter distância. Ainda assim, sua presença me acalmava, mas ao mesmo tempo despertava algo que eu não sabia controlar.
Suspirei e fechei os relatórios. — Amanhã começamos de verdade.
Zain inclinou a cabeça. — Amanhã, então.
Quando ele saiu, fiquei encarando a porta fechada. A aposta estava feita, os inimigos já se moviam.
E eu? Eu estava pronta para sangrar se fosse preciso.
O contrato com o Grupo Santos seria meu. Nem Ana, nem Marcelo, nem ninguém iria me parar.