Priscila Barcella
O aperto no peito não era só uma emoção difusa. Era físico. Real. Como se uma mão invisível comprimisse meu coração, me roubando o ar aos poucos.
Meus olhos correram até Nina, que dormia tranquila no carrinho, alheia ao terremoto silencioso que se desenrolava ao seu redor. Seus cílios longos descansavam sobre as bochechas coradas, o peitinho subia e descia suavemente com a respiração calma de um bebê que não conhece o peso dos segredos que rondam sua história.
Depois, olhei para Eduardo. O olhar dele não era apenas curioso ou educado. Havia algo mais — um brilho antigo, instintivo, quase animal. Era como se seu corpo, sem permissão consciente, reconhecesse a vida que um dia ele pode ter gerado. Um fio invisível parecia ligar seu peito ao da minha filha.
Engoli seco.
Cada passo que dei até eles foi medido, contido, mas sem hesitação. Meu vestido leve balançava com a brisa, mas meu interior era um redemoinho em ebulição.
Isabel ergueu os olhos assim que me viu.